O ASSASSINATO DO JOVEM ROMÂNTICO
Era uma vez um jovem romântico.
Como Werther do Goethe, um romântico.
Como Platão, era alguém que pensava como metafísico. Criara em sua mente um mundo ideal.
Em sua cabeça o mundo teria conserto, solução, melhoramento.
Os bons sentimentos eram constantes em seu cândido coração, tinha sinceramente um compromisso com a vida. Procurava por algo maior, mais elevado, um sentido último para o mundo, para a humanidade.
Para ele as mulheres eram criaturas doces que mereciam ser amadas quase que castamente. Pensava como um sacerdote. Para ele, o amor sexual, erótico, parecia-lhe algo indigno, vil.
Facilmente, muito facilmente, apaixonava-se e idealizava uma mulher isenta de defeitos. Uma companheira com quem pudesse dividir a vida, que o fizesse, enfim, feliz.
Procurava uma vocação.
Algo como se fosse assim divinamente chamado. Ele queria dar uma contribuição para sociedade. Acreditava em professores e na educação, na escola, na família, em Deus, na igreja...
Contudo, apesar do bom coração e dos nobres sentimentos, era infeliz. Sessões de angústia reiteradas, indefinição na vida, na carreira, no amor, nas crenças...
Crises e mais crises se sucediam. Virava-se para lá e para cá como quem procura desesperadamente por alguma coisa.
Certo dia, apareceu-lhe um velho.
Na verdade, apenas a alma desse velho.
Alguns falavam bem do ancião, mas também havia aqueles que o achavam um louco, um desvairado.
O velho, muito perspicaz, pensou consigo:
- Vou ajudar esse garoto.
Então pegou um amarrado de livros velhos que ninguém compreendia direito, e arremessou com toda a força contra a cabeça do jovem romântico.
O jovem, a princípio, ficou tonto e não compreendeu nada. E continuou, mesmo fortemente abalado, o seu caminho idealista.
Ao ver que a primeira investida não dera certo, o velho então deu um tempo ao garoto. Deixou que a vida ensinasse ao jovem os seus tortuosos caminhos.
Assim, mesmo sem compreender nada, o idealista lia e relia os livros do velho e pensava consigo:
- Deve haver alguma sabedoria aqui. Eu é que ainda não sou capaz de apreendê-la.
E insistia nas leituras.
Um dia, repentinamente, uma luz brilhou.
O jovem romântico foi assassinado barbaramente pelo espírito do velho.
Mas, ao mesmo tempo em que morria o idealista, nascia alguém diferente, bem diferente.
- Ah! Então era isso que ele queria dizer.
Agora o garoto entendia os livros.
Então o garoto que era romântico, tornou-se a ave de rapina que sempre foi, mas que alguns decadentes haviam sorrateiramente encoberto.
Questionou profundamente seus valores morais, e escolheu por si só aqueles que lhe serviriam.
Colocou a última pedra sobre o túmulo de Deus, agora, só mais um deus.
Bem e mal eram por ele mesmo definidos.
O que era bom?
Tudo o que vinha do poder.
O que era mau?
Tudo o que vinha da fraqueza.
Felicidade era ter mais poder, era vencer uma resistência.
E foi assim que o artificial jovem romântico cedeu lugar à ave de rapina que sempre existiu.
Ele agora era um destino, não mais um niilista, um patético, um qualquer.
Mas alguém que está além do bem e do mal.