Canção e Paz
Naquela noite a lua brilhava sensualmente no céu. Era Lua nova, as flores que cobriam o campo delimitando minha travessia estavam intensamente umedecidas pelo orvalho. Exalavam um perfume tão convidativo que o mundo, naquele momento, parecia ser minha casa, o céu, o cobertor, e as lembranças dos lábios dela, o único local onde eu poderia repousar tranquilamente minha alma já pesada, mas não tanto que ainda não pudesse voar.
Contudo, ela, a Lua, no céu brilhava pura e inocente como as pétalas das flores que acariciavam meus pés descalços. Seu brilho era reflexo do Sol: o coração que pulsa alimentando os espíritos e a esperança. A lua era a magia, a beleza, a poesia, a descoberta, e a fantasia.
Cada gota de orvalho que caindo no chão, soltando-se das pétalas, despia tantas flores, provocava um tilintar. Voltei toda a atenção, então, aos ouvidos, que me serviram de passagem para outro universo: da música que vinha das flores.
No meio do campo, tentei em vão tirar do corpo as poucas peças de roupa que me restavam. Buscava ficar inteiramente nú. Desejava me despir de tudo que não fosse somente eu, tentava acessar a essência do que me tornava humano. Mas não conseguia abandonar velhas máscaras as quais tinha me acostumado.
Entretanto, a Lua nova falava docemente ao meu ouvido. A música que ouvia me proporcionava paz. Conseguir ouvir aquela música era o indício de que estava dando o passo certo, na direção apropriada. Ao meu coração a lua presenteava uma canção, à minha alma, um pouco de paz. Era Ela que cantava através de todas aquelas diferentes formas, era Ela que acordava aos poucos, e despertava a mim.