As dores de Claudiomiro
Claudiomiro tinha dores. A sensação desagradável que percorria seu ser variava entre o desconforto e o excruciante. Preferia o excruciante porque chamava a atenção dos outros, pois uma "dor excruciante" era algo... excruciante! As dores de Claudiomiro passavam por diversas fases, a pior delas e que ninguém podia ajudá-lo - aliás, em nenhuma fase ele podia ser ajudado - era a fase destrutiva. Queria quebrar tudo ao seu redor e, no entanto a única coisa que conseguia era mais dores, e elas eram muito mais que excruciantes, elas eram insuportáveis. Seus companheiros já nem ligavam mais para as reações quase poéticas de Claudiomiro quando sentia suas dores referidas. Dizia que doía num lugar e o problema era noutro. Fazia versos e prosas enaltecendo as dores de sua alma para calar logo em seguida na sofreguidão de nunca ter tido uma mulher; e nessas horas seus companheiros riam dele no deboche comum dos homens que levam o fora da menina mais bonita da festa. Calavam em seguida e no silêncio da noite sepulcral cada um imergia em suas dores mais íntimas e eternas, fazendo coro a Claudiomiro no uivar das almas penadas.
-Contos de um parágrafo - Exercício proposto em curso que fiz. São um total de 8. Cujos temas: Areia, tempo, dor e espelho seguem aos poucos no Recanto.