Antígona e a Cabeleireira (miniconto)
A cabeleireira é uma “conhecida-amiga” de longa data. Rogéria foi cortar e arrumar o cabelo. Tinha o casamento da filha da sua dentista, por sinal também sua “conhecida-amiga”. Sempre considerou o instituto um apêndice da sua casa. Acompanhou o desenvolvimento profissional e pessoal de Ariane. Os cursos intensivos para se aperfeiçoar sempre acontecem nos intervalos de cada gravidez. Cada filho é uma festa, pois cada cliente além de se apaixonar, também mima a cada novo bebe. Neste dia em especial algo acontece. Rogéria lê “O Gozo do trágico” de Patrick Guyomard. No livro, o autor estuda duas personagens trágicas para a questão da psicanálise atual. Inicia o livro contando a tragédia grega de Antígona. Desgraças irreparáveis e grandes provocações marcam sua vida. Desgraça maior foi a sua sentença de morte estipulada pelo rei Creonte. Seria emparedada viva. A voz da aprendiz se faz ouvir: “Rogéria, sua vez!” Ela senta e deixa à jovem lavar a sua cabeça. Fecha os olhos, enquanto, recebe a massagem no couro cabeludo. Fica pensando na história de Antígona. Ariane, então, a convida para sentar em frente ao espelho. Chumaços de cabelos caem ao chão. Lembra de Antígona, que ao enterrar o seu irmão recebe a sentença de morte. Fiel a lei familiar até a morte!Neste momento um perfume a faz voltar. “Lembro da primeira vez que passou esse óleo perfumoso em minha cabeça. Foi no dia da minha formatura na faculdade. Trouxe uma nostalgia tão boa. Qual o nome desse produto?” Ariane responde: ”É o Caritá; um energizante capilar que contém na sua fórmula: laranja, a alfazema e o tomilho”. A essência lhe trouxe o passado no presente, e, com o seu aroma cítrico, uma alegria imensurável. O amor pela vida soa mais forte! Paradoxal ao livro, que lê em que Antígona se entrega a uma morte voluntária!