Desparagrafando

Desparagrafando

Fechou o romance no final e olhou a página vazia ... Ouviu as personagens e viu as cenas de aventuras acontecerem de novo

O mar bravio jogava as águas ao alto, céu e mar eram um só. Minha vida seria no depois ausente. Estava no oceano aberto, em um pequeno barco, que a qualquer momento se despedaçaria e eu seria um náufrago entregue as profundezas do desconhecido. Restava segurar o remo e esperar o parágrafo.

Amarrado no interior de um casarão em chamas, não poderia pensar em mais nada, senão rezar para expirar. Tudo queimava. A quentura. O vermelho assaltava as visões tremidas. A fumaça sufocante. O cheiro de queimado. Era mais uma vez o fim. Outro parágrafo.

Homens loucos gritavam e se atiravam da torre, uma mulher branca, deitada em uma cama tosca, chorava silenciosamente. Não haveria solução. O castelo seria bombardeado pelo inimigo que já estava em frente. A mulher olhava fixamente para o teto, estava amarrada na cama, aproximei-me e a libertei das cordas. O castelo tremeu, as paredes caíram sobre o piso, que descia fragmentado. Ela me olhou e me mostrou o parágrafo.

No céu estrelado havia duas luas, todos estavam a olhá-las, a praça estava cheia. A multidão se empurrava, se pisava e se exprimia. Rezas de toda natureza e credo. O mundo se despedia da existência. A multidão se matava. Gritarias. Clemências. Noite final. Animais, plantas, pedras, era o fim. De repente, eu estava ali, no meio do caos. Eu sabia da destruição, do final. Eu sabia da noite. Sabia da fuga. Não temia. Olhava os rostos pavorosos. O pânico da razão. Eu tinha certeza somente de uma coisa. Coisa que tardava. Meu peito apertado. Uma dor fina em meu corpo frio. Tardava... A noite era minha também. As luas se chocaram e o céu era uma fogueira. A mulher branca surgiu, me abraçou e perguntou se haveria parágrafo. Corpos se empilhavam. As avenidas urbanas, verdadeiras praças de guerras, se enchiam de cadáveres. Fechei os olhos. Meu coração acelerado corria por todo meu abdômen. Calor e frio se apoderaram de mim. Página vazia. Tudo rodava. O mar no céu. O céu no fogo. A fumaça nos gritos e nos medos. O fim. O abraço da morte, da mulher branca, da noite, meu corpo ardia. O pavor se queimava. Não houve ... parágrafo.

Domus
Enviado por Domus em 19/08/2010
Código do texto: T2446974