... Continuação.

A lenda de Hiphitusi 
 

9. O templo submerso

 
Apesar de tentarem utilizar alguns integrantes do grupo para iniciar os trabalhos dentro do lago, especialistas em mergulho tiveram que ser contratados quando começaram a escavar a parede de terra que circundava a grande pedra, pois não possuíam equipamento para essa ação específica e no primeiro dia de escavação acabaram por descobrir algo fantástico.
Atrás da grossa parede de terra existia outra feita de pedras e barro, e já não havia mais dúvidas de que acabaram encontrando um templo sob as águas. Com a chegada dos mergulhadores o trabalho ganhou um ritmo acelerado e em poucos dias toda a frente do templo estava à vista.
Até o solo quando escavado exibiu um piso também feito de pedras quadradas de uma largura de dois metros, que servia como caminho até a entrada do templo, lacrada por duas pedras que se juntavam no meio, dando a impressão que elas corriam para lado na época em que eram utilizadas.
Quanto à fachada do templo, não possuía adornos que indicassem a época exata da sua construção, era lisa com duas colunas que subiam nas laterais e o teto aparentava ser plano, mas era somente uma suposição, pois o mesmo se encontrava abaixo de várias camadas de terra. Esta fachada tinha cerca de dez metros de altura por vinte de largura.
De incomum nessa fachada encontraram somente quatro pequenas pedras do tamanho de tijolos comuns, que quando pressionadas deslizavam para dentro da parede e ao serem soltas, retornavam a sua posição original. Cada uma destas pedras se localizava em uma extremidade da parede e Kedaf supôs que poderia se tratar de um tipo de mecanismo que possivelmente abriria o templo, mas resolveu junto com Roi e Vanuzia ainda não fazer nenhuma tentativa que pudesse levar há algum acidente ou até um desmoronamento.
Pensaram em tentar drenar a água do lago, mas logo descartaram a idéia após alguns cálculos sobre o volume de água ali existente.
Cogitaram também explodir as pedras que bloqueavam a entrada, mas da mesma forma poderiam nesse caso por toda a construção abaixo, o que além se ser uma perda arqueológica inaceitável, poderiam acabar destruindo as pistas que o grupo tinha certeza que encontraria lá dentro.
Roi então sugeriu que se utilizassem do possível mecanismo que existia, fazendo alguns testes para saber como funcionava, mas Kedaf o atropelou com palavras.
-- É óbvio que se todas as pedras forem pressionadas ao mesmo tempo, algo vai acontecer! – E completou – Só não sabemos o resultado, se é uma abertura de porta ou uma explosão!
Mas Kedaf teve que concordar com ele quanto à questão da segurança dos mergulhadores.
Pensaram numa forma de empurrar as pedras, todas ao mesmo tempo, sem colocar ninguém em risco, mas nenhuma solução parecia surgir. E a única que veio a mente de Kedaf foi de amarrar os mergulhadores por cordas e torcer para que nada de anormal acontecesse, idéia essa descartada de imediato pelos outros dois líderes.
Quem trouxe uma luz ao grupo foi o mesmo carregador que encontrara anteriormente a inscrição dentro do lago. Ele propôs que se utilizasse de um tipo de sistema de alavanca, que se mostrou muito sugestivo no final, apesar de espantosamente simples.
-- Pode dar certo! – Concordou Roi com ele – Vamos construir essa bugiganga agora mesmo!
-- Bugiganga? – Estranhou o carregador enquanto os mais próximos riram, inclusive Kedaf.
A “bugiganga” nada mais era que duas longas varas de madeira com outros dois pedaços de madeira pregados na transversal, exatamente na altura das pedras. Precisariam de dois conjuntos, um para cada lado, o que fizeram rapidamente.
Os mergulhadores desceram e colocaram as madeiras nas posições corretas, levemente encostadas nas pequenas pedras e saíram.
Agora dois homens de cada lado aguardavam o sinal de Kedaf para empurrarem as pedras através das varas de madeira. Deveriam, segundo ele, fazer o máximo de esforço para empurrarem na mesma hora, portanto ele ficou bem no centro deles, quase na direção em que se encontrava abaixo a entrada do templo.
Levantou as duas mãos para o céu e gritou para ser bem ouvido, olhando para os quatro num rápido movimento de cabeça:
-- Quando eu abaixar as mãos, empurrem de uma vez! Vou contar até três! Um... Dois... Três!
Eles empurraram guiados pelo príncipe maestro, mas por alguns segundos nada pareceu acontecer. De repente um enorme redemoinho se formou no meio do lago e numa velocidade incrível o nível da água começou a baixar, sob os olhares espantados de todos. Somente Kedaf ria loucamente.
Qualquer um que estivesse ali dentro com toda a certeza seria sugado pela água, que soltou um grito agudo ao terminar de descer pela entrada do templo, que como mágica deslizou lentamente para os lados.
Parecia um tipo de armadilha, imaginou Roi, leitor inveterado de livros de aventuras, o que descobriu estar certo ao adentrarem o local.
Todos se debruçaram pela borda para ver mais de perto o que a água deixara para trás. Agora o templo nem parecia mais uma construção antiga, tinha até um aspecto moderno, mas Vanuzia o imaginou como um ser mau com a boca escancarada, a espera de suas vítimas. Ignorou esse pensamento e se abraçou a Roi, também extasiado.
Nem notaram que o príncipe ainda continuava a gargalhar, quase sem nem conseguir respirar, quase sem conseguir se controlar, um homem aparentemente louco, quase alucinado.
 

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10. A primeira das quatro
JGCosta
Enviado por JGCosta em 06/01/2010
Reeditado em 11/01/2010
Código do texto: T2013739
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