“Quando um amor é verdadeiro, nada poderá impedir que ele sobreviva além do tempo. Ele será eterno”.
 
 
Poderia Ter Sido Diferente.
 
 

 
Ela já contava com seus pesados 70 anos, viúva, vivia de suas recordações.
Durante sua vida havia passado por varias cirurgias e graças a isto permanecia viva, mas em toda a sua vida sentiu-se só, apenas por alguns dias viveu uma grande alegria ao lado de alguém que a amava.
 
Agora, estava cansada e se encontrava mais solitária. Seus olhos já não tinham o mesmo brilho da sua juventude e de quando viveu seu grande amor.
Diante de um pequeno e velho baú, tirava alguns objetos que a fazia recordar os dias mais felizes ao lado do poeta que a amava.
 
Lágrimas escorreram a tocar em um anel de prata com uma rara pedra encravada. Fora o primeiro presente daquele poeta cheio de amor.
Recordou seus beijos e chegou quase a soluçar ao sentir em sua boca o gosto deixado por ele, que insistia em nunca abandoná-la.
 
Não percebeu que sua sobrinha havia se aproximado e viu suas lágrimas escorrendo pelo seu lindo rosto.
- Tia, você está chorando novamente...
Ela tentou disfarçar e rapidamente guardou de volta o anel no baú. A sobrinha percebendo a causa de seu sofrimento, falou:
 
- Tia, poderia ter sido tudo diferente, não é mesmo? Você nunca o esqueceu. Por que teve que ser assim?
- Porque o destino quis que assim fosse.
- Mas nós fazemos nosso destino acontecer.
- Eu fiz o meu ser como tinha que ser.
- E por que escolheu que fosse assim?
 
Ela silenciou. Não poderia falar o que sentia e nem as razões de ter escolhido aquele destino. Era seu segredo e por ele estaria pagando um alto preço com o sofrimento de ter se negado a viver o mais lindo amor de sua vida.
 
A sobrinha tentava consolar.
- Tia, eu lembro de como ele te olhava apaixonado naqueles dias que esteve aqui. Eu sentia o quanto ele te amava.
Ela deixou cair mais lágrimas e agora folheava seus antigos poemas. Parou ao encontrar o que procurava e mostrou para a sobrinha.
- Este foi o poema que ele viveu comigo. Este poema marcou nossas vidas. Foi com este que afastei a única mulher que seria capaz de tomá-lo de mim. Foi com este poema que eu senti o quanto o amava.
- É lindo... Já li muitas vezes e nunca entendi porque a senhora fechou suas portas para ele se o amor de vocês era tão grande.
Ela sorriu e guardou silêncio mais uma vez. Sentia dentro de si uma vontade de já não estar ali viva, mas vivendo por entre as estrela ao lado do seu poeta amado.
Então ela falou sorrindo para a sobrinha com os olhos encharcados de lágrimas.
 
- Esta madrugada ele veio me ver mais uma vez. Deitou-se com todas as vezes ao meu lado beijando-me o rosto e minha boca. Seu amor continua mais vivo ainda do que nunca e ao me deixar repetiu como sempre as mesmas palavras: “Nosso amor será eterno”.
 
A sobrinha abraçou-a com ternura. Estava também com os olhos molhados de lágrimas.
 
- Tia, ainda digo que poderia ter sido mais feliz e ter vivido seus sonhos e ideais se não tivesse tomado a decisão de afastá-lo de sua vida. Ninguém pode viver sua vida e ser feliz por você. Esta pequena chave que ele te deu, parece ser tão insignificante, mas seu simbolismo vai além da nossa compreensão e você não se deu conta que com ela poderia ter mudado o curso da sua vida e ter sido a mulher mais feliz deste mundo.
Ela segurou a pequenina chave de latão na palma da mão e recordou o dia que ele a presenteou. Havia sido numa tarde inesquecível de suas vidas. Então respondeu a sua sobrinha.
 
- Eu dei a ele a chave que abriu as portas do triângulo. Bem aqui nesta mesma sala falei a ele coisas que o ensinaram a ver a vida por um lado que ele desconhecia. Ensinei a ele a força do perdão e não o soube perdoá-lo. Porém, aqui mesmo fizemos amor e foi o maior momento de nossas vidas. Agora o tempo não volta atrás. Esta saudade me consome e minha solidão seria maior se você minha filha, não estivesse sempre ao meu lado.
 
Uma leve brisa entrou pela janela e um som estranho invadiu aquele ambiente.
As duas mulheres silenciaram. Sabiam que ele estava ali presente.
Ela sorriu e disse:
- Ele sempre soube que eu o amava.
- E morreu sem nunca mais ter amado outra mulher, tia. Isso eu reconheço nele, todo o amor que sentia pela senhora.
Um sorriso tomou conta dos lábios daquela linda morena antes de dizer apertando a mão da sobrinha:
- Ele teve muitas mulheres em sua vida, mas só a mim amou de verdade.
 
Elas não podiam ver nem ouvir, mas seu espírito estava ali abraçado com aquelas duas mulheres que haviam sido suas maiores alegrias. Apenas falou mesmo sabendo que não seria ouvido:
- Tudo o que vivi contigo, marcou minha vida até meus os últimos momentos. Eu vou voltar minhas queridas.
Ela olhou para o céu através da janela e disse, como querendo que ele a ouvisse:
- Um dia ele virá buscar-me. Então seremos felizes.
 



Carlos Neves
Enviado por Carlos Neves em 27/05/2010
Reeditado em 27/05/2010
Código do texto: T2284000
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