solidão paradisíaca

Era fim de tarde, acho que eu estava sentada, apenas olhando o mar.

Então uma voz começou a sussurrar em meus ouvidos, falando baixo, eu quase pude sentir um tom de melancolia por detrás daquela firmeza. Resolvi ir pra longe e me sentei na pedra mais distante da berada pra praia. Tentei ver o fundo do mar, mas ele ja estava distante o bastante para que meus olhos alcançassem. Então, quando me dei conta, aquela voz, doce e baixa, cresceu. Ela gritava, ordenando: "pule, pule!". Eu recuei, tentei lutar, disse não, mas quanto mais eu negava, mais a vontade falava, gritava, esperniava. Eu tapei os ouvidos, ela não cessou. Eu tentei pensar em outras coisas, mas em cada pensamento turvo lá estava a voz me dando motivos para cair. Resolvi me esconder e apenas a ignorei -foi o bastante para que a voz se acalmasse - ela deu uma tregua, eu achei que fosse meu momento e me levantei, sabendo que agora eu estava por cima. Sorri para algo inexistente, a voz voltou, num tom de arrependimento, começou novamente: " não há dor, não há sofrimento, pule ". Quanto mais suavimente ela falava, mais eu me aproximava do final da pedra, aonde eu me desaguaria.

Quando ja estava na beira do abismo o mar me estendeu a mão, eu hesitei, esperando que a vontade me empurrasse para o fundo, mas ela nem ao menos se manifestou, eu decidi, pulei - para a miriade do meu ser, para o oceano - Me vi afundar e não lutei, não tentei, definitivamente, eu não rezei, apenas me deixei levar... onde não há dor, nem sofrimento, eu me entreguei e ja era hora.