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A promessa
Um dia eu tive um amigo, que se foi... mais que um amigo, ele pra mim era um irmão!
Rui era 5 anos mais velho que eu e tinha uma resistência pra andar de "bike" que só vendo, faziamos trilhas direto pelas áreas montanhosas de nossa cidade!
Meu amigo tinha um irmão bem mais novo que estava pra sofrer uma cirurgia delicada e fizemos então uma promessa: se ele sobrevivesse, faríamos o maior percurso de nossas vidas, com cerca de 20 kilômetros, chegando até uma mina de água gelada cercada de pedras e lá deixaríamos nossa marca para que nunca nos esquecêssemos! Combinamos que seria um tipo de disputa entre nós, muito comum
nesta minha idade, e quem chegasse primeiro teria o direito de confeccionar a mensagem, a seu modo!
A nossa fé e a de muitos outros ajudou com que tudo corresse bem e o mano de Rui, apenas uma semana após a círurgia, parecia novo em folha e para comemorar, marcamos o desafio pra semana seguinte.
Preparamos duas reforçadas mochilas, com lanches e vitaminas, ferramentas e estepes para as "bikes" e levamos também uma barraca pra acampar e num sábado cedinho demos partida, saindo de uma praça da área central, com direito a torcida organizada por parte de ambos! Uma turma de outros amigos e parentes seguiriam mais lentamente atrás de nós, para uma confraternização, depois regressariam.
A trilha era pesada, passando por diversos trechos escondidos na mata fechada e não demorou muito pra Rui tomar a dianteira da prova, chegando mesmo a literalmente sumir de vista, mas eu não estava nem um pouco preocupado em vencer, na verdade seria muita pretensão da minha parte imaginar-me vencendo, portanto prossegui no meu ritmo, que já era muito forte, reservando energia para os locais mais acidentados!
Depois de uns 15 minutos pedalando, num trecho devido a mata ainda escuro, um pouco depois de uma curva, observei algo brilhando no solo a uns 100 metros a minha frente. Fui seguindo despreocupado quando notei ser um aro ainda rodando, por um capricho do vento talvez, um aro da "bike" de Rui, que se encontrava caída no solo escuro. Olhei em volta e nem sinal de Rui, deveria ser mais uma de suas peças onde eu iria rir muito, mas infelizmente eu havia acertado, era uma peça! Mas do destino, talvez! E ao invés de rir, chorei!
Num barranco ao lado estava meu amigo, parado, como que jogado, me aproximei e o chamei. Em vão, seu corpo estava ali, mas só, sem o pulsar de nada, já sem vida, foi muito estranho abraçar aquele amigo forte e não ser abraçado por ele, foi mais estranho ainda sentir seu sangue gelado molhando minha camiseta com os dizeres: MANO, CONSEGUIMOS!, acho que fiquei uns 15 minutos assim, me esqueci do tempo.
Meu amigo se fora e levara um pedaço de mim, mas deixara muitas imagens alegres, muitos desafios concluídos, antes de voltar pra realidade rezei. O resto da turma chegou quando eu comecava a chorar navamente e meio que abobado, nem soube dizer nada, que eu poderia dizer, nessa hora a garganta seca, as palavras somem e o coração se aperta mais ainda. Já estava com saudades do amigo, que se foi, aquele que eu considerava como um irmão. A festa havia acabado.
Ele não morrera simplesmente, não fora um acidente, havia assustado um grupo que usava drogas pela mata e acabou sendo esfaqueado e atirado de lado, tudo foi confirmado por um dos que se entregaram no dia seguinte. Fora somente um momento de loucura, dissera o envolvido.
Alguns meses se passaram e como diz o ditado "Tudo de bom fica eternamente" e em mim ficaram os melhores aprendizados do amigo. Um deles era o de nunca começar algo e parar na metade e foi assim que num dia comum, eu e seu maninho resolvemos concluir a promessa não paga!
Nos arrumamos e sem correria fizemos o percurso por entre a mata, nem me recordo quanto tempo levamos pois nos perdemos em lembranças e só nos demos conta do quanto rápido fomos quando avistamos a mina, escondida e cercada por pedras, com flores pelas redondezas e as pedras pareciam mesmo formar um ninho no meio, onde constantemente nascia a água mais pura!
Nos aproximamos da nascente e me abaixei, havia trazido uma talhadeirinha e um martelo, com os quais espera ter forças para cravar numa das pedras uma mensagem para o amigo Rui e percebi que bem onde eu me postei, uma mensagem já havia sido deixada aparentemente a algum tempo. Forcei os olhos e li em voz alta:
-- PORQUE DEMOROU TANTO?
Assinado Rui, seu eterno amigo...
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Abraços!