Peregrina em busca do sentir.....
“Oi quem é você? Oi quem é você?”- acordei com uma insistente voz infantil a me questionar sobre minha identidade.
“Ela é uma peregrina em busca do sentir”- respondeu a já conhecida voz gélida...enquanto isso eu sentia meus olhos ainda fechados e um desejo louco de não abri-los...de não levantar...
“Ei acorde...vamos acorde..”insistia a voz infantil...com muita relutância abri meus olhos e me surpreendi ao encontrar apenas o meu estranho acompanhante, olhei ao redor em busca da voz que havia me acordado, mas ali não havia mais ninguém além de eu e aquela figura que parecia sair dos túmulos...olhei mais uma vez ao redor e me senti assaltada por um medo sem sentido que me sufocava.
“Como vim parar neste lugar? Quem era aquele ser parado à minha frente? Por que eu havia dormido no chão e dentro de um cemitério? E a voz infantil, eu podia jurar que teria uma criança ao meu lado? Será que tudo não era um sonho? É talvez eu ainda estivesse dormindo....” Me assaltavam as dúvidas. Eu precisava entender? Eu tinha que achar as respostas!
A figura cadavérica à minha frente parecia me reprovar com o olhar, sim me parecia ver naquele rosto impassível uma sombra de reprovação...mas eu estava por demais angustiada, precisava entender....precisava encontrar as respostas...eu tinha que raciocinar...
“Vai ficar ai parado...não vai me dizer nada? Não vai me explicar nada? Eu preciso saber o que vim fazer aqui...” Gritei para aquele ser à minha frente.
Ele ainda impassível me respondeu:
“Oras você disse que sentiu-se atraída para este lugar...lhe digo apenas uma coisa...não esqueça que você é peregrina em busca do sentir...então não tente entender...tente sentir...sinta e saberá tudo o que precisa saber!”
“Sentir? Como posso sentir algo que não entendo? Como posso sentir algo em um cemitério?”Continuei a perguntar.
“Bem quando você estiver mais calma conversamos...mas não esqueça: você é uma peregrina do sentir...quando sentir saberá tudo que precisa saber...”Foi se afastando enquanto falava e sumiu por entre os túmulos e eu fiquei ali sozinha com minhas dúvidas, solitária com meus raciocínios...fiquei ali sozinha comigo mesma.
“Você é uma peregrina do sentir...sinta e saberá tudo que precisa saber”...as palavras não me saiam da mente....mas o que eu podia sentir ali? O que eu devia sentir? As únicas sensações que eu tinha eram medo e repulsa por estar naquele lugar....eu precisava entender...eu precisava encontrar as respostas....
“Você está com medo?”- pronto era a voz infantil que voltava.
“Onde você está? Quem é você?”- gritei pra todos os lados...
“Você está com medo?”- foi a resposta que tive. E naquele momento senti um nó na garganta... senti lágrimas grossas e quentes me turvarem a visão...não sei de onde vinha, mas soluços violentos me sacudiam o corpo...e de repente vi a criança chegar...ela se aproximou, veio pra perto...colocou a minha cabeça em seu colo...e no silêncio daquele cemitério eu chorei, sem saber por que, sem ter motivos racionais, mas sei que chorei e chorando me coloquei no colo daquela pequena criança.
“Você é uma peregrina do sentir...sinta e saberá tudo que precisa saber”...essas palavras não me saiam da mente...e por que meu estranho acompanhante havia saído daquele jeito e me deixado sozinha....algo me dizia que eu estava diante de uma viagem que estava apenas no começo......