Pelos confins do Tempo
Eram cantos sonoros, ritmos calmos e envolventes. Muitas sacerdotisas estavam presentes, todas em euforia.
Ela, com longos cabelos, aquarelados em marrom virginal, as flores da coroa clara e reluzente, desnudava lhe a face, jovem e lindamente surreal.
As vestes alvas e revoltas ao vento eram longas, sobrepostas e quase transparentes em matizes crescentes do branco ao rosáceo. E, o ritual acontecia. Tudo em seu tempo previsto. Enquanto Sibilas encantadas, lado a lado, entoavam suas vozes amenas, por entre as paredes rochosas e altas, exalando da açucena, um aroma branco, intacto, inebriante e sedativo aos sentidos.
Entre elas, uma em especial, recebia sua insígnia de elevação, enquanto as outras ainda entoavam, arestas, suaves e de admiração.
Deveria sentir-se contente, honrada, com seu novo elevado grau. Mas, pelo deserto árido, haviam se perdido, os seus olhos e coração. Não se perdera tão perto e pelo tempo se formara uma muralha densa. Ao menos o mundo era o mesmo, pensava.
Inconformada, estendia ao longe seu olhar a esmo, esperança nula que lhe chegasse a tempo, o suprimento e a levasse para outro destino. Terras longínquas em que águas termais e sorrisos se elevavam, além de sons meramente reais e audíveis.
Porém, o guerreiro não veio. Alheio, permaneceu ao grito silencioso da então, nova sacerdotisa. E ao passo que seu plácido coração sangrava, mais o amor inocente que em sua alma habitava, enobrecia os motivos que o retiveram.
Tácita, entregou ao tempo, então sua esperança. O vento soprava a face e aos poucos lhe sorvia a confiança, restabelecendo força, para os novos e vindouros dias.
Sem opção de escolha, sorumbática recebeu, seu galardão, como era devido, há tanto em predição. No entanto, em seu olhar já havia se cumprido uma outra história, em desafio ao destino. E não podia crer, tivesse sido, um desatino, apenas.
O tempo transcorreu interminavelmente lento. E por sol após sol, estação após estação, seu Lord não chegou. Não a levou a passear pelas primaveras. Em troca, não teve ele de sua boca menina, as quimeras doces, prometidas e anunciadas em beijos e óleos sagrados, desde o início do firmamento.
E a Sibila, ainda triste, jazia na eterna espera. Por todos os tempos, em seus sonhos desconexos e, em constelações transcendentes. Apegava-se, soturna, às estrelas cadentes, trocas de luares ou nascimento de novos planetas.
Deu vida a quem se lhe era devido. Conduziu por estradas que não conhecia. E, dócil se permitiu presenciar o crescer e frutificar, sem nunca, nunca conhecer o que lhe faltava, sem nunca recusar seu sorriso em aliança.
Aprendeu a fiar versos, e os espalhou aos sete ventos. Os esculpia cuidadosamente, ligando as palavras com tranças inimaginárias.
Com ela mesma, quando podia, transportava-se em lua nova e enquanto lua, nascia e renascia, e versava, tanto quanto, esperava sem saber pelo quê. Enquanto envelheciam, os longos fios dos seus cabelos.
Eis, que após tantos sonhos extravasados, depois de tantas noites e dias, algo insólito adveio. Lord Guerreiro e a então poetisa, livres de culpa recíproca pelo seu desenfado, por brincadeira sádica de algum cupido traquina, um sempre saía, quando o outro ainda não tinha chegado.
Mas, se lhe foram retirados seus pecados. Concedendo a Bondade Infinita, que em novos espaços de luares, última vez seus olhos se tocassem e se dessem seus versares.
Inimaginavelmente se deu o fato. Ao se reconhecerem, de seus dedos dimanaram tácitos e caros perfumes transversos. Inebriantes e de prolixo alcance.
E, no que o sol se arrefeceu, esvaecendo-se em noite, novas harpas em sons raiaram, dessa vez em Sibilares versos.
Talvez não se possa mais ouvir esse tom, por tratar-se de ser o último tato. Depois estarão novamente perdidos. Compendiados por entre os séculos. Guardados, entre o tempo e o espaço agora presente. Até que se possam descobrir e todo o enredo se escreva outra vez, como antigamente.
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