'' CAPRICCIO''

                  Natan Svaloskowisk era pintor, Nasceu pintor.
                  
                  Em crianca, pequeno ainda ja' rabiscava, cavalos, bois, animais e depois foi crescendo pintando '' humanos'' e seus quadros vendiam-se todos, nunca ficou com nenhum quadro seu, quando morreu era famoso, infeliz e sozinho.

                   Natan procurava com suas pinturas criar, criar um universo paralelo, foi ficando tao obsecado por isto e colocava isto em seus quadros, sua paixao, sua loucura e ainda aos trinta e cinco nao tinha sentido  aquela '' paixao'', conheceu o amor, por algumas sofreu, por outras foi desprezado, por algumas nem se importou e nem elas por ele, e desesperado pintava, pintava aquela que ele sabia que existia, que vivia em algum lugar e um dia seria sua, colocava isto em cada quadro que dela pintava, 'a noite sonhava com ela, via, sentia, pegava , apalpava e logo de manha pintava um quadro sobre isto.Natan deu-lhe o nome de Zalia, a estrangeira.

                     Estes quadros, dela, Natan nao vendia, acabava, emoldurava, pendurava na parede do sotao, marcava desde o numero um, dia e hora, e quando queria ia ver, olhar, sonhar, sabia de cor e salteado todos, do numero um ate' o ultimo que tinha enumerado e uma noite sonhou que ela dizia que era o ultimo dia que ela viria, ele acordou desesperado e foi pintar seu ultimo quadro dela. 

                    Pintou, terminou e quando olhou , a boca que ele tinha pintado fechada, estava agora sorrindo, um sorriso lindo, gostoso , foi bem perto e parecia ouvir sair um som , e saia mesmo  :-  nao se desespere, espere, vais me ver, logo, logo e continuava sorrindo, ele refez a boca, fechou, e quando olhou de novo, aberta, sorrindo..desistiu, deixou assim mesmo , levou para o sotao e ficou o dia todo por la', relembrando, amando, olhando, adormeceu.

                     Natan resolveu, fechou a casa, trancou tudo e foi viajar pela regiao, nao levava nada, tudo ficou na casa, saiu sem destino, indo, parando, continuando, viajando, conhecendo cidades, vilas, lugares, vilarejos, grandes cidades, capitais e foi em um pais estrangeiro, na capital, que ele se hospedou e sentiu necessidade de pintar, comprou o material, foi para a beira de um canal, sossego, paz e pintava, um horizonte, uma estrada que serpenteava, arvores, um riacho e de repente no seu quado um cao, um pequeno caozinho tomou forma, veio vindo ao longe na estrada que subia a colina e foi se aproximando e parou, boca aberta lingua para fora e Natan viu se formando uma sombrinha toda rendada, branca e segurando uma figura feminina, andando devagar, se aproximando e chegou perto, seu rosto nao tinha ainda forma e Natan ouviu um latido, olhou ao lado do quadro e viu o cao, o caozinho igualzinho ao do quadro, sentado, olhando para ele, boca aberta, lingua de fora e Natan teve um arrepio e olhou na direcao da estrada e viu a sombrinha de renda, branca e a moca que segurava foi se aproximando e parou logo atras do cao, do caozinho e Natan viu seu rosto....era ela.

                     Olhou o quadro, ela no quadro ainda sem rosto, ele rapidamente pintou o rosto dela, seu conhecido de longa data, pintou-a sorrindo, olhou para ela ao lado do quadro, estava seria, quando voltou e olhou ao quadro, tambem estava seria no quadro...ele deixou!!!

                     Ela e o cao, o caozinho ali parados, Natan sentou no seu banquinho, passou o lenco no rosto, fechou os olhos, pensava:- quando eu abrir ela tera' desaparecido, minha imaginacao esta' me pregando coisas, eu pintei o quadro, sei de cor sua imagem, ela nao existe, nao e' real, e' um sonho meu e abriu os olhos e ele estava ao lado dela agora, ela sorria, tinha o braco passado junto ao dele, caminhavam devagar, o cao, o caozinho pulando na frente e foram seguindo, ela falava uma lingua estrangeira mas engracado!!! ele entendia e ela dizendo coisas sem nexo, que isto ele nao entendia :-

                     Agora estamos juntos, juntos para sempre, voce me pintou tanto, me desejou tanto , me criou, eu sou sua criatura e agora voce e' meu criador..e caminhavam e ele percebeu que tinham chegado ao fim do quadro, ela num gesto rapido nao deixou que caissem fora do quadro, voltaram e o cao, o caozinho ladrando e correndo na frente, fazendo agora o caminho inverso e ele vendo a paisagem nos fundos se distanciando, um castelo se aproximando e ele olhando para os lados via apenas as laterais do quadro, na frente surgiu o castelo, entraram, ela o levou direto a uma sala, abriu as cortinas, a sala se encheu de luz e ele viu todos seus quadro ali pendurados e ela dizendo:-

                     Estamos no quadro principal agora Natan,  desta pintura podemos sair e ir para todos os outros e voltar, e foi levando Natan para o primeiro e assim passou a fazer todo dia e toda hora, viviam juntos agora, nos quadros. E Natan passou a eternidade com Zaila, a estrangeira.

                    A policia foi chamada por um vizinho que sentiu '' mau'' cheiro na casa de Natan, arrombaram a porta, Natan morto, podre, deveria estar fazendo dias que tinha morrido, diziam..e foi levado embora...nao tinha familia, nao tinha ninguem para reclamar o corpo e nem nada, a cidade tomou conta de tudo e quando entraram para ver o que poderia ser vendido para pagar as custas de tudo , so' alguns moveis velhos, velhas roupas, e quadros nenhum!!! nada,  nenhum quadro tinha restado.
 
                     A casa foi o pagamento que a cidade queria e mais nada.

                     Ate' hoje se discute onde poderia ter ido parar os quadros que Natan pintava e guardava 'a sete chaves.....as portas do sotao estavam abertas e nunca ninguem tinha visto ninguem entrar por la'....ficou o misterio!!!

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 25/04/2010
Reeditado em 25/04/2010
Código do texto: T2219153