Peregrina....o começo....
Tudo aconteceu tão de repente que nem sei explicar como cheguei até esse lugar, sei apenas q quando dei por mim estava ali sentada na fria lápide a sentir o vento bagunçar meus cabelos e trazer para junto do meu corpo um arrepio de frio....
“Sente frio menina?”- Escutei a pergunta que vinha de alguém atrás de mim...
“Sim” - respondi enquanto virava lentamente o meu corpo para encontrar o dono daquela voz....
“Que faz aqui sozinha? E por que não esta mais agasalhada?” - insiste o estranho companheiro.
“Não sei...não sei...sei apenas que estou aqui”-respondo de forma automática....
“Sabe onde está”?- pergunta novamente aquela voz gélida quase sem emoção...
“Sim..acho que sim...”-respondi com um sorriso meio tímido...
“E não está assustada”? - mais uma pergunta...essa porém permaneceu sem resposta...
Ao invés de responder ao meu estranho acompanhante comecei a olhar ao meu redor...e disparei a falar quase comigo mesma:
“Sim era pra estar assustada sim...afinal estar aqui num cemitério à noite...não é um lugar muito agradável e pode sim trazer medo...mas não sei explicar nessa noite não sinto medo...não, não estou amedrontada...me sinto sim cansada, cheguei aqui sem saber como ou porque...sei apenas que me senti quase atraída para este lugar...olho ao redor e não consigo me assustar com está frieza e penumbra...olho as lápides escuras e não sinto o negro pavor tomar conta de mim...não...sinto como se algo me arrastasse pra este lugar...sinto como se algo me puxasse para o interior desses túmulos...você pede se tenho medo...não não tenho medo...nem você me transmite medo....”
Quando enfim paro meu monólogo me dou conta que o meu gélido, pra não dizer cadavérico, acompanhante continua ali imóvel, impassível...não sei dizer se ele escutou o que eu disse, pois nem eu tenho certeza se falei alto ou não. Ele apenas me olha....um olhar sem emoção...mas um olhar que me atravessa....
“Então você chega a um cemitério sem saber como chegou aqui? Um ser vivo que se sente atraída até a mansão dos mortos! Muitos em seu lugar passariam longe daqui e você busca aqui refúgio, busca esconderijo, busca abrigo....”
Me parecia identificar um tom de ironia em sua voz e um leve sorriso cínico se desenhar em seu lábios...nem mesmo aquele ser à minha frente me transmitia medo...não sabia dizer se era fantasma ou uma pessoa viva com uma crise de forte anemia e que precisava com urgência de um banho de sol....não conseguia identificar quem era aquele ser à minha frente...parecia homem, mas eu não tinha certeza...suas roupas eram largas demais para divisar qualquer curva de seu corpo. Suas mãos estavam escondidas nas dobras do manto e não me permitia olhar mais de perto. Não sabia quem era e o mais curioso é que parecia desnecessário perguntar, sei apenas que aquele ser estava ali diante de mim a me olhar, a me estudar....
“Você tem muitas perguntas na mente...está trabalhando arduamente para entender...para descobrir....para conhecer...não se maltrate mais. Descanse e no tempo certo tudo será mais claro....você mesma acabou de dizer que foi atraída para este lugar, então não perca seu tempo com tanto trabalho inútil....descanse...revigore suas forças e tenha certeza que tudo aos poucos terá sentido...”enquanto quase lia meus pensamentos e os expressava em alta voz meu estranho acompanhante foi desaparecendo na escuridão de onde saiu....
Não sei dizer por que, mas não tentei segui-lo ao invés tomei a direção contrária e cheguei próximo ao cruzeiro, parei diante da cruz enegrecida pela fumaça das velas que ali queimavam em uma chama ininterrupta, parei alguns instantes a contemplar os pontos tremulantes dos pavios que queimavam. Andei um pouco mais e me deparei com uma frondosa árvore cujo tronco demonstrava a força dos anos suportados, os galhos se estendiam nas mais variadas direções e suas pontas se misturavam com o negro da noite.
De repente senti um cansaço muito grande e aquela árvore parecia me oferecer uma de suas raízes saltadas como apoio para o corpo e seu tronco para recostar a cabeça, resolvi atender o pedido do meu corpo e me aconcheguei ali, me surpreendi que a árvore pareceu amaciar-se.
“Que loucura! Imagine só...estou atribuindo vontade própria a uma árvore....mas o que aqui não é loucura?! Melhor dormir...sim melhor dormir...”
E assim adormeci.....