Fantasma sobre as águas
Admirava o horizonte que recém se descortinava, cinzento e nebuloso, naquela despedida da madruga, quando o escaler surgiu vazio através da neblina, deixando-a transtornada com isso.
Ocorreu-lhe em pensamento: “Será que o pequeno barco abrigara o sobrevivente de um naufrágio, que passara dias e noites de tempestade lutando para sobreviver e por fim desfalecera, indo beijar as entranhas do mar azul prateado?”
A embarcação deslizava suavemente pelas águas, agora já plácidas, depois dos três dias de chuva intensa e raios medonhos, e parecia que sequer causava ondulações sobre a superfície do mar onde tocava.
Com calafrios na espinha, medo de embarcação fantasma, ela enrolou o xale que usava mais forte contra o corpo, como se assim pudesse afastar a sensação de desconforto que lhe tomara de repente. O vento salgado, que levava o barco e os cabelos castanhos da moça soprou mais forte e com um suspiro de quem lembra das mais assombrosas histórias dos marinheiros sobre as coisas sobrenaturais do mar, ela virou-se e foi para casa.