Entre o céu e o inferno - Cap.1 - Tudo que importa

ENTRE O CÉU E O INFERNO

CAPÍTULO 1

“Tudo que importa”

ESCRITO POR:

Bianca Carvalho

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***

Era uma linda noite de junho e todos concordavam com isso. A noite perfeita para uma festa cheia de música, pessoas bonitas e bebida. Era o que Jillian Devane pensava também, até aquele momento.

Sentada em um canto da sala de estar da casa onde estava sendo sediada a festa, ela observava o namorado Liam Anson e seu melhor amigo Jonathan Smith. Já estavam um pouco altos e Jillian não gostava nada daquilo. Ainda tinham um longo caminho para percorrer até em casa e de carro. Confiava em Liam. Sabia que seu estado era bem melhor do que o do outro, mas ainda sim, alguma coisa a incomodava. Tanto, que ela mal conseguia voltar a se divertir.

Estava tão concentrada em seus pensamentos, que mal percebeu que Phebe Chapman, seu melhor amiga se aproximava.

- Jillian! Não acredito que você está sentada! – Phoebe, que também já tinha bebido um pouco além da conta, assusta a amiga.

- Que susto, Phoebe! – Jillian repreende, mas logo já estava rindo. – Estou cansada e preocupada. Não acha que os meninos já beberam demais? – ela pergunta e sua expressão fica bem mais séria.

- Você tem razão. Está na hora de darmos um toque neles.

- Sim! Já está mais do que na hora de irmos embora! – Jillian concorda levantando-se e indo atrás de Phoebe para conversar com os rapazes. Ambas sabiam que seria um trabalho difícil. Jonathan iria reclamar bem mais do que Liam, mas elas teriam que conseguir.

As duas vão até o outro extremo da sala, onde Liam e Jonathan conversavam animadamente, ambos com copos de cerveja nas mãos e provavelmente já tinham perdido a conta de quantos iguais àquele já tinham bebido.

Liam vê Jillian se aproximando, passa um braço ao redor de sua cintura e a beija com carinho. Já Jonathan, passa o braço desajeitadamente pelo ombro de Phoebe e a puxa mais para perto, quase fazendo-a perder o equilíbrio.

- Meninos, não acham que está na hora de irmos para casa? – Phoebe indaga em um tom de reprovação.

- Ah amor, o que é isso? Ainda está cedo, qual o problema de ficarmos mais um pouco? – Jonathan reclama com a língua enrolada de tão embriagado que estava.

- O problema é que vocês já beberam um bocado e eu pretendo chegar viva em casa! – Jillian acrescenta.

- Vamos Jon... as meninas têm razão! Temos que pegar a estrada ainda! – Liam fala com sua paciência peculiar. Isso era o que Jillian mais admirava nele e também o fato de que ele era capaz de tudo por ela.

- Seu bando de caretas! Eu estou ótimo! Seria capaz até de ganhar a fórmula 1! – Jonathan brinca e todos riem. – Estão duvidando? Liam, que tal me deixar dirigir seu carro para que eu possa provar?

- Nem se eu estivesse louco! – Liam diz rindo. – Vamos meninas! Deixem esse doido que eu sei que ele vai acabar nos seguindo.

Exatamente como Liam dissera, Jonathan também resolveu deixar a festa, quando viu que não havia outra alternativa. Então, os quatro seguiram para o carro e tomaram a estrada de volta para casa.

Jillian era a mais atenta dentro do carro, além de Liam. Observava a estrada com cautela, pronta para avisar o namorado de qualquer problema. Sentindo que ela estava tensa, Liam pega sua mão. Ela olha para ele e sorri.

- Não precisa ficar preocupada, Jill! Daqui a pouco estaremos em casa! – Liam fala com uma confiança tão grande, que sem saber porque, Jillian se sente mais aliviada.

- Acho que estou cansada, deve ser por isso que estou tão tensa.

- Por que não fecha um pouco os olhos? Quando chegarmos eu aviso.

- Tudo bem! – Jillian concorda com um sorriso nos lábios. Liam, por sua vez, leva a mão dela que ainda estava na sua à boca e a beija com carinho.

Ela, por sua vez, olha para trás para checar como estavam seus amigos e vê os dois se beijando apaixonadamente, ambos bêbados. Jillian ri da cena e acaba fechando os olhos, conforme tinha dito para Liam que faria.

Relaxada, ela pensa em Liam e na sorte que tinha em tê-lo. Namoravam há bastante tempo e desde o início da faculdade, pretendiam encontrar um apartamento para morarem juntos. Essa idéia a agradava, uma vez que era muito fácil conviver com ele. Sabia que se dariam muito bem. Pensava também em Phoebe e Jonathan e concluía que era uma jovem feliz. Tinha tudo que alguém podia desejar – um ótimo namorado, amigos maravilhosos e uma vida tranqüila. Não precisava pedir mais nada.

Aqueles pensamentos lhe traziam tanta paz, que ela teria cochilado, se não tivesse ouvido a voz de Phoebe, desesperada gritando: “Liam, cuidado!”.

Jillian abriu os olhos assustada e só teve tempo de ver um clarão forte vindo dos faróis de um caminhão que ia em direção ao carro deles. Liam desviou, mas o carro começou a capotar de maneira violenta. Enquanto via tudo rodar, Jillian lembrou de todos os seus pensamentos minutos antes. Lembrou da paz que sentira e quando o carro parou, ela tentou ignorar a dor imensa que sentia acima do quadril, lembrando do quanto tinha sorte...

Algumas horas depois, os quatro jovens chegavam no hospital gravemente feridos. Jillian foi levada às pressas para a sala de cirurgia. Uma peça do carro se soltara e penetrara em sua barriga, bem na altura da cintura. Ela tinha perdido muito sangue e precisava de uma transfusão urgente.

Enquanto a levavam para a sala de operações, algumas enfermeiras comentavam a falta de juízo daqueles jovens que bebiam exageradamente e acabavam acidentados ou mortos.

Jillian, lutava pela vida, enquanto os cirurgiões a operavam. Faziam de tudo para salva-la, mas de repente, no meio da cirurgia, o coração dela pára e não volta a bater nem mesmo com todas as tentativas de ressucitação.

- Hora da morte: 5:47 da manhã. – o cirurgião constata, sentindo-se derrotado, enquanto uma enfermeira anotava tudo em seu relatório.

Enquanto isso, Jillian se via em um corredor escuro. Ela caminhava sem saber aonde deveria chegar, até que vê uma luz, e dentro dessa luz, havia uma criatura branca, que sorria para ela. Embora estivesse de braços abertos e transmitisse uma paz que ela queria naquele momento, ela sabia que tinha uma escolha. Era isso que o ser de luz oferecia, uma alternativa de voltar ou seguir até ele e abraçá-lo. Ela hesitou por um bom tempo e depois que decidiu que queria mais uma chance.

Na sala de operações, portanto, todos os presentes se surpreendiam com o coração de Jillian que sem explicação começava a bater.

Depois de ter se salvado milagrosamente da morte, Jillian ainda ficou alguns dias inconsciente. Foi apenas uma semana depois que ela acordou com sua irmã Ashley a seu lado.

- Bem vinda de volta! – Ashley exclama dom lágrimas nos olhos.

- O que aconteceu? – ela indaga confusa. Não conseguia se lembrar perfeitamente do acidente, apenas da luz e da escolha que tivera que fazer para voltar à vida.

- Você sofreu um acidente, está no hospital, mas está viva!

Imediatamente Jillian se lembrou da luz do farol do caminhão a cegá-la e da voz de Phoebe gritando para Liam ter cuidado.

- Meus amigos! – ela fica agitada e Ashley pega sua mão.

- Liam e nossos pais estão lá fora. Estamos nos revezando para cuidar de você! Quer que eu os chame?

- Sim!

Ashley deixa o quarto da irmã para chamar os pais, enquanto Jillian fica sozinha pensando em todas as coisas que tinham acontecido. Lembrava-se perfeitamente do caminho escuro que percorrera e do ser de luz. Sabia que não era fruto de sua imaginação e que não estava ficando louca.

Alguns minutos depois, o senhor e a senhora Devane entram no quarto de Jillian. Estavam com os olhos cheios d´água e tinham olheiras das noites mal dormidas que passaram desesperados enquanto ela não acordava. Jillian sentiu-se culpada por aquilo e também começou a chorar.

- Desculpem-me! – ela pede depois que eles se aproximam.

- Querida, não chore! Você está conosco outra vez e isso que é importante! – Olívia Devane diz sorrindo por entre as lágrimas.

- Como está se sentindo? – Gordon Devane indaga preocupado.

- Estou bem, apenas cansada. – ela sorri.

- Isso é normal! – Ashley diz.

- Ash, eu queria falar com Liam, eu posso? – Jillian indaga. Estava ansiosa para saber sobre os outros, apesar de estar satisfeita por ter a família por perto.

Jillian e Ashley viviam longe dos pais desde que entraram para a faculdade. Tomavam conta de si mesmas e gostavam da liberdade que tinham em sua vida, mas na maioria das vezes, sentiam falta dos pais, do carinho e da vida fácil que tinham com eles.

Ashley consente e vai chamar Liam. Os pais dela permanecem no quarto por mais algum tempo, até que o rapaz aparece. Estava, assim como os outros, muito preocupado com a namorada. Ele se senta na cadeira ao lado da cama e pega a mão dela. Jillian percebe que ele tinha um corte na sobrancelha e a mão estava enfaixada.

- Não sabe como fiquei preocupado, meu amor!

Vendo que eles tinham muito o que conversar, os familiares de Jillian saem do quarto deixando o casal sozinho.

- Liam, e os outros? Como estão? – ela indaga. Não suportava mais não saber o que estava acontecendo.

- Phoebe está bem. Na verdade, ela não consegue sentir as pernas, mas os médicos dizem que se ela fizer a fisioterapia, vai ficar curada.

- E Jon? – Jillian já previa que ele diria algo bem ruim, especialmente quando demora para responder.

- Jon está morto, Jill! – Liam tinha muita dor ao falar.

Jillian mal podia acreditar no que tinha acabado de ouvir. Queria acreditar que estava vivendo um pesadelo e que quando acordasse estaria em sua casa prestes a encontrar seus amigos e seu namorado. Phoebe sem conseguir andar e Jonathan morto, era demais para ser verdade. Ainda estática com a notícia, ela fica em silêncio.

- Jill, estou me sentindo tão culpado pelo acidente! Ainda mais que eu estava dirigindo embriagado e fui o que menos saí ferido. – ele chorava como uma criança, até que ela passa a mão em seu rosto.

- Não se culpe! Tinha que acontecer. Se não fosse dessa maneira seria de outra. – Jillian tentava consolá-lo, mas a verdade era que estava quase sufocando de dor.

Era claro que estava tentando se controlar para não culpar Liam. Tinha avisado que já estava tarde e que era melhor que não bebessem tanto, mas não fora ouvida. Estava se controlando porque ele também estava sofrendo.

- Ah, Jill... o que faremos sem Jon? – ele indaga desesperado.

- Não sei Liam, não sei! – ela responde mantendo o carinho em sua cabeça.

Jillian permanece no hospital por mais uma semana em observação, mas sua recuperação foi tão rápida que prometeram que ela teria alta dentro de dois dias. Porém, no dia do enterro de Jonathan, ela insistiu que queria ir e o médico liberou, desde que ela voltasse para o hospital para completar seus exames e o período de observação.

O clima do velório estava terrível. Os pais de Jonathan estavam inconsoláveis e Jillian podia perceber que estava muito zangados com Liam. Era também a primeira vez que ela e Phoebe se encontravam. Era insuportável ver aquela jovem cheia de vida em uma cadeira de rodas com uma expressão deprimida que ela nunca vira em seus olhos. As duas trocaram apenas alguns olhares durante a cerimônia.

Depois do enterro, Jillian avisou a Ashley e Liam que iria falar com Phoebe. As duas, assim que ficaram próximas, podiam sentir que havia uma tensão estranha entre elas.

- Olá Phoebe, como você está? – Jillian pergunta.

- Bem, na medida do possível. – ela responde, antes de desabar no choro. Jillian se abaixa e a abraça. – Jill, não vou suportar tudo isso, o que aconteceu conosco?

- Não sei querida! Não sei, mas estamos vivos, e é tudo que importa!

- Devia importar, mas não sei...

- Não fale besteiras! Vamos ficar bem, você vai sair dessa cadeira de rodas e vamos superar tudo!

- Liam não teve culpa! – Phoebe afirma. – O motorista do caminhão estava bêbado e veio na contramão.

- Não sabia disso! – Jillian se arrepende de ter pensando que ele era culpado.

- Ele está sendo torturado pelos pais de Jonathan. Eles nem querem me ouvir quando eu falo a verdade e não acreditam que o filho estava mais bêbado do que todos nós juntos.

- Com o tempo eles irão colocar a cabeça no lugar e vão lhe dar ouvidos.

- Não sei. Talvez eles precisem de alguém para culpar.

As duas conversaram por mais algum tempo, até que Ashley afirma que estava na hora dela voltar para o hospital. Jillian e Phoebe se despedem e cada uma segue seu caminho. Contudo, quando Jillian está entrando no carro da irmã, ela avista um homem estranho, escondido atrás de uma árvore observando-a.

Jillian voltou para o hospital e teria que passar a noite lá para ir para casa no dia seguinte. Ela estava prestes a dormir, quando ouve um barulho. Havia alguém em sua porta e ela acorda sobressaltada.

Quando abriu os olhos, ela viu um vulto passando e começou a ficar com medo. Sabia que exatamente aquela noite ficaria sozinha no hospital porque todos estavam cansados demais e ela pediu que fossem para casa.

Decidida a saber o que tinha acontecido, Jillian levanta da cama e segue o vulto. Ela entra então em um quarto que estava vazio e vê uma menina de mais ou menos seis anos encostada em uma parede muito assustada. Do seu lado, parado também, estava aquele homem que ela tinha visto no cemitério.

- Jillian Devane? – ele indaga.

- Como sabe meu nome? – Jillian indaga amedrontada.

- Recebi uma mensagem dizendo que você seria a escolhida.

- Escolhida, para quê? – ela nada entendia.

- Para falar com os mortos...

Jillian teve de segurar a vontade de rir. Era óbvio que aquele homem era louco e ela devia estar perdida na ala psiquiátrica. Ele era tão sinistro, apesar de muito atraente, que mal parecia notar a menina que estava toda encolhida de medo.

- Você só pode estar brincando. Qual seu nome?

- Brendan Lang!

- Brendan Lang, acho que você escolheu a pessoa errada e o momento errado para pregar uma peça. Acabei de passar por umas situações bem ruins e não mereço isso! – Jillian revolta-se e já ia saindo do quarto, mas uma frase de Brendan chama-lhe a atenção e ela volta atrás.

- Você sabe que teve uma experiência de quase morte, não sabe? – ela pára para prestar atenção nele. – Fiz algumas pesquisas para você e acho que em seu período de recuperação em casa, vai ter bastante tempo para ler isso tudo. – ele lhe entrega uma pasta cheia de papéis impressos da Internet e recortes de jornal.

- Não estou entendendo!

- Mas vai entender! E quando entender, vai ser capaz de pegar o número do meu telefone que eu deixei dentro da pasta e me ligar, pois vai precisar da minha ajuda! – Brendan não diz mais nada, apenas sai do quarto, seguido pela menina, mas ele sai pela porta normalmente, ela atravessa a parede, deixando Jillian estupefata.

Na manhã seguinte, Ashley e Liam foram buscar Jillian no hospital para levarem-na para casa. Apesar de estar feliz por voltar para casa, ela ainda não conseguia tirar da cabeça o tal Brendan Lang e principalmente a linda garotinha que atravessara uma parede de concreto com a maior facilidade.

Durante o dia inteiro, Jillian foi paparicada pela família e pelos amigos. Phoebe foi visita-la e estava com a aparência ainda pior do que no dia do velório. Era como se aqueles três jovens cheios de vida tivessem envelhecido a noite para o dia.

Finalmente, quando ficou sozinha, alegando que precisava descansar, foi que conseguiu pegar a pasta que Brendan lhe tinha dado. Haviam várias anotações sobre experiências de quase-morte e ela pôde ler vários depoimentos de pessoas que passaram pelo mesmo que ela. Descreviam que enquanto estavam inconscientes, viram claramente um túnel ou um caminho escuro, seguido de uma luz forte que transmitia paz. Na maioria dos casos acontecia isso, mas em muitos deles, as histórias eram distintas, com interpretações muito pessoais. Algumas pessoas afirmavam que tinham visto o corpo, como se estivessem fora dele. Entretanto, o que mais chamou a atenção de Jillian foi o depois. Muitos depoimentos contavam que essas pessoas tinham comportamentos diferentes depois dessas experiências. Algumas, passavam a simplesmente não ter mais medo da morte, outras ganhavam dons especiais que se manifestavam de maneiras muito distintas. Claro que a maioria dessas histórias não eram reveladas e Jillian concluiu que a pesquisa de Brendan fora tão profunda que ele, pessoalmente tinha procurado aquelas pessoas e feito uma entrevista com elas. Ela também desconfiava que ele tivera aquele trabalho todo por algum motivo muito pessoal.

No final da pasta havia um recorte de jornal – noticia sobre a morte de uma menina de sete anos, vítima de um acidente doméstico. Ela tinha caído da janela de um prédio, mais precisamente do oitavo andar. Jillian ficou impressionada ao ver que a menina, cujo nome era Emily, era a mesma que ela havia encontrado na noite anterior, no hospital.

Ainda impressionada com aquilo tudo, ela pegou o telefone e discou o número de Brendan, que exatamente como ele tinha dissera, estava no final da pasta. Com apenas um toque, ele atendeu, já imaginando quem poderia ser.

- Brendan Lang? Aqui é Jillian Devane.

- Sim Jillian, pode falar! – ele diz ansioso.

- Quando podemos nos encontrar? – ela indaga, com a voz hesitante, sem saber se o que estava fazendo era mesmo certo.

- Quando e onde você quiser! – ele responde animado.

- Amanhã às onze da manhã do café Stuart´s, sabe onde fica?

- Sei sim! – ele faz uma pausa e ela já ia desligando, quando ele a chama de volta. – Jillian, espero que esteja preparada para as coisas que vai ver e ouvir.

Jillian não estava preparada, mas se não descobrisse logo do que aquilo tudo se tratava, acabaria louca.

Pouco antes da hora que tinha marcado com Brendan, Jillian estava prestes a sair de casa, quando Ashley a impede.

- Ei mocinha, onde pensa que vai? – Ashley repreende.

- Vou dar uma volta!

- Ah, não vai não! Acabou de sofrer um acidente e precisa se recuperar. De mais a mais, papai e mamãe foram embora porque eu prometi que cuidaria de você. Eles não podiam ficar e não quero que sejam obrigados a faltar mais dias no trabalho por causa de negligência minha.

- Ash, eu prometo que não vou demorar! Apenas preciso respirar ar puro!

- Tudo bem, mas se não aparecer em casa em no máximo uma hora e meia vou buscá-la e prometo lhe dar um sermão bem vergonhoso.

- Tudo bem, mamãe! – Jillian brinca e Ashley a abraça.

- Eu amo você, sua boba!

- Eu também amo você!

Com isso, Jillian sai de casa e vai direto para o café Stuart´s. Brendan já estava lá e ela sentiu um indesejado frio na barriga. Teve vontade de voltar correndo para casa e esquecer toda aquela história, mas já era tarde demais. Brendan a tinha visto e ela teve que continuar se aproximando dele.

- Olá Jillian, como você está?

- Estou bem! Um pouco confusa! – Jillian coloca a pasta que Brennan lhe dera sobre a mesa. – Quero saber o que tudo isso tem a ver comigo.

- Você teve uma experiência de quase morte? Acho que agora já pode me responder com mais segurança depois de ter lido todos esses depoimentos.

- Acho que sim. Eu vi o túnel, a luz e senti a paz. Mas isso também pode ser pode ter sido fruto da minha imaginação, não pode? – era como se ela quisesse ter imaginado tudo aquilo. Sua voz estava praticamente implorando para que ele respondesse que sim.

- Você sabe que não foi imaginação, não sabe? – ele pergunta e ela fica em silêncio. – Sabe que também viu Emily e que isso não seria possível em condições normais, porque ela está morta. – Jillian permaneceu calada. – Você esteve à beira da morte e voltou à vida por algum motivo.

- Que motivo?

- É óbvio que você tem alguma missão e se me mandaram até você, eu sei qual é. Antes de eu explicar, façamos um teste... olhe para trás e veja se você enxerga um homem vestido de terno e gravata encostado no balcão.

Jillian não entende que tipo de teste era aquele, mas fez exatamente o que Brendan pedira. Virou-se para trás, e lá estava o homem encostado no balcão, parecendo um pouco perdido.

- Claro que consigo ver aquele homem, qual o problema com ele?

- Ele está morto, Jillian! – Brendan fala com tanta naturalidade, que em um primeiro momento, Jillian não compreendeu a gravidade da afirmação que ele fizera. Esperando constatar o que ele dissera, ela olha para o tal homem novamente e não vê nada de estranho.

- Como sabe disso?

- Com o tempo você também vai aprender a diferenciar.

- Ah, e foi essa a missão que eu recebi? Ver zumbis por toda a parte? – Jillian questiona um pouco revoltada.

- Não Jillian, sua missão é ajudar essas pessoas. – Brendan explica com muita calma.

- Ajudá-las?

- Sim, depois que o corpo morre, a alma ainda perdura. Muitas vezes o espírito fica preso aqui na terra pois há algum assunto inacabado. – ele percebe que ela ainda não estava entendendo nada. – Existem vários tipos de ajuda... ás vezes antes de morrer, a pessoa não falou algo que devia a um familiar ou precisa deixar algum responsável por sua morte na cadeira e é aí que você entra.

- E o que acontece se eles não forem ajudados?

- Vão ficar presos na terra sem poderem ir para o lugar que merecem e nem reencarnar.

Jillian pensou na linda menininha que parecia tão assustada no hospital.

- Esse é o caso de Emily?

- Se ela procurou você, é sim!

- E como vou saber o que ela quer?

- Exatamente pelo motivo que me impede de ajudá-los. Eu fia uma besteira e não posso mais ouvi-los, apenas vê-los. Ela vai falar com você, apenas está com medo.

- E eu também estou!

- Talvez seja por isso que ela ainda não tenha se aproximado.

- Nossa, não poderiam ter me dado a missão de ser protetora dos animais, por exemplo? – ela brinca tentando aliviar a tensão que estava sentindo e Brendan sorri. Tinha um belo sorriso e parecia muito jovem, pouco mais velho que ela. – Você também passou por uma experiência de quase-morte?

- Sim! – ele responde apenas isso e nada mais. Estava claro que não queria falar sobre o assunto e ela resolveu respeitar sua decisão e não perguntar mais nada.

Os dois ficam em silêncio por mais algum tempo e Jillian decide que estava na hora de ir embora antes que Ashley aparecesse e cumprisse sua promessa. Ela se despede de Brendan que se oferece para levá-la em casa, mas ela recusa.

Ao chegar em casa, ela vai direto para seu quarto, esperando ficar sozinha, mas logo percebe que não estava. No canto de seu quarto, encolhida e tremendo, estava Emily. Imediatamente Jillian sentiu muita pena e se aproximou.

- Emily, não tenha medo. Não vou machucá-la. – ela fala, sem saber como consolar um fantasma.

- Mas você está com medo de mim!

Por essa Jillian não esperava. Vencida pela perspicácia de uma menina-fantasma de apenas sete anos, ela se senta no chão ao lado dela, encostada na parede.

- Não estou com medo de você. Estou com medo dessa nova fase da minha vida. Não sei se estou preparada para tanta responsabilidade, você me entende?

- Acho que não! Não entendo muito disso de responsabilidade! – Emily fala de maneira bem infantil e Jillian ri.

- Mas então, Emily, é verdade que você sofreu um acidente? – Jillian indaga com cautela tentando descobrir o que a menina queria e Emily responde que não, com um balançar de cabeça. – Então, me conte o que aconteceu...

Jillian percebeu que Emily se encolheu ainda mais de medo.

- Querida, precisa me falar o que aconteceu para eu poder te ajudar!

- Foi meu pai! – Emily joga as palavras como se fossem uma confissão.

- Como aconteceu?

- Ele gostava de passar a mão em mim, dizia que eu ia ser uma moça muito bonita e que pertencia só a ele, que ele estava me mostrando o que os rapazes fariam comigo e que eu deveria impedi-los. No dia que ele me jogou pela janela, eu tinha chorado e falado que ia contar tudo para minha mãe. Ele ficou com raiva e você já sabe o resto.

Jillian ouviu tudo e ficou enojada. Como um homem podia abusar sexualmente de uma menina de apenas sete anos e ainda por cima sua filha?

- E o que você quer de mim, Emily? Por que me procurou? – ela indaga já sabendo a resposta.

- Quero que mamãe saiba o que aconteceu. Quero que ele vá para a cadeia.

- E por que você quer isso?

- Porque mamãe está grávida de uma menina e não quero que ele faça com ela o mesmo que fez comigo.

Ouvindo aquelas palavras tão adultas, Jillian não pôde deixar de dizer que iria ajudá-la. Feliz, Emily desapareceu.

Jillian, naquele mesmo momento ligou para Brendan e lhe contou a triste história de Emily. Ele ficou ainda mais revoltado e disposto a colaborar.

Quando desligou o telefone, Jillian pegou a pasta de Brendan e verificou o nome da família de Emily. O pai se chamava Arthur Cain e a mãe Madeline Cain. Utilizando um site de busca na Internet, Jillian colocou o nome de Arthut e apareceram vários artigos sobre ele. Pelo que podia perceber, era um homem bem sucedido que possuía uma firma de compra e venda de imóveis. Tinha dinheiro, prestígio, era atraente, mas por trás daquela fachada, havia um maníaco sexual e Jillian estava mais que satisfeita por ser ela a acabar com aquela farsa.

Sem nem mesmo pensar no que estava fazendo, ela pega o telefone da empresa de Arthur e liga para lá. Uma secretária simpática atendeu dizendo o nome da empresa seguido por um gentil “boa tarde”.

- Gostaria de falar com Arthur Cain!

- Desculpe, senhorita, mas ele está em uma reunião.

- Então eu quero marcar uma reunião com ele! – Jillian afirma decidida.

- Sobre o que se trata?

- Quero falar sobre a filha dele.

Imediatamente, a secretária fica em silêncio mas era exatamente essa a reação que Jillian pretendia causar.

- Vou precisar falar com ele sobre isso! Pode aguardar um minuto?

- Claro!

A mulher é claro, demorou bem mais do que um minuto, mas Jillian esperou pacientemente. Quando ela retornou à ligação, sua voz estava bem mais séria.

- Senhorita, vou passar a ligação para o sr. Cain!

Em apenas alguns segundos, Jillian ouviu uma voz masculina do outro lado da linha. Pôde perceber com apenas um alô, que ele estava furioso.

- Senhor Arthur Cain? – ela pergunta. – Sou Jillian Devane.

- Sim, minha secretária me informou que a senhorita quer falar comigo sobre minha filha. Espero que tenha algo de relevante para falar pois esse assunto ainda me fere muito. – Jillian pôde perceber a falsidade no tom de voz e sentiu ainda mais raiva daquele homem.

- O que tenho para falar tem que ser pessoalmente. Gostaria de marcar uma reunião e lhe esclarecer as coisas que sei.

- Acha mesmo que vou perder meu tempo precioso com uma garota mimada que acha que sabe alguma coisa da minha filha!

- Se não me atender, eu irei à polícia! Sei bem mais coisas sobre a morte da sua filha do que imaginava! – Jillian tinha a voz firme, apesar de estar nervosa.

- Não tenho nada para tremer quanto a isso! – Arthur tenta mostrar convicção, mas a verdade era que sua voz demonstrava que havia algo que ele queria esconder.

- Tem certeza? Então se não tem nada a temer, não terá nenhum problema em se encontrar comigo!

Arthur ficou em silêncio, pensando no que deveria fazer. Tivera tanto trabalho para esconder as evidências que achava que jamais acreditariam que ele era o culpado. Talvez aquela pestinha tinha contado o que ele fazia com ela para alguém e isso seria mesmo um problema.

- Tudo bem, fale com a minha secretária e veja um horário esta semana. – Arthur não falou mais nada, apenas transferiu a ligação para a secretária outra vez, dizendo que ela podia reservar um horário para aquela moça.

Jillian escolheu um horário no final da tarde do dia seguinte e estava decidida a levar além de suas ameaças, alguma prova. Claro que precisava da ajuda de Emily para isso, e quando desligou o telefone, tentou chamá-la de todas as maneiras possíveis, porém, a menina não aparecia.

Enquanto tentava se concentrar para Emily aparecer, alguém bate à sua porta. Era Phoebe. Jillian sabia que estava em falta com a amiga, mas era covarde e odiava vê-la naquela situação.

- Oi Jill, posso entrar? – ela pergunta timidamente, coisa que jamais tinha feito.

- Claro que pode! – Jillian abriu mais a porta para que Phoebe pudesse passar com a cadeira de rodas.

- Pedi que minha mãe me trouxesse aqui. Eu estava me sentindo muito só.

Phoebe sorri e olha para a cama de Jillian e vê vários papéis espalhados.

- Estava ocupada?

- Claro que não! Estava apenas estudando um pouco, já que vamos perder alguns dias de aula. – ela mente.

- Jill, era sobre isso que eu queria falar com você... – Phoebe faz uma pausa. – Eu não vou voltar a estudar.

- O quê? – Jillian exclama surpresa. – Phoebe, você não pode fazer isso!

- Jill, tente me entender! Não quero ver aquelas pessoas olhando para mim e sentindo pena. Não quero que falem: “Vejam a Phoebe, coitada...”. – Phoebe chorava e Jillian também começava a sentir vontade.

- E o que importam as opiniões dos outros? Seu futuro é bem mais importante!

- Eu sei Jill, mas preciso de um tempo! Quem sabe os médicos não estão certas e eu realmente não volto a andar?

- É claro que vai! – Jillian pega as mãos da amiga para lhe dar força. – E eu estou aqui para te ajudar.

As duas sorriem esperanças, porém, são interrompidas pela presença de Emily, que sabendo que havia mais uma pessoa no quarto, se assusta e corre para o banheiro. Jillian pede licença para a amiga e vai atrás da menina-fantasma.

Jillian entra no banheiro e fecha a porta. Emily estava dentro do boxe.

- Oi querida, estava chamando por você. – ela fala com a menina com muita paciência.

- Eu sei, mas não é sempre que conseguimos aparecer.

- Não tem problema! Emily, eu preciso que você me diga se você tem alguma maneira de provar que seu pai abusava de você... pelo menos alguma amiguinha pare quem você tenha contado.

- Eu nunca tive muitos amiguinhos. Papai não gostava. – Emily pensa muito bem, até que se lembra de alguma coisa. – Eu tenho um diário. – ela fala eufórica.

- E você escreveu algo sobre o que ele fazia com você nesse diário? – Jillian indaga mais animada.

- Escrevi sim, está tudo lá!

- Precisamos pegá-lo, você consegue me ajudar?

- Acho que sim!

Jillian segue Emily, mas antes que ambas pudessem sair de casa, ela passou em seu quarto para falar com Phoebe. Ela tentou explicar para a amiga que precisava sair com urgência. Phoebe ficou sem entender nada, mas também nada falou.:

Emily levou Jillian até a sua casa, pois sabia que sua mãe não estaria ali, porque era seu horário de trabalho. A menina indicou que a chave estaria debaixo do capacho. Jillian teve tanta sorte que até mesmo o porteiro do prédio estava ocupado com algumas encomendas e nem a viu entrar.

Com a chave nas mãos, ela abriu facilmente a porta com muita cautela. Alguém podia estar na casa, mas não. Logo percebeu que estava sozinha e com o caminho livre. Emily a guiou por toda a casa e ela chegou no quartinho ainda intacto, mesmo depois de um mês da morte da menina. Logo achou também o diário sem maiores dificuldades. Assim que o guardou no bolso do casaco, saiu do apartamento, deixando a chave no mesmo local onde a encontrara.

Voltou para casa de táxi, pois apesar da casa da menina ser bem próxima da sua, ela estava cansada.

Chegou em casa e ouviu um sermão de Ashley e recebeu recados de Liam que ligara para ela mais de uma vez. Entretanto, ela ignornou tudo aquilo e se trancou em seu quarto com o diário de Emily. Folheou-o até a parte onde ela mencionava os abusos que sofria e pôde ler aquelas barbaridades escritas naquelas folhas com desenhos da pequena sereia e caligrafia infantil.

Enojada com aquelas declarações, Jillian ligou para Brendan, entretanto, ele não atendeu o celular. Queria chamá-lo para ir com ele na reunião com Arthur Cain no dia seguinte, mas deixou apenas um recado na secretária eletrônica avisando.

No dia seguinte, ela tentou se manter calma, mas era praticamente impossível, especialmente porque Brendan não havia retornado suas ligações.

Antes de ir direto para o escritório de Arthur, ela passou em uma papelaria para tirar cópias das páginas do diário de Emily – apenas as que lhe interessavam. Levou as outras para casa e pegou um táxi direto para a firma.

Lá, foi recebida pela secretária que não a tratou de maneira tão educada e pediu que esperasse. Quando entrou, Arthur estava tão de mau humor que nem sequer levantou-se para cumprimentá-la.

- Boa tarde, senhor Cain! – Jillian cumprimenta.

- Seja breve, Srta. Devane!

- Eu vou ser mesmo! – ela retira as cópias que tirara do diário da menina do envelope e as joga sobre a mesa. Arthur as verifica e Jillian percebe que ele fica tenso.

- Onde conseguiu isso?

- Sua filha me entregou, antes de sua morte, que aliás, sei que não foi acidental! – Jillian faz uma pausa. – Tenho várias cópias comigo, inclusive o original.

- Acha que vai conseguir me incriminar com delírios de uma criança? E como vou saber que não foi você que escreveu todas essas páginas?

- Como já disse, tenho comigo o diário original, que por acaso foi presente de sua esposa para sua filha. No diário, Emily cita a mãe com muito carinho. Se ela for a mãe zelosa que presumo que ela fosse, reconhecerá a caligrafia e o diário da filha.

- O que você quer com isso? Diga seu preço! – Arthur Cain dizia abrindo um talão de cheques.

- Não quero seu dinheiro Sr. Cain. Quero justiça! Quero que confesse que matou sua filha ou eu vou enviar todas essas provas para sua esposa e pode ter certeza que eu irei descobrir mais coisas e conseguir mais provas.

Arthur nem sabia o que dizer. Achava que tinha tudo sob controle, mas depois de um mês, aparecia aquela jovem, que devia ter pouco mais de vinte anos e estragava toda a sua vida. Tinha que dar um jeito nisso.

- Ah, e não tente fazer nada contra mim! Uma das cópias já está nas mãos de um amigo meu que já conhece toda a história. – Jillian estava blefando, mas esperava que ele não percebesse.

- Está mesmo achando que vai me convencer a essa besteira? – ele estava gritando. – Sou um homem de negócios! Tenho uma reputação a zelar, minha esposa está grávida!

- Exatamente por isso que estou fazendo isso! Sei que sua esposa está esperando uma menina. Vai fazer a mesma coisa com ela que fez com Emily? – Jillian indaga de maneira ousada e Arthur se levanta com o punho fechado pronto para bater nela, mas desiste. Jillian, antes que ele pudesse ter qualquer reação de afasta.

- Não tem remorso por ter matado sua filha, Sr. Cain?

- Vá embora, menina!

Arthur gritou de maneira tão feroz que Jillian obedeceu e saiu daquela sala satisfeita porque ele tinha ficado nervoso e era prova suficiente de que tinha culpa.

Jillian segue seu caminho para casa, mas quando estava na porta de seu prédio, um homem a agarra por trás, tampando sua boca e tentando levá-la para dentro de um carro. Eles tinham escolhido um lugar escuro e deserto para abordá-la e nenhuma pessoa estava passando para ajudá-la. Por sorte, Brendan aparece e para a surpresa de Jillian ele tinha uma arma na mão e apontava para o homem que estava como motorista do carro para onde Jillian estava sendo levada.

- Solte-a ou ele morre! – Brendan grita.

- Solta ela cara, solta ela! – o motorista pedia desesperado e o outro joga Jillian no chão e logo entra no carro fugindo. Brendan corre para ver se ela estava bem.

- Jillian? Você está bem? – ele pergunta ajudando-a a levantar.

- Estou! – ela se levanta e limpa a roupa com as mãos.

- O que deu em você? Foi falar com Arthur Cain sozinha! O que achou de concreto para incriminá-lo? – Brendan estava preocupado e a repreende.

Jillian nada responde, apenas mostra as cópias do diário de Emily para Brendan. Ela lê com atenção as palavras infantis da menina e imediatamente sua expressão muda. Estava odiando ler aquelas palavras.

- Temos que levar isso à polícia! – ele exclama.

- Não, temos que mostrar isso para Madeline Cain. – ela fala muito séria. – É ela que tem que decidir o que deve ser feito.

- Ela está grávida, Jillian! Se ler uma coisa dessas, é capaz até de perder o bebê!

- Mas se levarmos á polícia, ela vai saber da mesma forma. – Jillian faz uma pausa e Brendan concorda com ela silenciosamente. – Você vai comigo à delegacia? – ela pede.

- Claro, mas o que você vai fazer?

- Vou denunciar esse atentado. Vou alegar também que tenho coisas contra Arthur Cain.

Brendan e Jillian chegam à delegacia e ela faz a queixa. Em seguida toma a decisão de levar o diário de Emily para Madeline.

Ao chegarem lá, Madeline os recebe com cautela. Sua barriga ainda não estava grande, mas os sinais da gravidez eram evidentes. Ela convida os dois para entrarem e sentarem.

- O que os traz aqui? – Madeline indaga.

- Senhora Cain, estamos aqui para tratar de um assunto muito delicado. – Jillian afirma e Madeline fica muito séria. – Reconhece este diário? – ela mostra o verdadeiro diário da menina para a mãe.

- Sim! É de Emily! – ela começa a chorar ao lembrar da filhinha.

- Marquei as páginas que a senhora deve ler! Não é exatamente o que eu gostaria que a senhora lesse nessa situação, mas acho que tem o direito de saber.

Madeline começa a ler as páginas marcadas e fica horrorizada. Não podia acreditar que seu marido, aquele homem tão maravilhoso, educado e gentil podia ser um homem completamente diferente daquele que conhecera por anos, mas, naquele momento, algumas coisas se encaixavam. Ela percebeu uma mudança em Emily. A filha começou a se tornar uma menina calada, cheia de segredos, triste e sem amiguinhos. Tudo fazia sentido naquele diário.

- Sra. Cain, está se sentindo bem? – Brendan pergunta.

- Estou! – ela responde trêmula. – Vocês já foram à polícia?

- Ainda não! Achamos que a senhora é que deve decidir o que fazer! – Jillian informa.

- Na verdade, Jillian falou com seu marido e não pretendia lhe entregar nada caso ele fosse à polícia se confessar, porém, desistimos de esperar quando ela foi atacada.

- Acham que foi meu marido que mandou atacá-la? – Madeline praticamente implorava para que eles dissessem que não.

- Temos quase certeza! Ele ficou muito nervoso com o que eu disse que poderia usar contra ele, como se realmente tivesse culpa de alguma coisa. – Jillian explica.

- O que vai ser da filha que estou esperando? O que vou explicar para ela quando perguntar pelo pai? – Madeline começava a chorar ainda mais.

- Diga a ela que ele fez uma coisa errada e está de castigo. – Jillian opina. – Você vai saber o que dizer! É uma boa mãe.

Nesta hora, Emily aparece para Jillian e Brendan.

- Sra. Cain, eu posso ver Emily. Foi ela que me pediu para lhe entregar tudo isso! – Jillian revela.

- Que brincadeira é essa? – Madeline fica nervosa.

- É verdade! – Emily sussurra algo no ouvido de Jillian. – Ela está do meu lado agora e pediu para lhe contar que sabe onde está aquele retrato que você anda procurando. – Jillian chorava.

- O retrato? Como você sabe?

- É ela que está me dizendo que no dia que ela morreu escondeu esta foto debaixo do sofá, pois vocês tinham brigado.

- Sim, e ninguém sabia disso! Ela está mesmo aqui?

- Está, sra. Cain e eu também a vejo. – Brendan afirma.

- Diga a ela que eu a amo!

- Ela a ouve, sra. Cain! E ela está dizendo que também a ama! – Jillian pega a mão da mulher. – Ela foi assassinada! Seu marido a jogou pela janela.

Jillian não quis entrar em mais detalhes, sabia que seria ainda pior do que tudo aquilo que ela já tinha ouvido até ali. Ela se levanta e começa a andar pela casa. Brendan fica de prontidão para o caso dela passar mal.

- Como se pode passar a odiar uma pessoa de uma hora para outra? Não vou poder, infelizmente, acusá-lo de assassinato, pois não tenho provas, mas vou dizer que desconfio disso e fazer uma queixa para que eles façam uma investigação mais profunda. Ele vai pagar por tudo isso! Vai pagar por ter me tirado o que eu mais amava na vida.

- Porém, há outro ser crescendo dentro de você, pronto para ser amado! – Brendan diz e Madeline sorri.

- É verdade. Ela vai se chamar Victory. Eu escolhi esse nome logo após a morte de Emily. – ela ainda estava sorrindo. – Victory nunca vai sofrer como minha outra filha!

- Claro que não! – Jillian estava feliz pelo desfecho da história.

Os três se despedem e eles vão embora, satisfeitos por ter cumprido aquela missão.

Quando estavam do lado de fora da casa de Madeline, prontos para entrar no carro de Brendan, quando ela pára por um momento com uma dúvida.

- Brendan, por que você tem uma arma?

- Para usar em situações como aquela que você quase foi levada e até mesmo morta!

Jillian fica em silêncio. Era melhor não perguntar nada. Ele a leva em casa.

- E então, pronta para viver mais situações como essa? – ele pergunta.

- Claro! Estou preparada para tudo! – ela sorri e vai para casa.

Estava sozinha, ou quase... Emily estava lá, pronta para se despedir.

- Obrigada Jillian! – elas sorriem e a pequena Emily segue seu caminho.

Jillian fica emocionada e ainda mais decidida a ajudar todas aquelas pessoas que não estavam mais entre eles, mas que tinham direito a passarem a eternidade em paz.

Uma semana depois, Jillian vê no jornal a notícia da prisão de Arthur Cain, por abuso sexual de menor e suspeita de assassinato da mesma. Ainda não estava provado, mas as investigações estavam avançadas e ele estava prestes a ser acusado por aquele crime também.

Jillian guarda aquela parte do jornal na mesma pasta que Brendan havia lhe dado sobre experiências de quase morte. Depois, foi encontrar-se com Liam para irem à missa de Sétimo dia de Jonathan.

Já na igreja, Jillian, de mãos dadas com Liam e Phoebe, assiste à missa emocionados e em um canto afastado da igreja, ela podia enxergar Jonathan. Ele parecia confuso e ainda não estava pronto para ser ajudado, mas ela seria capaz um dia de lhe dar essa ajuda, seja o que fosse que ele queria e precisava.