Lembranças eternas
Lembranças Eternas
Virei àquela esquina. Tinha uma lágrima no olhar e muita dor no coração. Sei que em minha vida vou virar muitas esquinas, mas elas me serão indiferentes. Aquela esquina, no entanto, traz-me a lembrança de minha infância, da brincadeira de pique-esconde e do passeio de bicicleta à tardinha, a voz de minha mãe chamando-me para entrar porque já estava tarde, e, eu, ansiosa, pela chegada de meu pai do trabalho.
Viro o rosto novamente para a esquina e para as lembranças. Avisto meu pai chegando, trazendo o pão quentinho para o nossso jantar. Fico mais triste porque não posso correr para abraçá-lo. Somente lembranças de um tempo que não voltará jamais. Não me envergonho de soluçar baixinho. Eu não tenho medo de emoções, nem tenho medo de dizer que a razão não encontra campo fértil no meu ser.
Há algumas crianças brincando na esquina debaixo de uma árvore que o tempo não conseguiu destruir, pelo contrário deixou-a mais frondosa para acolher as pessoas que ali transitam, buscando um abrigo. Talvez, as pessoas não lhe conheçam o seu significado e sua história.
As casas antigas não existem mais. O progresso lá chegou e deu lugar a construções modernas, tirando o encanto daquele lugar. Este progresso fez nascer a separação entre as crianças que tentam brincar naquela rua e as crianças moradoras de prédios exuberantes, que, sem querer, tornam-se diferentes aos olhos das demais.
Toda a minha infância está desenhada na minha mente e no meu espírito. Sinto pena das crianças aprisionadas em seus condomínios, em seus prédios luxuosos que não podem ir àquela rua empinar seus papagaios, brincar de bandeira, de não ter a liberdade de viver a vida de criança.
Já começo a afastar-me. Viro novamente o rosto, e a esquina vai ficando mais longe e minhas lembranças mais presentes. Já não ouço mais a voz de mimha mãe a chamar-me, nem meu pai caminha lento com o pão quentinho para o jantar.
A ausência se faz mais presente e deixo rolar a lágrima da saudade.