O Vinho
Andando pela noite sozinha
De longe avisto um abrigo.
Dele exala um cheiro
Cheiro de tempo antigo.
No caminho ouço as vozes
Daqueles que, por ele, foram fascinados.
Hipnótico e muito envolvente
Todos assassinados.
Lá dentro a púrpura reina
Cada qual em seu lugar, tudo divino.
Desde o hall da entrada
Até a mesa posta, e um delicioso vinho.
Na taça, ainda está quente
O drink puro e imaculado.
Que me foi servido humildemente
E com cuidado foi ceifado.
No primeiro gole a surpreza:
Na boca é doce como mel.
Quando chega em minhas entranhas
É amargo como féu.
Vou sentindo pelo corpo
Vai correndo por minhas veias.
Se a bebida é assim
Quem dirá a ceia.
Na sala a mesa farta
Cabeças, braços, há muita opção.
Mas o que mais anseio
É um pulsante coração.
Em cada pedaço, uma lembrança
Em cada lembrança, uma dor.
A dor de alguém que nunca na vida
Soube o que é amor.
Essa dor contagia meu corpo
E alimenta minha alma.
Pobre criatura infeliz
Mas para mim não faz falta.
O casarão, em mim, não pode tocar
Pois meu ser vivo não é mais.
Sou apenas um espírito perdido
Que nunca mais terá paz.