Partículas de amor

Nem bem os raios do sol douravam o vale, o doce cantar de um Sabiá invadia os espaços.

A distância lá estava ela, a Borboleta dos vôos desconcertantes absorta a contemplar o botão de rosa que naquela manhã desabrochara deixando transparecer toda a sua beleza, aspergindo no ar suave perfume.

_ Como é lindo!... Gosto de sentir este perfume... Meus olhos se alegram diante de tanta beleza, vou aproximar e saborear o néctar.

Inesperadamente um susto... O galho agitou-se e atirou-a ao chão, e ela podia ver o causador de tudo; era ele aquele Sabiá do canto mavioso, ela então alçou vôo, aproximou-se.

_ Como se atreve a destruir a minha rosa?

_ Mas... Eu não queria que isto acontecesse, vim atrás de umas lagartinhas, aí então o ganho não agüentou e cedeu.

_ Não quero nem saber, além de destruir a minha rosa, destruiu também a minha sensibilidade... Estou ferida!!!

_ Desculpe!

_ Sem essa cara...

_ Bom... Sinto lhe dizer que, eu nem precisava pedir desculpas, apenas quis terminar esta discussão ademais, não me consta que você tenha certificado de propriedade desta flor.

_ Também não preciso provar nada, o fato é que você é um trapalhão e...

A discussão ia tomando proporções gigantescas e foi assim que o sol se pôs e a escuridão se aproximou então cada um foi para sua casa sentindo suas asas cansadas.

Novamente o sol surgiu, mas aquela manhã não parecia nada bela, havia um vazio com cada espaço.

_ Credo! Não consigo voar direito, minhas asas estão cansadas. É... O canto daquele Sabiá alegrava as manhãs!!! Parece que meu coração virou pedra.

_ Não sinto vontade de cantar, parece tudo tão estranho, sinto um nó na garganta, parece que uma pedra entalou nas minhas cordas vocais! Também sem aquela Borboleta fazendo graça... Está tudo muito chato.

E assim, os dias foram passando, novos botões desabrocharam perfumando o ar, mas o Sabiá e a Borboleta continuavam tristes, até que um dia Dona Coruja com toda sabedoria interveio.

_ Hei vocês, por que não aproveitam e vão brincar? O sol brilha, a brisa é perfumada, as flores dançam...

_ Não vejo graça.

_ Nem eu, ademais o que a Senhora faz acordada a estas horas?

_ Pois é, estou perdendo uma bela manhã de sono para mostrar a vocês que quando se partilha, a vida se completa, em cada desabrochar, em cada raiar de um novo dia. há uma partícula de amor que se desprende das mãos daquele que nos criou e nada que vêm das suas generosas mãos deve ser retido ou desprezado, por que vocês não vão juntos admirar mais um botão que desabrochou?

E assim, Sabiá e Borboleta entenderam que ninguém é dono de nada, que tudo se tem por generosidade de Deus ;que tanto sentidos e sentimentos se completam com o perdão.

_ Hei Sabiá, não é que Dona Coruja tinha razão? Por que ficar estagnado como água presa?

_ É mesmo, às vezes carregamos pesos desnecessários, vou cantar para saudar o Criador.

E assim, a vida era completa naquele vale, pois...

Perdoar é devolver ao outro, o direito de ser feliz.

Stéla Lúcia
Enviado por Stéla Lúcia em 03/06/2010
Código do texto: T2297616
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