Framboesas

Quando nenhuma das respostas fez mais sentido, um anjo com jeito de demônio chegou perto e sussurrou no meu ouvido: "fome".

Então tudo ficou claro: o céu sépia e os pássaros parados no ar, o corpo da mulher caída no chão criava raízes, os cabelos eram serpentes azuis e emplumadas. A pele, meu Deus, a pele!! Tinha cheiro de framboesa e gosto tão doce!

Mordisquei os lábios brilhantes cor de amora, e o líquido que vertia de cada mordida, ó Deus, era o caldo das cerejas mais puras do paraíso, era a ambrosia embriagante dos deuses do olimpo, era vida e morte, luz e escuridão!

As pálpebras dela ainda se moviam, liberando estrelas e pó de diamante, que flutuavam em torno das borboletas e vagalumes que teimavam em pousar sobre minha deusa adormecida...

De repente, a deusa lilás foi arrancada dos meus braços.

Estou atrás das grades agora. Um homem grande e uniformizado me pôs correntes nos braços e me trouxe para cá. Acusam-me de assassinato e canibalismo... Não sei ao certo o que querem dizer com isso, mas não os culpo. Na sua ignorância, não sabem quão belos e especiais são certos faunos e ninfas do mundo.

Aperto a mão do meu anjo-demônio bem forte e me aproximo do meu companheiro de clausura, que está adormecido como uma criança...

Meu anjo sussurra: "Que sorte você tem!"

E eu sorrio, aproximando o meu olfato do franzino homem estendido na cama, completamente entregue aos braços de Morfeu - sua pele morena tem um aroma embriagante, extasiante - de framboesas frescas.

Renata Xavier
Enviado por Renata Xavier em 10/11/2009
Código do texto: T1914968
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