FANTASIA DOS FANTÁSTICOS
(dedicado à "Cabeça de Corvo", de Alphonsus de Guimaraens)


Sons difusos pela cabeça,músicas gravadas em mim,repetidos ecos que não querem ir embora....
Se vai a hora.
Não quero que anoiteça
Sopranos gritam no meio da rua sons silenciosos.Voz dos Absurdos.
Anoiteceu,e tudo que aconteceu foi solidão,que transmutou-se em som...

Rua de um lugar longínquo,invernal
Friagem,umidade,noite,lama.
Pés na Lama,solidão infernal.
As pessoas todas estão mortas.
A solidão não é solidária comigo.
As pessoas estão todas mortas.
Eu.
Mais ninguém vem..."Alguém?"

Alguém vem chegando com pés fundos na lama do lugar.
Nela,vejo sons de solidão.Ecos,Ecos.
Nela ,vejo frio e umidade de lágrimas.
Vejo nela a escuridão..e luz no fim!
Quase morta-apagada,porém luz.
Vem vindo pela trilha,milha à milha,úmida e escura do chão de lama
Vem vindo vestindo a noite...

Sons difusos,tortura,ecos mil.
Sopranos sopram sons fantasmagóricos na beira da estrada.
Vem vindo vestindo a noite.

O Sol saiu e até agora não chegou:O frio permaneceu intacto.
A Lama engole a casa gris.
Estou lá dentro.Esse o dia menos dia já visto.
A noite vem severa;
O frio vem.Sereno.
Lá vem aquele alguém cheio de escuridão e luz.
Abraça o próprio corpo.Aquece o próprio frio.Era dia.
Mas vem vindo vestindo a noite.

Ao longe,em um zoom esperançoso,meus olhos engolem esse eterno slowmotion preto e branco e triste.
Meus olhos engolem e quase gritam.
(O grito não sai!Altos gritos surdos-mudos)
Sopranos sopram sons de solidões em Megatons.
Abafam meus gritos,nossos gritos de SOS.
Vem vindo vestindo a noite.

A Lama veste a trilha por inteiro.
A vegetação fecha-se,a trilha extingue-se.
A Lama cobre a casa.Crescem nossos desesperos!
O mato cobre o Velho Mundo.Morrem nossos gritos mudos...
E aí,nos perdemos de vista...

O mato,a lama e frio sequestram-me,fecham-me.
Sopranos sopram ventos solitários na meio da Lua.
Lunáticas na Lua.Voz dos Absurdos.
O alguém não vejo mais.
Choro dentro da casa,na cama.
A cama é lugar frio.
A Lama cobre a cama,
e me engole.

Outro dia.
Penso ser o final,mas finalmente bate o Sol.
Penso ser o final,mas um ser bate à porta!
E Entra.Já havia sido convidado à milênios.
Vis-à-vis
As solidões se reconhecem:
Me arrebenta com beijos gélidos;
O sangro com desesperos áridos;
Quadro em preto e branco dançam,giram e caem no chão,num baque!
Me abate,ouço sons ,batuques.
Sons bons,quadros policromáticos,corações.
Sons,batuques.

Usa truques de alguém também sozinho e tangido por estrepes do caminho.
Triste e cheio de sons monocromáticos para explodir-lhe a cabeça.
Recupera-se dos tempos de solitude.
Agora tudo é cor,saúde.
Sons que não torturam mais.
Vibratos de tesão.The Cramberries,Linger.
Doces canibais.

Os seres no chão,mão que mata fazendo viver,
que aperta e esmaga num impacto...deixando intacto!
Solidão indo,aos poucos se esvaindo.
Gemidos baixos,sumidos,contidos...
Choro,ruído de qualquer coisa boa
que implora pela "boa coisa" desde suas gêneses.
estupro consentido e mútuo.Emocionado.
O luto foi massacrado.

Os seres transam cores entre sí: Opalas Magnéticas.
As cores foram criadas por eles.
O preto tá cinza agora tá branco que é o amarelo do sol...que morre novamente.Surpreendentemente...

***
Quando a manhã chega,abre meus olhos.
Novamente vazio.Novamente o Velho Mundo.
Percepção de que tudo foi uma ilusão quase simbolista.
Mis-en-céne imaginária dos sonhos;Fantasia dos Fantásticos;
Mentira!

O preto realmente habita:Nos ternos executivos que pisam duros no asfalto.Não há lama.
Sopranos cantam por aí;contraltos e outras vozes também:No conservatório ali em frente ao fast-food multinacional.
Não há sons fantasmagóricos.
Milhares de pessoas,aos borbotões, saem pelos ladrões;Estão em becos,carros,cantos,puteiros.Sensação térmica:Quarenta graus positivos!

Esta casa não está isolada.encontra-se entre o 7º e o 9º andar de outras pessoas.
Não é gris,nem enlameada.
É só mais um prédio indefeso,cheio de gente.
E sozinho.

"Há muita gente nessa rua
Muita gente nessa rua!
Mas minha solidão está aqui."

-Não há ninguém me amando aqui...

"A fumaça veste a lua.
A fumaça suja a rua.
Mas, é verdade que a solidão está aqui."

-Entre o 7º e o 9º andar...

***
Sons difusos,retornam a cabeça.
Buzinas e anúncios repetidos,ecos que não querem ir embora.
Lá vai a hora.
"Eu ainda espero que não anoiteça...
Tem muita gente nessa rua!
Muita gente nessa rua!
Mas,não há ninguém chegando!Ninguém me amando entre o 7º e o 9º andar..."

ecosbuzinassonsanúnciostiros incessantes!
TORTURA! CLAUSURA! "Alguém?"
Ecos,ecos...SOS!!! "Ninguém?"
Não há ninguém chegando aqui?
"Não.Não há ninguém chegando aqui!"

***

Rumo à redenção,a Solidão se joga do alto do seu precipício escuro...
Silêncio e Paz.
Derradeira hora.

Pedaços de Solidão nas calçadas.
Muitas pessoas estão chegando agora:
Chocadas.






Imagens:Google...(Solidão by Victor Moriyama)
Bú Martins
Enviado por Bú Martins em 12/08/2010
Reeditado em 12/08/2010
Código do texto: T2432780
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