Mito da Caverna
Estive na caverna, preso por algumas horas e, a grata satisfação de lá ter estado, criou em mim a ousadia de contradizer Platão. Sim, havia fogueira e imagens refletidas nas paredes, pessoas estáticas com os olhos presos a símbolos e, sem ao menos, a doce tentativa de desafiar a moral.
Doce. Doçura. Sim! Foram essas palavras que me levaram a caverna. Havia uma doce voz, muitas vezes com um tom de mimo, incapaz de se rebelar. Havia olhos amendoados como mel que, em muitas vezes, pela profundidade do olhar, a indignação se fazia presente, mostrando-se um vulcão prestes a explodir. Havia, também, a beleza que respeitava as formas, que ousava as formas, que me fez amar as formas. Afeiçoei-me as formas.
Se as formas fossem tudo talvez a caverna não tivesse sido nada. Não foram as formas que me deram o prazer de adentrar a caverna, mas foram elas que aguçaram o sentido em busca do prazer. As mãos quando tateiam dão ao imaginário a combustão para as viagens as quais perdemos o controle. Oh, doce controle! A doçura da vida esta em perdê-lo!
Desconserte-me com o desejo! Desequilibre-me com a ousadia! E, mate-me com o afeto!
Ao sair da caverna a noite já se fazia alta. Busquei no céu um ponto de luz qualquer para dar sentido à saída. A lua havia se escondido, as estrelas haviam sido roubadas do céu. Só havia um manto negro sem sentido, sem imagens, sem esperanças.
Ah, como posso amar a liberdade se esse vento de primavera me causa calafrios?
Cheguei à finda conclusão. Quero voltar à caverna para ter seus olhos para navegar. Quero voltar à caverna para ter seu corpo para tatear. E, sem dúvidas, quero voltar à caverna para ter sua mente para me rebelar.