Viagens ilusórias
Logo quando cheguei do trabalho, ao adentrar minha residência, me vi tomado de um absoluto cansaço, não consegui mais ver nada a minha volta. Fiquei ali no sofá quase cochilando e assim dessa mesma maneira permaneci com a mente vazia.
A única coisa que podia sentir em meu corpo, era minha cabeça que doía sem parar, o resto de mim parecia como que dormente. Derrepente aconteceu algo estranho, senti o sofá tremer, parecia como se fosse um terremoto, mas logo parou e pude observar que não se tratava de um abalo sísmico, era algo muito mais difícil para mim, um cético de carteirinha acreditar no que estava acontecendo.
Não conseguia me mexer, era como se estivesse apenas em pensamento nesse lugar. Agora podia ver como era bonita minha cidade, daqui de cima do sofá flutuando no ar.
No estádio de futebol estava acontecendo um jogo e parecia se uma partida importante, pois estavam completamente tomadas às arquibancadas por torcedores, com seus instrumentos, suas bandeiras gritos de guerra.
Em poucos segundos eu já podia ver daqui de cima os grandes edifícios, que pareciam pequenos, só pude notar que não se tratava de simples miniaturas porque estava tocando as nuvens e sabia de onde estava tudo parecia minúsculo.
Aqui estava muito silencioso, apenas podia sentir o frescor do vento que passava suavemente por meu corpo. A velocidade do meu vôo nesse transporte nada convencional era pequena. Pude ter prova disso, quando cortou o ar com uma velocidade meteórica, um avião, passou rasante, quase a sua asa direita derrubou-me aqui de cima.
Nesse momento percebi que tinha movimentos no corpo e minha primeira ação foi me agarrar ao sofá, ele se inclinou para o solo e começou a declinar. Um frio na barriga veio de imediato.
- Meu Deus, socorro. Disse eu naquele momento.
Até fiquei assustado comigo mesmo, como poderia eu acreditar em algo como um ser supremo sem nunca o ter visto. Foi aí que uma voz me disse algo:
- Estou aqui, por que você me chamou meu amigo? Fale.
Não queria responder, pois ainda não conseguia ver nada, mas na situação que eu estava não tinha muita escolha, o encontro com o solo estava cada vez mais próximo.
- Por favor, pare essa droga de sofá. Gritei
- Como você pediu vai acontecer. Respondeu a voz.
Despertei com um sol terrível em minha cara, levantei sai correndo, essa areia estava muito quente, parecia com o inferno em chamas.
Consegui encontrar uma sombra, debaixo dela fiquei. Não soube decifrar bem o que era aquilo, mas estava me protegendo do sol. Com algum tempo começou a ventar forte e pingos d água começaram a cair ao solo e aquele local onde estava começou a se inundar de água.
Olhei para todos os lados e só tinha água, compreendi que esse lugar era uma ilha, porém já estava em extinção, pois a parte que era terra firme começou a desaparecer rapidamente.
Quando o fim parecia próximo, mais uma vez o sofá apareceu. Tinha agora uma cobertura protegendo da chuva. Dessa vez não precisei recorrer à voz.
Adormeci de novo e despertei no meio da escuridão, o medo me tomou por completo e percebi aquilo estava ficando fora de controle. Não sabia de mais nada. Queria retornar para minha casa e retomar minha vida.
. Lembrei-me daquela voz e comecei a chama – lá de novo:
- Socorro preciso de ajuda. Não conseguia nenhuma resposta, foram inúteis meus gritos.
Olhei para a escuridão e consegui ver uma luz distante, não conseguia decifrar ainda o que era. O meu sofá começou a afundar e senti o gelado da água, não tive tempo de pensar, comecei a nadar sem parar, mesmo exausto, prosseguia em busca daquela luz.
Então a voz começou a falar:
- Acorde, volte à realidade vamos você está bem.
De súbito acordei e vi que não estava só, aquele lugar era para mim familiar. Fui vendo a escrivaninha, os quadros, à cortina marrom e o susto foi grande.
Agora, depois de ter acordado, vi daqui do sofá o rosto do meu psicanalista e aquela voz que saia da sua boca.
Que bom pensei, tudo isso não passava de um transe diante desse meu analista. Agora o que podia fazer eu. Via-me sem jeito nenhum, ter que voltar para aquela realidade que era minha vida amarga e sem nenhuma novidade.
Para mim, mesmo aterrorizante, aquela viagem em sonho foi a única coisa emocionante que vivi até hoje.