Escolhas Corriqueiras
Há uma velhinha do outro lado da rua, debruçada ao chão, como se estivesse louvando à urbanidade civilizadora que a fez se ajoelhar na calçada e juntar todas suas pequenas coisas. Perfumes baratos, presilhas de cabelo e titulos de capitalização meio à vergonha de ser tão frágil.
As bitucas de cigarro, molhadas pela chuva da manhã, gargalhavam perante sua face dizendo que seu tempo de vida deve ser forçado ao fim. Mas, de contrapartida, seus ouvidos deram ouvidos a todos quem deram ouvidos a tudo que ela já tinha ouvido. Assim como viu o que todos viram ao ver aquela senhora de joelhos na calçada. Um pingo de tinta incômoda em sua roupa nova.
A velha olhou para o céu, e, tateando o chão, levou cada bituca que sentia para sua boca e deliciava-se com o sabor de poder censurá-las e pensava:
"Esfreguem-me e me espalharei. Como um pingo de tinta."
Esqueça tudo ou o tudo te esquece.