Um Coração Singular

Uma vida absolutamente normal era concedida a um menino diferente, que mesmo não sendo um fenômeno físico berrante, ainda o fazia ser peculiar.

Os exames, a radiografia impressa em um daqueles plásticos azuis e maleáveis, mostravam que era uma pessoa às avessas: ao contrário das pessoas comuns, seu coração encontrava-se com a inclinação voltada para o lado direito e não para o esquerdo. Seu formato era totalmente invertido ao peito. Com isso, você deve se perguntar: “qual é a tamanha diferença que isto faz?”.

E digo. Diferença alguma, se não acontecesse o que aconteceu. Seria mesmo muito normal observar algo tão singular e incomum, com olhar natural, quase que despreocupado, se eu não contasse a você que exatamente sete anos, dez meses e cinco dias depois o rapaz estaria à fila de espera por um transplante cardíaco. Ninguém, absolutamente ninguém poderia doar-lhe um coração novo, com o formato que jamais poderia assumir ou modificar.

E assim foi. Ninguém o entregou um coração, e o seu jamais seria de ninguém, que não fosse ele mesmo.

E a morte desfez-lhe daquelas avessas incomuns.