Apenas um ser

     Encontrei-o numa esquina da vida. Não tinha um ar miserável, mas parecia que lhe faltava o pão de cada dia. O olhar era tristonho e a tez pálida.  Apesar de não ter briho nos olhos, alegrava-se quando via crianças passarem indo para a escola.  As crianças, dele tinham medo e não lhe retribuíam a mesma atenção. Ele as acompanhava com olhos de quem contempla seres de outro mundo que, talvez, por orientação dos pais, lhe negavam qualquer cumprimento.
     Era um ser misterioso e solitário que vivia nos arredores do bairro sem labutar nem  prejudicar a quem quer que fosse. Abraçava-se à solidão como quem abraça um filho querido. Para quê?  Por quê?  Apenas existia.
     Um dia ouvi-o dizer para uma criança que apertara  o passo quando o avistara.- Não corra, não corra! Sou seu pai. Sou seu herói!
     Não lhe quis falar, porque tive medo de ouvir sua história. Que história teria para me contar?  A que mundo pertenceria? Seria um louco? Ou um ser que carregava algum mistério dentro do âmago de seu interior?
     Anoiteceu! Não sei explicar porque a tristeza me acompanhou até o próximo dia, que amanhecera triste como triste era aquele homem.  Só sei que nunca mais o vi.
Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 27/10/2009
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