Amor impossível

Voltou-se para casa acelerado, pisando ódio e calçada até lhufas, cuspindo abelha e zangão, estufado de vermes do amor, inchado de raiva e desprezo reviu-se o futuro, gozado até lá e distante até cá nos seus sonhos, a paz lacerada por lampejos de beijos de línguas nas cordas vocais, cujas mãos se saudavam em repulsa. Se tapeasse seu rosto às esconsas fugiria dali o amor impossível, os olhos falantes brilhando à cinta-liga, a boca vermelha mexendo para os outros bom dia e pois não e para ele mordendo um silêncio lascivo que os outros diriam em vão.

Mas sofre e prefere fugir-se a amanhã em refúgio às sombras; e à solidão se avança, ele e consigo, como se dois bastassem para garantir-lhe a burrice. Avança dia após dia em retrocesso, escalando a desgraça para baixo do poço, seguindo seu corpo pujante que gritava para ele o que os outros não viam.

E corre. Corre atrás dela nos sonhos e nos sonhos vai preso por achaques de repressão e moralismo, destinado à masmorra a golpes de rabugice lhe açoitam cruéis a libertínia, sangrando volúpia tantos graus seguisse acima. Cai sem sentidos aqui e acolá lhe sobem a serra e lhe mostram a corda, pendurada num alto de galho lhe sorrindo ao pescoço em prenúncio de heresia. Ouve as sirenes e sufoca num anseio incontido, vermelho e espumante lhe batem no peito e lhe desfibrilam os prazeres da carne, trazendo ao passado um resto de azedo e misto de dor e ponta que lhe passa a cutucar no começo e se deflora ao enfiar-se a mão no peito, trazendo um maço de rosas vermelhas que ela plantara em sinal de desejo.

Paulo Sartoran
Enviado por Paulo Sartoran em 20/11/2009
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