Memórias Póstumas de Edgar Allan Poe
Baseado nas minhas obras literárias e biografia inicio aqui as minhas memórias póstumas.
Para os leitores que me conhecem ou para aqueles que virão me conhecer através desse conto, muito prazer, o meu nome é Edgar (Allan) Poe Júnior, nasci em Boston, em 19 de janeiro de 1809, filho de pobres atores Davi Poe Júnior e Elizabeth Arnold Poe. Eu tive dois irmãos William Henry Leonard, que nasceu em 30 de Janeiro de 1807, foi criado pelos meus avós Elizabeth Cairnes e David Poe, em Baltimore. E Rosalie (Mackenzie) Poe, nasceu em dezembro de 1810, não sabemos o que aconteceu com o meu pai, se ele morreu ou nos abandonou, após o falecimento de minha mãe em 08 de dezembro de 1811, fui levado para a casa dos Allan e Rosalie foi criada pelos Mackenzie, em Richmond.
Estudei nas melhores escolas de Londres e Estados Unidos e apenas com dezesseis anos ingressei na Universidade de Virgínia, mas tive que trancar a matrícula, por causa da bebida e dos jogos. Rompi com meu pai adotivo e fui para Boston onde editei meu primeiro livro “Tamerlão e Outros Poemas”. Para sobreviver alistei-me no Exército dos Estados Unidos, em 26 de maio de 1827, com o nome de Edgar A. Perry. A minha mãe de criação Frances Allan morreu aos 28 dias de fevereiro, no ano de 1829, sofri muito por essa perda.
Fui morar com minha tia Marie Poe Clemm que era irmã de meu pai biológico, minha prima Virgínia Clemm e meu irmão William Henry Leonard Poe. A obra “Al Aaraaf, Tamerlão e Poemas Menores”, foi publicada em 1829.
Consegui ingressar como cadete na Academia Militar de West Point, mas não fiquei muito tempo na corporação, pois fui expulso por desobediência e regressei para a casa da minha tia Marie Clemm. Publiquei meu terceiro volume de poemas “Poemas, Segunda Edição”. Meu irmão William Henry faleceu em 1º de agosto de 1831, em Baltimore.
Dediquei-me à prosa, escrevendo contos.
Meu pai de criação morreu em 1834 e não me deixou nada em seu testamento.
Tornei-me redator do Mensageiro Literário do Sul, e escrevia contos, alguns poemas e numerosas críticas literárias. Casei-me secretamente com minha prima Virgínia aos 24 dias de setembro de 1835, menor de 14 anos, porém em 16 de maio de 1836, numa segunda cerimônia, casei-me novamente com Virgínia, agora sem segredos.
Foi publicado meu romance “A Narrativa de Artur Gordon Pym”, em 1838.
Tornei-me redator e crítico do Gentleman’s Magazine, de Filadélfia. No mês de dezembro de 1839, apareceu em dois volumes, minha coletânea de contos, com o título “Contos do Grotesco e do Arabesco”, datado de 1840. Passei a trabalhar na redação do Graham’s Magazine, de Filadélfia e publiquei meus contos policiais “Os Crimes da Rua Morgue” e “O Mistério de Maria Roget”.
Publiquei no Dollar Newspaper meu conto “O Escaravelho de Ouro”. Mudei-me com a minha esposa gravemente doente para Nova York, para conseguir recursos publiquei no New York Sun, a minha “Balela do Balão”. Completei meu poema “O Corvo”, passei a escrever para o Espelho da Tarde e voltei a morar no centro de Nova York. Publiquei em janeiro de 1845, anonimamente, no Espelho da Tarde meu poema “O Corvo”. Foi republicado, em 08 de fevereiro agora com o meu nome.
Publiquei no Godey’s Lady’s Book uma série de artigos contra os literatos de Nova York, em 1846. Com o estado de saúde de Virgínia piorando, mudei-me para uma pequena casa de campo em Fordham, Nova York.
Virgínia veio a falecer aos 30 dias de janeiro de 1847, e em dezembro foi publicado meu poema “Ulalume”, na American Whig Review.
Publiquei meu ensaio filosófico “Eureka”, em 1848. Fiz conferências em várias cidades. Pedi a Sra. Whitman em casamento. Tentei me envenenar com láudano. Tive crises de alcoolismo. Ataque de paralisia facial. Desfiz meu noivado com a Sra. Whitman e em julho foi publicado em La Liberté de Penser, meu primeiro conto “Revelação Magnética”, traduzido por Baudelaire.
Procurei reagir ao alcoolismo, fiz conferências em Richmond e Norfolk. Reencontrei viúva a minha antiga namorada Sara Elmira Royster, a pedi em casamento, embora confessasse que estivesse apaixonado pela Sra. Annie Richmond. Marcamos o casamento para 17 de outubro de 1849 e parti para Nova York. Em Baltimore, fui vítima de cabos eleitorais, suspeito que eles me embebedaram com licor misturado às drogas e me fizeram votar. No dia 3 de outubro fui encontrado pelo meu amigo Dr. James E Snodgrass, em horrível estado, numa taberna da Rua Lombard. Fui levado inconsciente para o Hospital Washington e fiquei sob os cuidados do Dr. J.J. Moran. Foram vários dias de delírio, chamava desesperadamente por "Reynolds".
Embora Reynolds não tenha entrado na minha história em vida, ele entrou nas poucas horas que me restavam. Aliás, ele sempre esteve presente em minha vida, eu que nunca dei atenção. Era o meu mentor espiritual.
Quando arrancaram a minha roupa e a colocaram do avesso, não me recordo bem se trocaram a minha roupa ou a colocaram do avesso. Nessa hora já estava dopado. Sei que eles me matariam se Reynolds não tivesse aparecido. Se não fosse a ajuda dele, eu teria morrido ali mesmo e meu amigo me encontraria morto.
Lembro que ele surgiu do nada, com a roupa toda branca como se fosse um anjo, junto com ele estavam vários querubins. Não lembro de quando peguei uma Bíblia na mão ou fui à Igreja, mas a mão de Deus foi maior.
E quando estava inconsciente passara tudo o que fiz na minha vida. Meus erros: beber, jogar, romper a relação com o meu pai adotivo, não estar ao lado da minha adotiva no seu leito de morte, não ter dado a devida atenção ao meu irmão William, não ser tão presente na vida de minha Rosalie que faleceu depois da minha morte, no ano de 1874. Meus acertos: ficar ao lado da minha mãe biológica até a morte dela, escrever minhas angústias, sempre acreditei que era uma maneira de desabafar a minha crise existencial. E as fatalidades que foi perder as mulheres que eu mais amava: minha mãe biológica, meu irmão William Henry, minha mãe adotiva, minha querida esposa Virgínia, minha doce Virgínia, a Sra. Annie Richmond que não veio a falecer, mas havia outro homem em sua vida, que não gosto nem de pronunciar o nome, começa com a letra R. e por fim não ter me casado com Sara Elmira Royter, pois na adolescência, ficamos noivos secretamente. Seus pais vieram saber pelas cartas que trocavamos, pois nessa época estávamos distantes. Eu estava na Universidade de Virgínia. Os pais dela obrigou o rompimento do nosso noivado, porque meu pai adotivo havia me deserdado. E como a vida é um círculo e as pessoas sempre se encontram mesmo que não queiram, acabei reencontrando-a agora viúva. Acredito que seríamos felizes juntos, mas o destino assim não quis. E assim o meu poema “O Corvo” teria um final diferente, ao invés dele dizer Nunca Mais, ele diria Para Sempre.
Reynolds, meu anjo Reynolds, lutou demasiadamente pela minha vida, e permaneceu comigo até eu ser retirado desse mundo. Ao desencarnar, ele me amparou, segurou em minhas mãos e disse:
“Deus receberá a sua alma e dela cuidará”.
Na manhã de domingo, precisamente no dia 7 de outubro de 1849, as minhas últimas palavras foram: “Senhor, ajudai minha pobre alma”.
E assim minha vida cessara da mesma maneira que viera ao mundo, na miséria e de forma trágica.
Publicada na Antologia Poe 200 anos.
Organizador: Ademir Pascale.