Macaco não tem insônia

Lá pelas tantas, depois de desligar o PC, alimentar os gatos, conferir portas, banhar-se, escovar os dentes, apagar luzes e realizar todo o ritual que antecede o dormir, deitou-se.
Seu corpo cansado esticou-se e enrolou-se na cama por diversas vezes, virou-se, revirou-se e nada de conciliar o sono. Relaxou, meditou, até rezou e nada! O sono não lhe dava o ar da graça. Resolveu contar carneirinhos e assim feito criança, quem sabe, dormiria. Imaginou-os todos branquinhos, peludos, alegres, pulando um após o outro, vindos de um lado misterioso de sua mente, e saltando para o outro lado, não menos desconhecido. E contava-os... Às vezes perdia a conta e começava tudo outra vez... Um, dois, três, e eis que de repente um chimpanzé saltou por entre os alvos carneirinhos! Levou um susto! Não acreditava no que acabara de ver, se é que se podia chamar de ver, o que sua mente criava com os olhos fechados, bem dentro de sua cabeça. Um chimpanzé! Atrevido! Como foi possível semelhante fato? Afinal ele é quem criava e contava os carneirinhos... Como pôde um chimpanzé, aparecer de forma tão inusitada por entre sua criação?
Abriu os olhos, pestanejou, será que dormira por alguns instantes e sonhara? Pensou... Cismou...Resolveu fechar os olhos, voltar a contar carneiros e tentar adormecer. Dito e feito. Um, dois, três... Branquinhos... Dezenove... Alegres... Trinta e cinco... De novo! O chimpanzé saltando junto aos carneiros! Não é possível! Inacreditável! Mas desta vez o chimpanzé parou, e bem do centro de sua própria cabeça olhou-o fixamente como a indagar, com lampejos de raiva e indignação, com que direito ele interrompia seu salto. Coração disparou. Pensou estar enlouquecendo! Não imaginou chimpanzés entre cordeiros! Estaria tendo alucinações? Não tinha mais controle sobre o que pensava! E o olhar... O olhar do chimpanzé! Olhar furioso de quem é interrompido durante um sério e importante trabalho. Olhar inquisidor daquele que coberto de certeza, posse e razão, questiona o intruso deixando-lhe a sensação de invasor culpado e desprotegido. Não sabia o que fazer. Abriu os olhos. Sentou-se na cama, coçou a barba e a cabeça, Limpou o suor que lhe escorria da testa. Deitou-se novamente, respirou fundo, sonhara pensou novamente, certamente sonhara o mesmo sonho. Muitos disseram já ter vivido semelhante experiência. Não estava enlouquecendo, decerto que não! Mas não entendia como um chimpanzé intrometido infiltrava-se entre seus carneiros sem a sua permissão. Nem gostava de macacos!
Resolveu tentar dormir novamente e teimoso que era, decidiu contar de novo seus carneiros, e desta vez nenhum chimpanzé iria estragar-lhe a contagem, controlaria sua mente e sua imaginação... Um, dois, três... Suaves e mansos... Vinte e quatro... Despreocupados feito crianças... Quarenta e sete... Mecânicos feito maquinário de relógio antigo... Não conseguia dormir... Perdeu a conta... Começou tudo novamente... Não conseguia dormir... Um, dois, três... Descreviam um arco perfeito ao pular de um lado para o outro de sua mente... Vinte e dois... Todos iguais, perfeitos, assim eram os seus carneirinhos... Cinquenta e dois... O chimpanzé! Ele de novo! Não acreditava! Coração aos pulos! O chimpanzé parou... O mesmo olhar furioso... O chimpanzé, olhar fulminante e fixo, lentamente aproximou-se e num lapso de segundo desfechou-lhe um grande soco no queixo... Nocaute! Adormeceu profundamente...
zuleide zhu valente
Enviado por zuleide zhu valente em 24/03/2010
Código do texto: T2157396
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