Nem só de pão

Antonieta estava andando apressada, olhava para trás insistentemente, parecia estar apavorada. A noite tinha descido há uma três horas e quase não tinha mais pedestres na rua. Tinha se atrasado, porque seu trabalho tinha algumas coisas pendentes e com prazo. Envolvida nas tarefas, não se apercebeu que estava tão tarde. Ela sabia que naquela região e principalmente naquela estrada o perigo era maior. Mas não tinha outro jeito, ou ia e chegava a casa para preparar a comida do outro dia ou, então, teria que dormir no emprego, o que estava totalmente fora de cogitação. Seus filhos e seu marido não a perdoariam. Sua agonia vinha de que um criminoso atacava senhoras na penumbra da noite, às mulheres que ousavam ignorar o perigo. Cinco já tinham sido atacadas e a polícia ainda não tinha conseguido nenhuma pista, o psicopata além de mau era profissional em não deixar provas. Não se falava em outra coisa. Até a mídia nacional já estava acompanhado o caso. Os boatos eram de que o indivíduo era grande, largo, tipo Frankstein, peludo e que grunhia quando atacava ou que era baixo gordo e careca, que quando atacava soltava gargalhadas, já outros diziam que era um extraterrestre, pois duas das mulheres não tinham sido encontradas ainda, e isso queria dizer que teriam sido abduzidas. As três mulheres que haviam sido atacadas tinham dito que não viram o que as atacara, mas que foram pegas de surpresa e num sobressalto, já estavam amarradas, vendadas e recebendo restos de comida no rosto, no corpo, mas era muita coisa, a ponto de elas ficarem totalmente cobertas, a coisa era tão louca, súbita e rápida que ficavam paralisadas, sem reação alguma, e quando voltavam a si, estavam sozinhas cobertas por tomates, molhos, ossos de frango, restos de pizzas, arroz, feijão, pão, legumes etc. e um cartaz em cima, com os seguintes dizeres: Vilis aqua et panis, potus et esca canis. As duas senhoras que tinham sumido, quando apareceram disseram a mesma versão, mas com um detalhe a mais. Depois do susto, desmaiaram e foram arrastadas ainda amarradas sendo deixadas em um local de onde podiam ver crianças pegando restos de comida em um lixão, cada uma num momento e em locais diferentes uma da outra, mas em um depósito de lixo, isso as duas tinham certeza. Assim que conseguiram se desamarrar, voltaram sujas para suas casas com a promessa de nunca mais desperdiçarem comida como antes. Entenderam as autoridades, portanto, qual era a intenção do malfeitor. Antonieta teve mais sorte conseguiu chegar a casa sem ser atacada, no entanto quando entrou teve tempo de ouvir o marido dizendo aos filhos que água e pão comida eram comida de cão, mais sorte... será?