Naquela praia distante eu avistava meu filho, um menino que crescia a olhos vistos, mas que ainda não estava de todo maduro. E enquanto ele brincava, eu escutava mansamente o diálogo que acontecia ali, bem próximo de mim:
- Corra, corra, filho! Fuja das ondas do mar; fuja do canto da sereia, do feitiço, do embaciado das águas traiçoeiras.
- Não as vejo como teus olhos as vêem, minha mãe. Não te preocupes, gosto de brincar com as ondas.
- Acredite no que digo meu filho: elas embolam, rolam, arranham tua pele na areia, enroscam teu corpo na teia, sugam teu fôlego, tua veia e te levam para o fundo.
- Ah, não consigo ver o mar tão monstruoso assim! Gosto de sentir a água em minhas mãos. Ela é sempre tão cristalina! Quanto as espumas, são brancas e macias. Muito macias! Adoro vê-las dissolver. Não acredito que possam me fazer algum mal.
- Corra! Insisto. Basta um segundo. Não te enganes com as espumas. Elas acenam um desenho breve, porém, cobiçam tua alma pura.
- Minha alma pura? Não creio. Sou ainda tão jovem! Por que ela iria querer uma alma que ainda não tem história escrita, não tem nada para contar?
- Ora, ora, meu filho, para habitar o outro mundo e lá escrever tua história. Ainda há tempo. Corra meu querido, corra!
O menino, não tão menino, olhou em direção à mãe e mergulhou na imensa onda que o levou.