O Pirata Salazar - Prólogo
Em uma praia qualquer,na costa oeste dos Estados
Unidos, banhistas avistaram um barco, que se
aproximava lentamente. Não era exatamente um barco,
e sim uma caravela, como as dos tempos das grandes
navegações. O que mais chamou a atenção dos que
testemunhavam a cena, era sem dúvida uma das velas
da embarcação. A tradicional bandeira preta, com
um crânio e um par de ossos cruzados. Mas havia
algo um tanto estranho com esse símbolo: na boca
da caveira, havia uma rosa vermelha, perfeita.
Havia também um cogumelo dentro de cada órbita do
crânio, que aliás, possuía também um estranho elmo
viking, com a inscrição "scream horny!". As pessoas,
assustadas com a caravela esquisita, decidiram sair
da praia e procuraram a guarda costeira. Esta era
uma praia reservada, com pouco movimento, logo, a
guarda costeira não mantinha uma patrulha pelo local.
A caravela então tocou a areia, e ali ficou. De lá,
ninguém saiu e ali ninguém era visto. Eis que voltam
alguns poucos banhistas, curiosos, acompanhados de
meia dúzia de três ou quatro policiais armados até
os dentes, com poderosos aparelhos de correção orto-
dôntica que brilhavam no escuro e um punhado de facas
cegas embebedadas em azeite barato vindo de Barbados.
Ao longe, podia se ver uma lancha da guarda costeira
manobrando entre as ondas, seguindo em direção a tal
caravela. Um dos policiais na praia, rapidamente fez
valer seu treinamento com cães siberianos na Nigéria
ao sacar uma vuvuzela, que ganhara de seu meio-primo
sul-africano de décimo quinto grau e quarenta e dois
avos, quando juntos corriam de pulgas espartanas
estrogonoficamente irritadas com a programação local.
Então, o bravo policial vuvuzelou e vuvuzelou, até
que alguma alma aparecesse na proa da caravela.
Enfim, aparecera alguém: era um homem, de estatura
mediana, aparentando não mais que quarenta anos de
idade, vestindo uma regata branca (só R$ 12,99), uma
bermuda florida na cor verde mendigo, e pantufas de
joaninha e com uma grande barba laranja. Prontamente
ele esbravejou, com um curioso sotaque dos nascidos
na península ibérica.
- Puta que pariu, ó homem de farda! Qual é o motivo
de soprar essa porra desse canudo cujo uma das
extremidades mais parece um funil, fazendo esse raio
de zumbido igual ao de uma abelha no cio? Será que
vocês estadunidenses não sabem recepcionar direito
um puta turista como este que vos fala?
Pereplexos, todos os presentes ficaram boquiabertos
com a cena que acabaram de ver. O policial então, se
aproximou algumas jardas da caravela, gritando coisas
como "amarelo setenta e oito", e jogou sua prezada
vuvuzela no chão, e demonstrando todo o seu emputeci-
mento com a atitude do camarada da caravela, replicou:
- Identifique-se senhor! Caso não saiba, está aden-
trando um país de forma ilegal. Saiba que pode sofrer
graves consequencias por isto, como ser ficar trancado
em um quarto sem janelas ouvindo repetidamente o som
escroto de um grupo de adolescentes brasileiros afemi-
nados que se vestem com roupas coloridas e se julgam
roqueiros!
A expressão de angústia tomou a face do estranho homem
da caravela. Ele conhecia o tal som escroto oriundo do
Brasil. Ele respirou fundo, coçou a bunda, cheirou, e
então disse:
- Me chamo Salazar. Capitão Salazar. Mas, não sei por
qual motivo, alguns idiotas insistem em dizer que eu
sou um pirata. Ora pois, um pirata que se preze não se
deixaria ameaçar por um estadunidense vuvuzeleiro. -
disse o homem com a voz baixa. Respirou fundo mais uma
vez, e então, em Fá maior, continuou:
- Venho até seu país pois ele tem coisas que muito me
atraem. Soube que aqui a medicina é avançada. Preciso
encontrar alguém que cure meu irmão retardado. Além do
mais, soube que nessas terras o mercado pornográfico é
próspero, e as prostitutas são de qualidade, e que por
aqui posso encontrar uma grande variedade de doces e
comidas com corantes e conservantes que fazem mal ao
organismo. Você sabe, tudo isso me atrai. Mais alguma
dúvida?
O tal Salazar era mesmo um homem firme. Mesmo usando
pantufas de joaninha ele conseguia impressionar a todos
com suas sábias palavras. Nunca alguém havia resumido
tão bem o país daquelas pessoas que, estrambólicas,
ouviam o grande Salazar discursar. Os banhistas, antes
assustados, agora batiam palmas, e gritavam o nome de
Salazar. Eles lhe deram vuvuzeladas, e ele havia aberto
uma janela na consciência daqueles pobres espectadores.
O policial ficou sem ação. Então Salazar, do alto de
sua caravela, berrou:
- Ótimo! Saúdem o grande Salazar! Demorou, mas final-
mente me trataram como deveria. Agora sem mais demoras,
tragam me prostitutas, vinhos caros, biscoitos de pol-
vilho e ervas daninhas! O grande Salazar tem necessi-
dades urgentes.
continua...