...E ELA FOI SEGUINDO...SEGUINDO

    Dona Julia quando tudo isto aconteceu ja' estava nos seus 60 e la' vai fumaca, nem ela sabe mais se era 60, 61 ou 69 quase 70.Hoje ela ja' passa dos 90 e tantos.Mais de 30 anos se passaram, mas ela lembra-se e muito bem.

    Sabe Ze'? eu num gosto muito de ta' contando isto de novo nao!!! no comeco tanta gente vinha me pergunta', eu  contei pra' jorna', '' tevelisao'' o diabo a quatro, e muita gente falo que eu tava mintindo, eu num tava nao Ze',sabia? tudo que falei foi verdade verdadeira...mais, ce que' eu conti de novo? ce falo que vai coloca' meu nome no seu livro, verdade Ze'? entao eu conto....e contou:-

    Dona Julia e' analfabeta, em crianca teve dificuldade de aprender a ler e escrever, assina seu nome em X ou coloca o polegar na tinta e ' carimba' o papel...casou, teve seis filhos, criou todos muito bem, ficou viuva aos 50 anos, sempre morou em fazendas, sitios,e quando tudo aconteceu morava quase perto da cidade...a cidade foi '' inchando'' e chegando perto do sitio que ela morava, e para ir ao bairro mais proximo, 'a pe' levava quase uma hora, de carro 15 minutos?, de carro iria pela  Anhanguera , mas como gostava de caminhar ia muitas vezes pelo meio da mata, por dentro, ate' chegar no primeiro bairro e de la' tomava conducao para ir aonde necessitava.Gosto e' gosto!!!.

     Conhecia o caminho de ida e volta de cor e salteado, cada ponto do caminho, cada curva, volta, pedra, descida e subida, sabia onde estava, nao tinha medo, ia sempre sozinha...'' sozinha nao, dizia, eu e Deus "" e um dia estava '' catando '' lenha neste caminho, fazia '' feixes'' , colocava um pano enrolado na cabeca, '' botava o feixe em cima e voltava para casa, o fogao necessitava de lenha, quando ouviu um '' assobio''..fiuuuuu...fiuuuu...firulu...firulu..
fiuuu.fiuuu..procurou nao achou...'' que passarinho diferente e' este '' pensou, e o assobio continuava...fiuuuu.fiuuu...firulu...firulu...
e ela foi se desviando do caminho, entrou na mata cerrada...e o assobiu continuando..e ai' ela viu...viu um negrinho de uma perna so', barrete vermelho na cabeca, fumando cachimbo, soltando fumaca...e oferecia o cachimbo 'a ela...ela como gosta de um bom '' fumo'', ja' estava com agua na boca, e foi chegando perto, perto..

       O negrinho corria, pulando em uma perna so'...'' que saci mais danado '' pensava ela, e seguia o assobio, via o danado...ele colocava o cachimbo em cima de pedra...ela ia chegando ele retirando , correndo...ela seguindo...seguindo...foi se embrenhando mais e mais na mata....viu  o saci em cima de uma arvore, rindo, chacoteando com ela...ela seguindo...e com o feixe de lenha na cabeca andou mais de duas horas assim e foi parar totalmente em outro lugar...nao conhecia onde estava...ja' era tarde, estava escurecendo e sentiu canseira, nao sabia porque, e se deu conta do feixe de lenha, pesado, na cabeca, colocou no chao, sentou...e o saci olhando, rindo, chamando, ela ainda tentou ir..nao conseguia se levantar...ele veio pulando, ficou dando voltas, voltas, e de repente um rodamoinho forte levantando poeira do chao, folhas, galhos, girou tao forte que ela foi jogada longe, viu o saci desaparecendo no rodamoinho, ela bateu a cabeca no chao, desmaiou, ficou desacordada e quando voltou a si era noite fechada, tudo escuro, ficou ali quietinha, deitadinha, sentia frio, dormiu.
  
         Acordou com o primeiro raio de sol, tinha sede, mata cerrada, nao sabia onde estava, foi se levantando e foi seguindo suas pegadas de volta, andou, andou, nao sabe quanto tempo ate' que viu cavalos, cercas, e ao longe uma casa, foi ate' la', pediu ajuda e o casal deu-lhe agua, comida, colocou um cobertor nela e levou embora, de charrete e quando contou o casal nao acreditou, achou que era louca.

         Demorou, de charrete e tudo, horas para chegar em casa. A filha, Vilma, estava no desespero, quando viu a mae chegando, desmaiou, foi aquele '' banze' '' por la'..e o resto e' historia...que ela contou trocentas vezes...alguns acreditam...outros nao.

         Eu acredito.

         Nunca vi. Mas muito ouvi contar.

         E, afinal, sou brasileiro e lendas do folclore e' comigo mesmo...posso contar outra?

      
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deixa va'? so' mais uma...prometo!!!
               

     
WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 15/03/2010
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