... Continuação dos capítulos anteriores postados aqui no Recanto.

A lenda de Hiphitusi

 
29. A esperança dourada

 
Mal conseguia ficar com os olhos abertos, achou que dormira por horas seguidas. Do seu lado tombado Roi ressonava com dificuldade.
Estavam agora de costas para a saída e revezavam o restante do oxigênio que restava em seu cilindro. O de Roi já acaba há um bom tempo e o desânimo cobrira o seu rosto, dando-lhe um aspecto de alguém derrotado.
Ela queria lhe dizer que não fora sua culpa, que ele fizera todo o possível, que estavam nisso juntos, e mais um milhão de coisas. Mas também estava fraca demais, consumida pelo tempo que passava impiedoso e lentamente sugava as suas vidas.
Abraçou o homem que amava e tentou levantá-lo, como não conseguiu deitou-se sobre ele e ficou com o rosto colado ao seu, tendo a pele espetada pelos fios de barba que cresciam em seu rosto. Ficou assim acariciando seus cabelos e sonhando acordada o que fariam se ainda houvesse uma esperança de saírem dali com vida.
Com certeza, pensou, visitariam teatros espalhados pelo mundo, numa jornada demorada que aconteceria por muitos anos. Podia vê-los sobre um mapa marcando as cidades que iriam visitar e as que ficavam para trás.
Quando se cansassem, por sugestão que ele dera na última conversa que tiveram horas atrás, comprariam uma casa de campo num lugar bem quente, pois ele amava o calor assim como a amava. E ali com o passar dos anos teriam filhos e se aquietariam. Por um tempo, é lógico, pensou sorrindo, depois retornariam às suas aventuras, afinal a vida toda não é um grande desafio? Sem ele viveriam, mas não na plenitude, sem ele era bem melhor não existir. Só sossegariam mesmo quando estivessem bem velhos e aí suas aventuras seriam ao lado dos inúmeros netos.
Seus filhos poderiam ou não seguir os seus passos, explorando o mundo ao lado deles, não os forçariam a nada, assim como foram criados. Mas se os fossem seguir, gostaria que fossem assim como o pai deles, corajosos e bons.
Vanuzia notou pelo canto do olho uma claridade atrás deles, que surgira e desaparecera de uma forma tão rápida que achou ter sido uma mera ilusão ou alguma peça que a fadiga lhe pregava. Mas pensou também que poderiam ser os tripulantes do mini submarino que, preocupados com eles, tentavam explodir a passagem e com isso alguma fresta de luz poderia ter adentrado o local. Resolveu conferir se estava certa ou não.
Fazendo o menor esforço possível, carregando o cilindro de oxigênio numa das mãos, foi engatinhando até próximo a saída. Aparentemente não havia nada de diferente acontecendo lá fora, apesar da visão turva que agora lhe servia tinha certeza disso.
Demorou para notar no chão, bem junto à parede, uma sacola que antes não estava ali, igual aquelas que retiraram dos templos, mas essa parecia um pouco mais cheia e um tanto quanto deslocada, pois por mais que estivessem correndo um enorme risco de nunca saírem dali, ela manteve a sua costumeira organização. Ficou ainda um tempo meditando e depois se arrastou até ela.
Ao abri-la seus olhos brilharam devido ao reflexo do seu conteúdo, que não era ouro, mas naquele momento valia bem mais que isso.
Retornou trôpega até junto de Roi deixando a sacola ali mesmo onde a encontrara, com medo de acordar de um sonho bom e descobrir-se em um pesadelo. Tentou inutilmente desperta-lo e ficou com medo do pior, mas ao checar seu pulso percebeu-o normal. Retirou a máscara de oxigênio e a colocou em sua boca, enquanto que com o outro braço o balançava sem parar. Não queria gastar ar chamando-o e, além disso, nem sabia se sua voz sairia normalmente, pois estava com a garganta seca.
Roi finalmente pareceu despertar e com um enorme sacrifício se sentou. Olhou em volta como se não soubesse mais onde se encontrava, até que ela o recolocou de volta a realidade.
-- Vista-se! – Ela cochichou em seu ouvido – Precisamos nos vestir, agora....
Ele nada entendeu, mas não estava em condições de discutir com ela, nem com ninguém. Vagarosamente recolocaram seus trajes de mergulho e engatinhando foram até a porta.
-- A ajuda chegou! – ele pensou ter ouvido ela dizer enquanto se arrastavam, depois teve certeza, pois ela repetiu – A ajuda chegou! – e completou – Não sei de onde, só sei que chegou...
 
 
Continua...
 
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JGCosta
Enviado por JGCosta em 30/01/2010
Código do texto: T2059323
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