OS GATOS MALDITOS

Ela abriu seus olhos, levantando sobressaltada e suspirando como nunca. Percebeu que estava num lugar muito mais além do que imaginava. Não tinha noção onde estava. Só distinguiu pelo fato da matéria ao redor, ser de um verde incandescente. Concluiu que era uma floresta deserta.

Apertou as pálpebras levemente. Virou ao redor, e sentiu uma leve camada friorenta, gelando sua pele clara e macia. O calafrio tomou conta do seu eu. Bastante esquisito. Medo. Aquele lugar lhe trazia um medo avassalador. Afinal, onde estava agora? Pensou.

Levantou o pescoço lentamente e de onde estava — em posição fetal —, visualizou criaturas medonhas. Parou o olhar em uma delas, analisando, e então percebeu que nelas havia asas grandiosas e flácidas. Sobrevoavam o local, e depois iam rumo em direção a um lugar desconhecido.

Ruídos.

Escutou ruídos ecoando bem baixo, a uma pequena distância ao seu redor; algo parecido como graveto seco sendo esmagado.

Começou a ficar aflita. Nervosa. O corpo estremeceu, entrando num estado de arrepio.

Estremeceu sem parar, até cambalear algumas vezes. Observou a si mesma, dos pés a cabeça, e percebeu que estava toda suja de terra. A roupa toda rasgada, feito trapos. Enfim... Nua.

Foi andando devagar, descalça. O ruído ficando mais audível. O analisou, sem perder o foco entre a mata. Uma dose incontável de adrenalina invadindo seu estado emocional.

Virou o corpo em uma circunferência e remexeu os olhos de lá pra cá, tentando enxergar o que era. Vida? Talvez.

Foi então que sentiu o seu corpo mudar rapidamente. Um enorme clarão bateu em suas retinas, fazendo que não enxergasse absolutamente nada, a não ser a escuridão. Gemeu. Uma dor insuportável penetrou em sua cabeça, de modo assustador. Depois veio aquele ruído. Mais forte e mais brando. O volume foi aumentando de vez, até chegar numa vibração sem fim. Tombou no solo.

De repente a dor foi embora. Tomou fôlego. O alivio vindo aceleradamente, mais sua visão... Espere! Percebeu que não estava cega, ali, mas sim todo o lugar fora invadido por uma escuridão infinita. A luz desapareceu completamente. Sentia que estava num mundo pavoroso, onde aquelas criaturas com asas se transformarão em algo muito pior. Grande. Perigosa. Diabólica.

Novamente girou o corpo, vendo a floresta inundada pela escuridão das trevas. Queria sair dali. Fugir. Encontrar alguém. Em uma fração de segundos, quando esse pensamento veio em sua cabeça, aconteceu o que queria. Mais não como desejava. Contudo, começou a sentir um cheiro horrível. Pútrido. Um fedor de carne sendo decomposta pelo tempo. Quase vomitou.

Seguiu aquele cheiro forte, e então veio a surpresa. Um cadáver estava jogado pelo solo, feito espantalho, repleto de moscas carnívoras horripilantes consumindo os retos mortais. Jesus!

Foi nessa hora que seu nervosismo mudou de intensidade. O que era aquilo? Perguntou-se, ao ver um grupo de nove gatos pretos selvagens, com os pelos espessos e eriçados, se aproximar do corpo. Juntos cada um deles, começou a dilacerar em cada parte do corpo a carne podre, espantando as moscas na mesma hora. Os olhos dos bichos eram de um espanto total. Juntos, eles transmitiam pavor, uma sensação ruim. Inferno. Escuridão. Trevas. Eles pareciam vir do inferno. Sedentos de fome. Fome de carne fresca, de sangue fresco.

Assustada e boquiaberta, ela avançou alguns passos para trás, distanciando deles. O seus olhos fixo naqueles gatos medonhos e ruins.

Um deles parou a refeição, e começou a encará-la de um jeito traiçoeiro. Diabólico. A boca toda cheia de sangue, e carne entre os dentes afiados. Ela ficou aflita. Sem ter como agir. Imaginou se eles iriam atacá-la como fizeram com a pessoa jogada na terra. E agora?

O animal foi se aproximando lentamente, com a expressão odiosa. Ela foi se distanciando ao mesmo tempo, tropeçando em uma rocha pontiaguda. Um ferimento foi aberto em sua perna, de modo que uma pequena quantidade de sangue se escorreu entre a pele. O gato sentiu o cheiro. O cheiro de seu sangue. Logo os outros perceberam a presença dela, ali, e também começaram a avançar, soltando miados traiçoeiros. Três de cada lado, em cada direção, começou a cercar a mulher. Foi então, que ela percebeu que tinha que dar o fora dali, o quanto antes. Começou a correr. Correr a toda velocidade. Gritou. Um berro insurcerdante incomodou os gatos, ou quem estivesse ali por perto.

Os bichos do inferno se dividiram, e cada um deles começou a correr em diversos lados, tentando avançar nela, de modo que sua cabeça fosse o principal alvo do banquete macabro.

À medida que ela corria, o sangue pingava pelo solo, permitindo que os gatos farejassem o caminho. Eles queriam sangue, a fonte da vida para eles, como a água para os humanos.

Não tinha mais forças para correr. Logo percebeu que precisava parar, e se enconder, mais capitulou que seria impossível, diante daquela escuridão profunda. Estava começando a se sentir num poço. Numa solitária.

Foi logo atravessando a mata, até encontrar uma pequena gruta. Viu que a fonte secara. Que não havia mais água. Correu para dentro dela, a fim de se esconder. De se proteger.

Colocou as mãos nos joelhos, para tomar um pouco de ar. A respiração acelerada. Os batimentos cardíacos também.

De onde estava, viu os gatos vindo correndo, feitos fantasmas. Não tinha como enganá-los. Eles sabiam onde ela estava, e não perderiam tempo.

A mulher foi entrando cada vez mais, para o meio da gruta. Escutou barulhos de infiltrações entre as rochas escarlates. Queria sair dali. Queria ir para casa. Os gatos chegaram à entrada da gruta. Eles sentiam o sangue dela por ali, em algum lugar.

Foram entrando. A moça caiu. Sentiu uma poça de água em sua cintura. Estava num meio de uma perseguição de criaturas malditas. Deveria poupar sua vida.

Um miado surgiu na frente dela. Ela gritou. Talvez ela não tivesse percebido mais onde ela estava, era a toca dos felinos do inferno. Era ali que todos eles viviam. A espreita. A espera de uma oportunidade para atacar.

Um monte deles estava vindo, quase a poucos metrôs dela. A mulher vislumbrou aquele lugar, como o caminho para o inferno. Era impressionante como aquele local fedia a uma coisa forte. O calor aumentando em segundos. Aranhas e outros insetos peçonhentos grudados na rocha.

O que faria agora?

Ela foi correndo, desviando das paredes rochosas até quando sua imaginação pudessem atingir. Quando então, sentiu por entre as suas costelas, um arranhão enorme. Era tarde demais. Um dos gatos pulara em cima dela, e a atacou fortemente. Tão logo, ele e seus companheiros, dilaceraram a carne da moça. Ela gritou de dor, já vendo a morte aparecer. Um dos bichos avançou na cabeça dela, e rasgou seu couro cabeludo, de modo que um tufo de cabelos foi arrancado sem misericórdia. O sangue começou a escorrer entre sua pele. O coração parando de bater.

Um gato arrancou um pedaço de carne, na altura de sua perna. No mesmo lugar onde estará o ferimento. A dor invadiu seu cérebro. Quando percebeu, mais de trinta gatos já vinham se banquetear com mais uma vítima do submundo. Eles miavam de prazer. De satisfação. A coisa cortou uma de suas artérias, e ela viu que já não tinha mais volta. Eles eram os gatos malditos.

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Dominick acordou, berrando sem controle. Toda desajeita em cima da cama, naquela hora da madrugada. Jorge, o marido, acordou assustado tentando ver o que o acontecera. Logo viu a mulher sentada sobre a cama, gemendo. Suando frio.

— Ei o que foi? – disse ele.

Quando Dominick foi olhá-lo, com o rosto extremamente jovial, sentiu uma pequena dor em sua perna.

Descobrindo o membro esquerdo, tirando o lençol de cima, os seus olhos se arregalaram. O ferimento fora real. O sangue inundou todo o lençol manchando-o na mesma hora, e também fora real. Logo ela viu que o pesadelo foi muito real.

Wendel de Almeida

W West
Enviado por W West em 08/02/2010
Reeditado em 20/05/2010
Código do texto: T2076652
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