A ILHA DA ILUSAO

                    
                    Assim que aprendi a ler e a escrever, comecei a anotar meu dia a dia, os momentos mais importantes, em um diario...a primeira folha foi em um papel que o pao veio embrulhado, em papeis de embrulho, saquinhos que abria , alisava bem e escrevia...escrevia, 'a lapis que caneta nao tinha tambem...comecei numerando, catalogava e tenho ate' hoje.
 
                     Os primeiros, devido ter escrito 'a lapis e a qualidade do papel, estao quase desaparecendo, coloquei no meio de folhas plasticas e aprendi que colocando em papel de seda azul, conserva melhor e quando o papel de seda comeca a desbotar, amarelar, troco por outro..tem dado certo.

                     Mais tarde, comprei cadernos, blocos e canetas, estes estao melhores conservados e sao volumes e mais volumes, caixas e caixas, sempre dando trabalho principalmente se tenho que me mudar de casa...pensei ate' em jogar fora, mas minha familia nao deixou e agora estou passando para meu computador...quem sabe um dia vira, ''livro''?
 
                     Estes dias relendo por acaso umas folhas de um tempo passado, de uma epoca, e do que me aconteceu, me transportei no tempo, no espaco...foi incrivel!!!


                      Tinha 25 anos. Acabava de me formar na faculdade em uma profissao que nao queria, nao gostava...mas meu avo tinha me prometido uma boa soma de dinheiro quando me formasse para botar a banca...me formei em dezembro, passei as festas com minha familia e em janeiro recebi o dinheiro, juntei mais alguns de minhas economias e com a desculpa de descancar, peguei meu carro e sabia onde queria ir e chegar.

                       ILHA BELA.

                       Era la'...na Ilha Bela, litoral norte do estado de Sao Paulo, em frente de Sao Sebastiao...tinha lido sobre a ilha, os misterios, os navios naufragados, a calma, as tradicoes...fiz amizade com um rapaz na faculdade que tinha nascido e viveu por la' ate' vir estudar..me contava maravilhas e eu fascinado mais ainda...demorei quase 1 dia para chegar la', hoje faco em menos de 3 horas..outras epocas, outros tempos, outras estradas..outros carros..outras pessoas....

                        Cheguei por la' no final da tarde...estava sendo uma aventura, eu, sozinho, nao conhecia ninguem por la' e assim que sai' da balsa parei para abastecer o carro--------era meu primeiro carro, um fusca azul claro,...apelidei de azul calcinha, foi meu amigo por longo seis anos e quando vendi, chorei -------, e tentei ir logo fazendo amizades, sabia que os ''caicaras'' sao gente boa, amiga, mas ...desconfiados, e teria que ir devagar com isto.

                         O rapaz do posto me indicou uma pensao, me deu o endereco e eu fui seguindo,...anoiteceu, estava dificil achar o local,  parei, perguntei, varias vezes...achei o lugar
.

                         Tive que abrir um portao, a casa, a pensao ficava no meio de um grande terreno....tudo era novo, estranho para mim..diferente...era um sonho e eu estava vivenciando este sonho!!!!

                          Logo ao atravessar o portao senti um arrepio, uns tremores..um vento...achei que era nervoso do momento..estacionei e fui em direcao a porta, subi os treis degraus da grande varanda, a casa era toda de madeira, um pequeno balcao logo na entrada de uma sala grande, enorme, notei pessoas por ali, em algumas mesas, talvez jantado.

                           Uma senhora simpatica, cabelos brancos, gorduchinha, faces rosadas, veio me atender, eu disse quem tinha me indicado e o que necessitava, ...tinha um quarto no primeiro andar?, me levou ate' ele, gostei, me explicou tudo, paguei e me instalei...estava la' ....tinha chegado ao meu sonho...

                            Tomei meu banho e desci para jantar....delicioso, me lembrei de minha avo, de minha mae....parecia que estava em casa...conversei com hospedes, tomamos cafe', jogamos um pouco e,.. dormir.

                             Acordei cedo com passarinhos...com um barulho diferente..som de navios apitando?...vento soprando nas arvores?..agua?..cheiro de maresia...do mar...que delicia!!!

                             Que cafe da manha!!!! de tudo um pouco...o almoco e jantar nao estavam incluido no preco...mas o cafe da manha valia por tudo!!!.

                              Conheci Juvenal, filho de dona Dora, a dona da pensao...tinha minha idade, era o faz tudo por ali, ajudava manter a pensao funcionando, tinha namorada, diziam que iam casar logo, tinham amigos...a pensao era tranquila de se ver, mas agitada na sua manutencao...mas era tudo tao organizado que nem se ''apercebia'' dos entras e sais, ..era uma paz, um silencio!!!

                              Me falaram da praia de Castellanos...era do outro lado da ilha...do lado oeste, e o unico jeito de se chegar ate' la' era pelo meio da ilha, seguindo trilhas estreitas..e de jipe, o melhor meio para se ir ate' la...na pensao tinham dois...e logo no terceiro dia fomos, eu, Juvenal e mais dois amigos dele, Joao e Lauro, conheciam bem , sabiam como ir e vir, se sair de situacoes, e eu louco para ir...fui!!!

                             Realmente, sozinho nunca eu chegaria por la'...subidas, descidas..mata fechada, pequenos riachos para atravessar, lama, se chovia, nao passava.... lugares escuros, o sol mal entrava...levamos quarenta minutos mais ou menos e de repente se sai em uma praia de areia branca, deliciosa praia, grande, longa, deserta....armamos acampamento , iriamos passar a noite ..era esta vida que eu queria, e estava tendo.

                             Sai andando pela praia, eles ficaram por la, terminando, conversando, rindo...iriam nadar, mergulhar...coletar conchas, pedras, madeiras para esculturas, para venderam como ''souvenir'' na pensao e nas feiras da cidade...eram artesao, artistas, pintavam telas, aquarelas, da ilha e vendiam aos turistas....pensei:-...por que nao eu tambem?..e fui seguindo..seguindo e quase no final da praia vi.....senti uns arrepios, uns tremores, um vento soprava quente....delicioso vento!!!

                              Sentada em uma pedra, na sombra dos coqueiros,cabelos loiros, de costa para mim nao me via , cantarolava uma cancao linda , fiquei minutos parado, devo ter suspirado forte, se virou, e vi um rosto lindo, dois olhos azuis, se assustou, levantou mas nao andou nem correu...so' me encarava fixamente ..

                                Deveria ter uns 20 anos no maximo, pedi desculpas...disse meu nome e porque estava ali..e apontei meus amigos la' longe...olhou e sem dizer nada me fez um sinal para segui-la...entrou em uma trilha no meio da mata e eu seguindo...parou em uma clareira...sentou no chao, usava vestido longo, descalca e me disse seu nome:-

                                 Eu sou Alice...moro por aqui e voce?

                                 Repeti meu nome...Zezito, Jose, moro longe daqui, estou na pensao de dona Dora, na praia da Feiticeira..conheces?

                                 Sim, conheco..e muito bem...boa senhora, bom lugar..conheco bem.

                                 E assim ficamos em uma prosa gostosa, me contando coisas da ilha, de navios que passavam por la'...de naufragios e entramos no assunto familia...contamos, sonhos, ideais, ilusoes e me convidou para ir conhecer o lugar onde morava....no meio de uma clareira, familia grande, varias casas...velhos, criancas, cachorros..galinhas...vida...vida

                                 Anoiteceu...me levou ao lugar onde eu a tinha encontrado, de la' avistei a fogueira do meu acampamento, me despedi e fui em direcao..me pareceu tao longe a volta, tinha andado tudo aquilo mesmo?....os amigos dormindo...deitei tambem, dormi...sonhei com tudo...ela, com a aldeia no meio da clareira....sonhos!!!

                               Acordei com cheiro de cafe, os amigos rindo e brincando, quando me viram foi aquele interrogatorio...bla bla bla...e quando contei olhavam um para o outro...nao acreditando.

                               Desarmamos acampamento, voltamos e nao toquei mais no assunto ate' que dona Dora, na hora do jantar, senta comigo e jantamos juntos , ela puxa assunto da minha ida ate' a praia...percebo que Juvenal contou a ela o que eu disse, o que fiz, o que vi por la'....e realmente!!...me pergunta sobre isto e eu conto...nao diz nada...muda de assunto, comemos, elogio a comida e saio de carro, vou dar uma volta pelo centro da ilha, la' pela praca em frente a delegacia, tomar um sorvete, ver gente, paquerar e ai eu a vi....

                             Alice vai andando na minha frente, vira uma esquina, eu a sigo, anda depressa, noto que esta descalca, usa um vestido longo, florido, flores na cabeca...tem uma bolsa colorida a tiracolo, me parece, penso, uma ''hippie''...sera' que era um acampamento deste por la'?...vira outra esquina..estou um pouco longe, quando viro nao a vejo mais....continuo andando e nada...sumiu, mas como?...e' uma rua pequena estreita, casas fechadas dos dois lados...a rua vem do morro e desce em direcao a praca principal...nao teria como sumir..e nem tempo teria para ter entrado em uma das casas....deixo para la'...volto e vou embora...mas ficou algo pendente no ar...como?  como?

                           Vou vivendo, me adptando a vida da ilha, fazendo amizades, descansando, indo ao continente as vezes junto com Juvenal comprar, entregar...ajudo na venda de artesanato nas feiras e na pensao..comeco a fazer artesanatos tambem..entra uns $$$ extras, acho otimo!!! ..e um dia vamos voltar a Castellanos...me excito..vou ve-la?

                           Vamos passar o dia e a noite de novo por la'...saio procurando madeiras, conchas, pedras, folhas, plantas...e vou indo a direcao de onde a vi....chego, nada....sento na pedra, espero, e vejo meus amigos la' longe....
                            Ouco um barulho, me viro....ela, com o mesmo vestido que a vi no centro da ilha...e desta vez vem sorrindo, vou sorrindo tambem....chego bem perto, seguro suas maos, levo ao meu rosto...ela faz o mesmo comigo....vamos a clareira e ali sinto arrepios, tremores e um vento quente sopra gostoso e gostoso foi o que aconteceu depois que senti uma vertigem...uma ilusao de estar flutuando....

                              Tinha bebido algo que ela tinha em uma pequena garrafinha em sua bolsa.....acordei nu, ela ao meu lado nu tambem, era um novo lugar....sorri, ela sorriu, me abracou, abracei...adormeci de novo...flutuei de novo....senti algo quente e gostoso em minha boca, enguli, bebi de novo da garrafinha.... 

                               Acordei, estava so', na cama de folhas macias no chao, fazia calor, eu nu , levantei...vi minhas roupas, coloquei e sai...e vi que estava no meio da clareira da pequena aldeia, pessoas cozinhavam, conversavam , riam...e eu a vi...fui em sua direcao, veio ao meu encontro, me beijou....segurou minha mao e foi me levando ao centro , onde foram se reunindo todos.....ficamos no centro, um casal mais velho, um velho com um bastao, cajado, sei la'....falamos muito, sentados em pedras ao redor de uma fogueira...fiquei sabendo que esta fogueira nao se apagava nunca...sempre alguem cuidava de mante-la acessa....me perguntaram tudo....eu perguntei tudo....fui aceito no meio deles...otimo!!!!..era isto que eu queria....amigos caicaras...gente do lugar, povo, historias e estorias...era parte do meu sonho...estava vivendo....

                              Fui convidado para ficar...aceitei, lembrei de meu amigos e disse-lhes isto, queria me despedir..e ir com eles buscar meu carro, minhas coisas...Alice me levou ate' a pedra na entrada da trilha...nao avistei meus amigos....ela nao quis ir, ficou.....cheguei por la'....tinham ido embora,  e pelo visto a bastante tempo...as cinzas estavam fria...e a mare alta tinha levado embora pegadas, marcas....voltei...fui para a aldeia...teria que ir embora de qualquer jeito, apanhar meus trastes e voltar..queria viver na aldeia, mas necessitava de meus pertences, meus documentos..meu carro

                              Conversei com o casal, com o anciao da aldeira, me aconselharam a esperar, meus amigos voltariam, com certeza..e eu tambem sabia que sim...viriam apanhar madeira, conchas, pedras....resolvi esperar...

                               No comeco esperei uma semana e fui ver se tinham voltado...nada!!!..ia todo dia...nada!!!....fui me acostumando a isto...e com o amor de Alice e o meu por ela.....sua bebida, fui ficando, nao era mais importante para mim, nada que tinha ficado para tras, aprendi como sobreviver por ali...nunca saiam dali...nunca iam a cidade..apenas Alice e outras mulheres , e sempre sozinhas, iam uma a uma a cidade...entravam na mata ao entardecer e voltavam de madrugada..e se eu perguntasse dizia que tinha ido buscar mantimentos, generos...coisas necessarias 'a vida na aldeia...mas estranho era que nunca via pacotes, caixas de marcas conhecidas minhas, comiamos o que plantavamos, animais que matavamos....e bebida de garrafinhas nao faltava nunca...era so' eu ameacar que ia buscar meus trastes, meu carro e Alice me dava um gole...ficava!!! 

                     Alice deu 'a luz um menino, meu filho, Vitor, colocamos o nome em minha homenagem, 'a minha vitoria..ao meu sonho!!!   Vitor!!!... dois anos depois nasceu Virginia, assim chamada em nome da mae de Alice e durante cinco anos me esqueci completamente do mundo la' fora da aldeia...tinha tudo o que precisava por ali..era a vida que eu queria viver..era um sonho...vivia este sonho, dia a dia....e Alice continuava indo a cidade, as noites e quando Virginia teve idade suficiente comecou a leva-la junto...aos homens da aldeia isto era proibido, era um tabu..nao se perguntava o que elas iam fazer por la'..nao deviam segui-las no meio da mata..elas sabiam o que estavam fazendo por la...nao era nada ilegal, errado...ajudava na aldeia,....so' isto importava!!! 

                      Um dia desobedeci as ordens dada..Alice saiu, sai atras, escondido, e fui seguindo, e vi quando ela parou no meio de uma clareira, acendeu um fogo, esparramou as brasas e de pes descalcos comecou a pisar e cantar uma cancao e pisoteava nas brasas...e uma nevoa foi se levantando, engolindo ela por inteiro....sumiu!!!...apenas as brasas acesas, se apagando, sumindo....voltei para a aldeia, deitei e dormi, Vitor e Virginia na cabana de um casal amigo....adormeci!!!

                       Acordei e estava dormindo no chao duro..sentei assustado, fiquei em pe' rapido...tudo tinha desaparecido...nada de aldeia, nada de pessoas..nada.....fui como louco ate' onde Alice tinha sumido...nada!!! nem sinal...voltei correndo a aldeia..nada!!!..nem rastros, marcas...sentei em uma pedra, chorava e reparei que minhas roupas eram as mesmas do dia que tinha chegado aqui cinco anos atras....sem saber direito o que fazer fui andando em direcao a praia...a pedra onde vi Alice pela primeira vez...sentei por ali...olhava o horizonte, procurava uma explicacao.....e vi....vi meus amigos la' longe...comecei a correr...a areia era fofa...me segurava...gritava...e eles me viram...

                     Estavam desmontando acampamento, o jipe carregado de coisas recolhidas, como sempre, os treis com pressa e so' nas perguntas...:-

                     Onde passou a noite? ficamos preocupados...vamos embora?..eu tentava explicar...nao queriam ouvir...gritei, pararam...me ouviam agora?....senti arrepios, calarios, comecei a tremer, senti um vento quento, um calor, e desmaiei.... 

                      Acordei no hospital em Sao Sebastiao, Juvenal e dona Dora ao lado de minha cama...me explicaram devagar....tinha ficado dois dias desacordado...acordava, voltava a dormir..delirava, dizia nomes..Alice, Vitor, Virginia...aldeia, fogo...gritava muito..nao ...nao....os medicos estavam em duvidas quanto ao diagnostico, alguma doenca tropical?....delirios?...iriam saber os resultados dai a uns dias..teria que ficar por la'....fiquei, nada descobriram!!!


                      Para meus amigos nao adiantavam minhas explicacoes...eu nunca tinha sumido por cinco anos, apenas uma noite, diziam..e era verdade!!! o calendario quando voltei marcava a mesma data..achavam que eu tinha enloquecido...tomado algo forte, fumado ou vai saber o que?...parei de teimar, de contar, tentei voltar a vida normal, mas via na pensao, dona Dora sempre me olhando, me observando e percebia olhares dos outros hospedes..comentarios, buchichos...e meus pensamentos estava la'...na clareira, na aldeia..em Alice, Vitor, Virginia...

                      Juvenal e os amigos voltaram por la', nao me convidaram, fiquei...foi melhor, se fosse....iria procurar, iria querer saber...

                     Nao havia meio, jeito de eu ir ate' la...dona Dora tinha avisado minha familia, vieram, ficaram comigo ate' sentirem minhas melhoras e insistiam que eu deveria voltar para casa,...jamais!!!..eu tinha que descobrir, saber a verdade...se estivesse doente, prometi, voltaria, se foram, nao sem antes fazer dona Dora prometer cuidar de mim e avisa-los de qualquer necessidade.

                      Por um ano nao fui por la' na praia...nao me esqueci nao, mas sempre alguma coisa acontecia e eu protelava, adiava minhia ida, ate' que um dia, me sentindo suficiente forte e com coragem, pedi a Juvenal e so' nos dois, irmos ate' la...fomos!!!

                      Pedi a ele para me acompanhar e ao chegar a pedra onde vi Alice pela primeira vez, nada senti...nenhum arrepio, nem tremor...nem vento quente...apenas silencio...fomos entrando na mata, vi a primeira clareira...nada!!!...andamos mais um pouco...a segunda clareira...nada!!!....na terceira clareira, onde Alice tinha sumido, menos ainda...por ali a mata tinha tomado conta, quase engolindo a clareira toda...apenas um pequeno espaco...voltamos onde seria a aldeia, me  coloquei de quatro onde seria minha cabana, e com um pedaco de pau, cavocava a terra, chorava..parecia um demente, um louco..Juvenal andando por ali, curioso, observando tudo e nao estava prestando atencao em mim......em uma cavocada mais funda o pau bate em algo..cavoco e desenterro uma pequena corrente com um medalhao..tem um pequeno escaravelho incrustado no centro...guardo rapido no bolso.....era o que Alice usava sempre e dizia que um dia seria de Virginia, como tinha sido da mae dela e pertencia as mulheres da familia a muitas e muitas geracoes....senti uma brisa leve...e de repente um vento forte, quente.....voltamos e eu nada disse sobre o achado.

                Eu sabia.. era o que bastava para mim....iria achar Alice, meu filho Vitor, minha filha Virginia...tinha certeza!!!

                 Nas festas da cidade turistas chegavam de todos os lados, na pensao, lotada, servico que nao acabava mais, eu ajudando, que agora trabalhava tambem por la'...Juvenal tinha se casado, morava por perto e eu tinha me mudado para uma pequena casinha nos fundos da pensao..pagava um aluguel para dona Dora...seguia a minha vida e nestes dias de festas, dirigia os jipes, levava turistas para todo lado, tinha engordado um pouco, comecava a ficar careca, e tive que ir ate' a prefeitura levar encomendas de dona Dora , sempre ia por la', nao passava da portaria, mas neste dia a secretaria me pediu para levar para uma sala la
 pelos fundos...ao passar por um corredor vejo quadros, antigos, na parede, sigo e de repente paro e volto...coloco a encomenda sobre uma mesa e fico olhando sem acreditar...saio correndo, volto a pensao, pego o medalhao e volto a prefeitura...e examino...iguais..iguaizinhos!!!!

                     A secretaria me explicando.....Esta e' Alice  de Freitas, filha do coronel Gustavo, e de dona Virginia, o que foi dono do engenho na ilha da Cana e do engenho Barreiro aqui na ilha...foram a Europa, na volta, quando estao quase chegando por aqui, o navio naufragou, nao sobrou ninguem, os restos do navio , se voce mergulhar, vai poder ver...nunca nenhum corpo foi encontrado..

                     E me leva para ver a foto do coronel, um benfeitor da ilha, amava demais esta ilha, e seu unico filho e herdeiro continuou por aqui...hoje nenhum descendente do coronel mora mais por aqui...e me aproximo da foto....tive um baque!!!...era o velho anciao da aldeia...o que dava as ordens, os conselhos, ...o que usava o bastao, o  cajado da lei por la' na aldeia....sentei, fiquei sem fala...so ouvindo a secretaria falar, falar.

                     Tomei uma decisao...iria embora!!! ...ali nao era meu lugar...comuniquei a dona Dora, contei porque, levei-a ate' a prefeitura, mostrei o medalhao, conferiu, acreditou, nao disse uma palavra, saimos....na pensao dona Dora me levou ate' seu quarto, abriu uma gaveta, desembrulhou algo...era um anel de ouro, tinha uma pedra grande, azul, tinha uma inscricao..Valdez, 1886, ... 

                     Fiquei olhando...olhando...e me lembrei...conheci um Valdez por la' na aldeia...era sozinho, velho, triste..e uma vez me contou que tinha tido um grande amor..ela tinha sumido, desaparecido ...perguntei por que...nao me disse...apenas me mostrou um anel de ouro, tinha uma pedra grande, vermelha, tinha uma inscricao Dora, 1965. 

                      Disse-lhe isto,  dona Dora me olhou bem nos olhos, nos abracamos, choramos juntos...nos entendemos...nunca mais tinha ido a Castellanos e eu lhe disse que tambem nunca mais iria..nunca mais fui..nunca irei...dona Dora faleceu e levou com ela o anel...era dela!!!...

                       Mas quando saimos do quarto e sentamos na varanda, conversamos muito e  eu querendo saber o por que daquela cerimonia do fogo...de ver Alice na cidade..das mulheres que iam e voltavam....me disse que nao poderia revelar..mas que nao era nada ruim, ajudava na aldeia...e eu tinha quebrado o encanto para mim, porisso sumiram e no caso dela, sumiram porque ela revelou para Valdez...era humana, ele insistiu, eram jovens...ela contou...quando acordou tinham sumido..nunca mais contou para ninguem....entendi, nao insisti.

                     Deixei o medalhao com ela, nao trouxe comigo nao, para que?..cada vez que olhasse iria me lembrar e pedi a dona Dora para fazer o que quizesse com ele...nao era meu, pertencia a Alice, Virginia,  e por sujestao dela fomos ate' uma pedra alta na praia da Feiticeira, ali pertinho da pensao, e me entregou de volta o medalhao e eu entendi...atirei com forca no ar , saiu rodopiando e foi caindo, caindo, longe no mar...senti arrepios, calafrios, tonturas, e um vento quente soprou...o medalhao deu uma, duas voltas...faiscou ao sol forte e mergulho no mar...formou-se um pequeno rodamoinho e tive a certeza de ver a imagem , pela ultima vez em minha vida, de Alice, Vitor e Virginia...sorrindo...sorri tambem...me despedi com um aceno de mao...me pareceu ve-los acenando tambem...virei, voltamos . 

                       Me despedi da Ilha da Ilusao....da Ilha Bela...ilha maravilhosa...encantada, magica, ......tinha vivido mais de cinco anos por la'...e contando os cinco que vivi junto com Alice na aldeia...somavam deis longos anos....quando cheguei de volta a minha casa, se e' que podia chamar de minha ainda, minha familia se surpreendeu, tinha envelhecido, mais gordo agora, mais careca....engracado, diziam..como pode?  ..cinco anos e parece que foram deis? ..... 

                        Ilusao!!!  .... Ilusao!!!! 

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 01/01/2010
Código do texto: T2006299