Fios
A roca fazia barulho, enquanto a mulher, sentada na cadeira, fazia com ela uma manta. Usava para tal, fios de ouro, luzidios, finos e sedosos. Cantarolava, enquanto isso, uma velha canção que sua mãe lhe ensinara.
Tinha muito trabalho pra fazer naquele dia. Era a tecelã mais requisitada do reino, por fazer peças de maciez e durabilidade inigualáveis, além de cobrar preços até mesmo desvalorizados por suas belas produções.
O segredo dessa perfeição ninguém conseguira descobrir até então. Linhas como aquelas usadas pela costureira, não se encontrava em nenhum outro lugar. Eram fios sempre sedosos e macios, leves de usar.
Quando era questionada sobre a procedência de sua matéria prima, ria. “Segredo meu”, dizia. E assim, ninguém sabia.
Quando ia-se o cliente, satisfeito e maravilhado, ela sentava na mesa, sorria.
Chegaria logo outro pra fazer uma encomenda. Ela aceitaria, prontamente! E iria naquela noite voltar ao cemitério, violar um novo túmulo, ainda não descoberto, buscar no topo da cabeça de um cadáver, os fios que vestiram mais um vivo.