Não era uma qualquer!

Filha da alta burguesia. Educação esmeradíssima.Cultura muito acima do normal.

A casa onde vivia,solar antigo:Perdia-se na lonjúra do tempo,a linhagem dos seus antepassados.

Visitava com assiduidade as casas mais brasonadas dessa Europa que mantinha"a pompa"de tempos que não voltariam.

Os criados serviam de libré,emeradíssimas refeições.í

A menina cresceu.Moldada,pouco a pouco,transformava-se numa mulher lindíssima. Diante de tal perfeição,Fidias o mestre,quebraria o seu cinzel.

Tinha liberdade absoluta. Nunca lhe conheceram noivo,como então se dizia. Os anos iam passando,também não sentia vocação para o convento.

Fruto de tudo ter,tornou-se pouco a pouco de uma rebeldia,que não condizia com os pergaminhos da família.

Arranjou uma morada,só para ela.Cercou-se de maior luxo ainda.Os Adónis esvoaçavam de volta dela,qual abelha procurando o mel de proveitosa flor.Arisca como sempre,fazia valer a linhagem do seu nascimento.

Visita assídua das maiores festas por esse velho continente fora!

Amante da música,nos tempos livres,lia,e fazia recitar para si,pagos a preços de ouro,poemas de famosos poetas.Conhecendo-lhe os gostos

lisonjeavam-na,pensando acreditar que um amanhã dourado haveria de chegar.

Passava temporadas nos teatros de Paris,frequentadora assídua da Opera em Roma, Tempos magníficos de glória e ostentação.

Passou a viver fora do solar materno.Os pais foram envelhecendo ao mesmo tempo que os livros aonde constava toda a linhagem se iam desfazendo em cinza.

Continuava a romaria,as festas os passeios.Quando regressava altas horas à sua residência,não dava por nada.Outro dia já despontava.

Outro dia como o anterior, e os que entretanto se seguiam.

Passaram os anos.Uma noite,chegou mais sóbria.

Olhou-se ao espelho,não viu aquela que um dia ,Miguel Angelo,não desdenharia ter como modelo.

Os anos tinham feito ,tinham cumprido o seu trabalho.

Os amigos, as colegas,pouco a pouco foram desaparecendo,tornaram mais esparsas as suas visitas.A família já não existia.

Já não ia ao estrangeiro,ficava-se por aqui.

Ficou só. Os familiares tinham cumprido o seu tempo neste mundo. Do velho solar,nada restava.Só ruínas, solidão, abandono.

No casarão outrora cheio de luxo e vaidade,apenas aquela que outrora

fora a inveja de todos que a rodeavam. Beleza,fama dinheiro.

Restava apenas uma velha,só abandonada.Só!

A casa outrora cheia de buliçio de alegria de riso supérfluo, sem graça e sem verdade,Quando ela entrava, abria a porta,e encontrava uma casa cheia de tudo,de todos os bens materiais.Mas era uma casa cheia de nada! Essa casa não tinha alma!

Dizem que os últimos tempos de vida os passou triste, olhando o passado que não voltava.

Ninguém lhe recitava poemas, tampouco a visítavam.

Só e abandonada, morreu, deixando na vitrola antiga, ainda tocando, a

sua musica que tocava sem descanso.Sempre a mesma.

O CREPÚSCULO DOS DEUSES,DE RICHARD WAGNER.