Pedaços de mim caiam
Eu estava ali no meio daquele espremedor de batatas gigantesco, o que mais me doía ao ser espremida era meu braço direito por altura do ombro e nas axilas. Provavelmente minhas vértebras estavam sendo moídas também. Uma dor horrível me acometia. Eu tentava fugir dali, mas estava sem forças. Agora eu estava sendo jogada num mega moedor de carne de uns 4 metros de altura e apesar de passar inteira por ele as dores continuavam apenas no meu lado direito, mais na altura do braço. Via gomos de mim caindo em um tuperware que mais parecia uma piscina olímpica. Em um piscar de olhos eu estava de fato em uma piscina e tentava chegar do outro lado, mas estava como que presa, paralisada. A piscina dava para um bueiro e eu estava sendo levada esgoto abaixo diretamente para o mar. Tentava nadar contracorrente, mas continuava inerte. O desespero tomava conta de mim. Sentia então como um que ponta-pé na bexiga e ela ficando dolorida, como que estando cheia. Os braços e bexiga doiam de forma internitente. Batendo entre pedras, pedaços de madeira e toda sorte de lixo sintia-me zonza. Precisava me manter atenta, mas qual nada. Começava então ter uma visão do horizonte, ao contrário do que deveria ser uma luz no fim do túnel, representava minha perdição. Comecei gritar e me segurar como pude. Até meus dentes se cravavam uns nos outros, numa forma de bruxismo forçado que toda minha articulação temporomandibular ficou em pânico. Minha cabeça doía assustadoramente. Como estava presa somente pelo braço direito, tendo todo meu corpo suspenso por ele, as dores aumentavam a cada instante. E como era comum em mim desde a infância, uma vontade insuportável de fazer xixi começou me incomodar com tamanha força que um diagnóstico de cistite parecia bem apropriado. Minha cabeça começou girar numa velocidade estrondosa, ela era um carrossel de horrores. Enquanto a vertigem tentava me fazer perder a noção da realidade e rolar mar abaixo sem saber que isto estaria acontecendo, uma força descomunal me tomou e eu me manteve ali, presa pelo braço direito, apesar de todos os destroços que eram atirados em mim. Uma ratazana aparecera e mordia meus dedos com certa delicadeza. Foi quando comecei sentir um maravilhoso cheiro de café e pão fresquinho. Latidos ao longe e uma voz que eu não compreendia aconteciam concomitantemente. O sol estava a pino e meus olhos doíam, também sem a camada de ozônio, arre... Foi quando acordei com meu cachorrinho pisando minha bexiga e mordendo levemente meus dedos. A luz de 100 velas acesa exatamente nos meus olhos. Percebi que dormira por horas sobre meu braço engessado e o gesso pegava nas minhas axilas e ombro. Meu filho tinha feito um delicioso café e comprado pão e estava a minha frente com uma badeja para mim. Ufa! Acordei.