METAMORFOSE

“Quero dizer agora o oposto do que eu disse antes

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”

(Raul Seixas)

“ Ou não!”

(G. Balione)

"A razão da eterna evolução do universo é que todas as coisas se movimentam em perfeita ordem."

( M. Okada )

“ Ou não!”

(G. Balione)

"Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta."

(Autor desconhecido)

“ Ou não!”

(G. Balione)

Milhões e milhões de anos se passaram, e o universo continua em constante evolução. E ao longo desses milhões de anos, mutações nos tornaram o que somos hoje. E o que seremos amanhã?

2010

Parada Gay – São Paulo

Milhares de pessoas se aglomeravam na avenida mais famosa de São Paulo a Avenida Paulista. O evento, era para ser realizado no estádio do Morumbi, mas ouve muita reclamação por parte dos dirigentes do time de futebol, dono do estádio, e a Parada voltou para a Avenida Paulista. Várias emissoras de televisão, do Brasil e do mundo, cobriam o evento. Alegria e descontração total, em uma das maiores festas para gays e simpatizantes do mundo. O policiamento havia sido reforçado para impedir qualquer eventualidade. Muitos pais com seus filhos assistiam a festa alegre e colorida. De repente as pessoas começaram a cair pela avenida, parecia uma avalanche de pessoas, estatelando-se no asfalto quente da avenida paulista. Curiosamente, isso só estava acontecendo com o sexo, é... Bem... Digamos, masculino. Seria um mal súbito coletivo do sexo masculino? As pessoas ficavam inertes, esparramadas no chão. Alguns policiais, pais de família e repórteres tiveram o mesmo problema. O corpo de bombeiros foi acionado, mas eles também passavam pelo mesmo problema, com o número reduzido do contingente, poucas viaturas chegaram ao local, para atender as vitimas. No mesmo instante em que tudo isso acontecia, três emissoras de televisão brasileira, tiveram seus âncoras, masculinos, acometidos pelo mesmo mal, ao vivo. Quem assistia o noticiário, viu os apresentadores caírem sobre o balcão do telejornal, até a imagem ser retirada do ar, que em duas emissoras isso não foi feito, pois alguns técnicos de áudio e vídeo também caíram duros no chão.

Começava, então, a chegar informações, de que a mesma coisa estava acontecendo em vários lugares do mundo. Vários jogos de futebol, pelo mundo, foram interrompidos, pois metade dos times havia sucumbido pelo mesmo mal. Cafés, bares, restaurantes, hospitais, repartições públicas, escolas, igrejas, etc. Uma votação em andamento no congresso nacional foi interrompida, mais da metade dos parlamentares estavam pelo chão do congresso. Falou-se em ataque terrorista, mas então por que não atingiu a todos? Alguma arma química? O fato é que não acontecia com mulheres, crianças do sexo masculino e com alguns homens. Incrivelmente, as empresas de telemarketing que só tinham funcionários do sexo feminino, trabalhavam a todo o vapor. Alguns diretores destas empresas foram encontrados em suas salas, caídos atrás de suas mesas. Alguns ainda tinham em suas mesas xícaras de café quente. Um diretor fala com sua esposa ao telefone, avisava que iria chegar tarde, pois iria a uma partida de tênis com o seu melhor amigo, que também era diretor de outra empresa. A mulher xingava o marido, reclamando que era toda noite a mesma história, e o telefone ficou mudo.

Shows de rock, heavy metal, música pop, emos, tiveram alguns integrantes estatelados no chão. As bandas emos tiveram todos os integrantes estatelados no chão.Alguns cantores, na hora do mal súbito, caíram dos palcos, em cima das pessoas que assistiam ao show, e que também estavam no chão pelo mal desconhecido, Alguns programas dominicais que estavam no ar, tiveram seus apresentadores e convidados, inertes, no chão. Uma dupla sertaneja também não escapou. Seria o fim do mundo?

Ninguém estava morto, apenas estavam em estado de coma profundo, não reagiam a estímulo algum. Mas respiravam e tinham batimentos cardíacos normais. Não havia mais onde colocar tantas pessoas, não existiam leitos suficientes nos hospitais, que já estavam debilitados, pois alguns médicos e enfermeiros sofreram do mesmo mal. Foram improvisados, aí sim, no estádio do Morumbi, tendas com leitos para uma parte das pessoas acometidas pelo mal. Os dirigentes do clube, dono do estádio, não reclamaram desta vez, pois também estavam sem sentidos. Vários acidentes de transito foram relatados. Acidentes aéreos também aconteceram. Seria o arrebatamento?

Alguns padres caíram sobre o altar junto com seus coroinhas, a mesma coisa aconteceu com pastores em algumas igrejas evangélicas, lá estavam eles caídos sobre seus púlpitos. Outras denominações e crenças religiosas tiveram o mesmo problema. As ruas estavam tomadas por corpos. Foram chamados vários especialistas e cientistas, para uma conferencia mundial em caráter de urgência. Um especialista mundial em mal súbito foi chamado para a conferencia, mas não atendeu ao chamado, sua secretária avisara que ele havia sofrido do mal súbito.

Três dias após os acontecimentos, foram reunidos para discutir as possíveis causas do mal súbito. Por incrível que pareça a maioria eram mulheres, havia poucos homens. Mas nem deu tempo para discussões. Todos os representantes foram chamados de volta aos seus países de origem, pois algo muito estranho estava acontecendo com as pessoas vitimas do mal súbito, elas estavam se transformando em uma forma de casulo, seus corpos liberavam um liquido viscoso que se transformava em uma fibra muito resistente, que se solidificava e deixava uma carapaça dura.

Alguns cientistas chegaram a uma conclusão: o mal súbito só acontecia com gays. O acontecimento foi no mundo todo e em todas as raças. Todos, que foram acometidos pelo mal súbito, foram ao mesmo tempo. Uma bomba relógio biológica. Esta informação caiu como uma bomba. Até que fazia sentido, pois nenhuma comunidade gay contestou a conclusão, então os religiosos aproveitando da situação, diziam que era a ira de Deus, castigando os de alma impura, pela perversão sexual que assolava o mundo. Mas logo abandonaram essa idéia, pois muitos dirigentes e seguidores, foram acometidos pelo mesmo mal.

Gregori estava incumbido de supervisionar o grupo de supervisores dos casulos, que ficavam na ala direita do estádio do Morumbi. A ala esquerda, quem cuidava era Damião. A iluminação estava desligada, havia um racionamento de energia, as usinas não tinham gente suficiente para o trabalho. Mulheres estavam sendo treinadas para trabalhar onde antes estavam os homens. Todos os supervisores já estavam dormindo, inclusive Damião. Gregori estava sozinho, no meio de um monte de casulos inertes. Escutou um barulho vindo do seu lado esquerdo. Correu para o lado direito e se escondeu atrás de uma mesa. Outro barulho e mais um, e outro, e outro. O som era de algo quebrando, rachando. Ficou assustado, o som vinha, agora, por todos os lados, decidiu ficar ali mesmo e ligar para a central dos supervisores.

— Alô! Olha vocês precisam vir até aqui.

— Quem está falando? — perguntou no gerúndio, uma voz feminina do outro lado.

— Gregori!

— Não temos nenhum Gregório aqui!

— Não! É Gregori!

— Não temos nenhum Gregori aqui!

— Não! Aqui quem fala é o Gregori, Chefe dos supervisores da ala esquerda do estádio do Morumbi.

— O senhor esta ligando para o lugar certo?

— Quem fala?

— Aqui é a Marta do call center da Duílio & Duílio Express.

— Ah! Desculpe foi engano. Merda, disquei o número errado... Alô, de onde falam?

— Da central de supervisores!

— Aqui é o Gregori, o chefe dos supervisores. Acho melhor vocês mandarem uma equipe pra cá, estão acontecendo coisas estranhas aqui no estádio do Morumbi.

— Ala esquerda ou direita?

— Esquerda!

— Ok Gregório! Estaremos enviando uma equipe, para estar verificando o que está acontecendo. — respondeu no gerúndio a atendente.

Em todos os lugares os casulos estavam se abrindo, todos estavam apreensivos. O que havia dentro dos casulos? Essa era a pergunta. Pessoas se aglomeravam em torno dos casulos. De repente, como se fossem flores desabrochando. Todos os casulos, no mundo inteiro, se abriram, revelando a coisa mais bela do mundo. Borboletas, borboletas gigantes, de cores variadas, magníficas borboletas. Com as asas enroladas, ficaram esperando calmamente o sangue circular por elas, após algumas horas, lá estavam elas, exuberantes e coloridas, brilhavam a luz do sol. Todos estavam maravilhados.

Gregori estupefato, foi verificar bem de perto a gigante borboleta. Foi o primeiro a ser atacado. A enorme borboleta voou para cima do rapaz, enfiando a sua tromba sugadora na cabeça dele, sugando todo o seu cérebro. E depois alçou vôo.

Centenas, milhares, milhões de borboletas gigantes voavam, cobrindo o céu, vários ataques foram relatados. Elas atacavam e sugavam o cérebro das pessoas. A cena era repugnante, a borboletas seguravam as pessoas com suas patas peludas, e uma tromba desenrolava-se e perfurava o crânio, sugando todo o cérebro até fazer aquele som característico do canudinho no copo vazio. As pessoas estrebuchavam até virar os olhos e caiam com suas cabeças ocas. Algumas pessoas que já tinham as cabeças ocas, desde a infância, nada sofreram. O exército, também com o contingente reduzido, estava nas ruas. Um general linha dura que, por incrível que pareça, sofreu a metamorfose, se tornou na borboleta alfa.

Um jovem enfurecido, pois viu seu pai e seu irmão se transformarem em borboletas e atacarem a sua mãe, avançou com o carro por cima dos três. Uma das borboletas, o seu pai, se espatifou no pára-brisas do carro, deixando uma meleca amarelo-esverdeada. Ele tentou ligar o limpador, mas a meleca só piorava. A outra borboleta, o seu irmão, ficou grudada na grade dianteira do carro. O rapaz olhou no retrovisor e viu sua mãe rolar no asfalto, já sem vida. Furioso e desesperado, enfiou o carro em um muro, que por ironia, tinha um pôster do filme Efeito Borboleta. Esmagou seu irmão e se esmagou também. Era o fim de uma família inteira.

Na galeria do rock, na Rua Vinte e quatro de maio, no centro de São Paulo, alguns roqueiros alienados, fãs de Raulzito, fumavam um baseado e ouviam Metamorfose Ambulante, quando foram atacados por um panapaná e tiveram seus cérebros sugados.

Um cortejo fúnebre que seguia pelas ruas de um cemitério, até o mausoléu da família, onde seria depositada a urna funerária com o ente querido, foi atacado por uma borboleta de óculos escuros, mas ela passou num vôo rasante, direto por eles, e roubou um vazo dourado, pintado a mão, com efeitos craquelê e com flores de plástico, azuis e vermelhas, aliás, de muito mau gosto, de um outro mausoléu adiante.

O corpo de bombeiros, procurando por sobreviventes, encontrou uma sauna masculina, onde havia 12 borboletas mortas. Morreram de fome e calor, não havia nenhum corpo humano no local. Foi encontrada uma filmadora, com cenas de orgia entre os doze participantes, todos do sexo masculino. As cenas eram impressionantes, tanto da orgia, quanto da metamorfose até a morte agonizante das borboletas.

A borboleta alfa organizou um ataque maciço, que dizimou mais da metade da população da terra. O restante da população, foi viver no subsolo. Passado alguns meses, as borboletas começaram a morrer de fome. Logo morreu a borboleta alfa, desestabilizando o panapaná todo. Os humanos começaram a deixar seus abrigos. Logo todas as borboletas estariam mortas e a humanidade voltaria ao normal, é claro que em números bem reduzidos e uma quantidade enorme de mulheres.

Pelotas – Rio Grande do Sul

Em uma pracinha qualquer.

— Bah! Mamãe! Mamãe! Corre, vem ver!... Olha o tamanho destas lagartas!

Fim

Panapaná - termo de origem indígena que designa uma grande quantidade de borboletas - um bando - que aparece em determinadas épocas do ano.

Gerson Balione
Enviado por Gerson Balione em 03/02/2010
Reeditado em 07/02/2010
Código do texto: T2067351
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