O novo amigo
- Oi.
- Olá.
- Desculpe o incômodo. É que sou novo aqui, acabei de chegar.
- Prazer, seja bem vindo.
- Você já está aqui há muito tempo?
- Mais do que gostaria.
- Entendi... e como andam as coisas?
- Meio agitadas, como sempre.
- Cá entre nós, o cara é um estranho muito do mórbido, não acha?
- Por que diz isso?
- É que andei acompanhando o cara. Imagina que ele toma 3 quilos de remédios tarja-preta misturado com sucrilhos toda manhã.
- Ah, mas é que ele está tentando parar de fumar. Isso afeta o humor de qualquer um.
- Está dizendo que é só um pouco de estresse?
- Isso também... Ele só é meio excêntrico, só isso.
- Excêntrico a ponto de colecionar recortes de orelhas?
- Sim...
- Acha normal alguém ficar conversando com um peixe pintado na parede?
- Bem...
- Pior é ficar escrevendo esses contos malucos, como se alguém desse a mínima.
- Ei! Onde você quer chegar?!
- O cara é um completo pinéu. Além de ter TOC, ser bipolar, maníaco depressivo, ele ainda sofre de personalidade múltipla. O que mais falta? Falar com mortos?
- Pois isso é a coisa que o impede de pirar de vez!
- Vai dizer que é você o responsável pelas as vozes estranhas que ele ouve?
- Bem, não exatamente. Sou apenas o canalizador. Ele é meio médium, sabe?
- Ah... Então é você a personalidade dele que se comunica com os mortos?
- Sim, às vezes.
- Escuta... eu estou morto?
- Não. Claro que não, oras.
- Certeza que não estamos todos mortos, não?
- Hã?
- Me diz a verdade. É essa a "tirada" deste conto, não é? Todo mundo morto, defunto a sair pelo ladrão?
- Cara, que coisa chata, por que acha isso?
- Sei-lá... Só queria entender por que estou aqui.
- Me diz você que é o novo amigo imaginário dele.
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Março/2010