Uma Experiencia de Morte

Esse conto de morte é apenas um teste, e gostaria de criticas e opiniões para historias futuras.

1-Era uma noite chuvosa, mas mesmo assim eu queria sair um pouco, tinha acabado de reatar com minha namorada depois de tanta insistência da parte dela, e para me redimir, achei que era bom levá-la ao cinema. Assistimos um filme de ação por capricho meu, estava querendo ver aquele filme há tempos e essa era uma oportunidade perfeita, ela não gostava desse tipo de filme, odiava violência, e foi mesmo assim.

Acredito que ela se divertiu, porque ao invés de olhar o filme ela passou o tempo todo me encarando com aqueles olhos brilhantes, falando algo que eu não conseguia ler em seus olhos.

Quando o filme acabou estava chovendo, e corremos pela rua ate o ponto de ônibus mais próximo.

Para evitar a chuva pegamos um beco escuro, o grande erro, um homem que apareceu do nada agarrou a bolsa de minha namorada, ela soltou um grito, segurando a bolsa sem querer soltá-la. Ele enfiou a mão no bolso e eu parti para cima dele pronto para socá-lo na cara, foi quando um tiro estrondou no beco e eu senti uma dor aguda em meu abdômen, olhei para minha namorada sem entender, e a vi com as mãos na boca e lágrimas nos olhos, pude ver ainda o bandido fugir com a bolsa, depois disso tudo escureceu.

2-Eu sentia o chão abaixo de mim, e ouvia a voz dela gritando meu nome com desespero, a dor era forte e aguda, eu tentei abrir os olhos, tocar a ferida, mas meu corpo não se mexia, por mais esforço que fizesse, nada adiantava, tentei gritar, mas a boca continuava fechada e nenhum gemido se quer produzia.

Não lembro por quanto tempo fiquei daquele jeito, só me lembro que não percebi quando a dor estava diminuindo, me aliviei um pouco, parei de sentir o chão abaixo de mim, me sentia flutuar na imensa escuridão e isso me desesperou, foi quando vi uma luz ao fundo, apenas um pontinho, e antes que piscasse os olhos ela tinha coberto toda a escuridão.

Cai em uma superfície, não sei descrever o chão desse lugar, era algo que nunca tinha sentido antes, me dava medo e segurança, me firmei e levantei para olhar em volta, era uma beleza, agora estava eu em um infinito branco, não se encontrava nada, não importava para que lado se olha.

Uma coisa interessante aconteceu nesse momento, você se lembra como eram os negativos de fotos? Vídeos mais ou menos daquele jeito passavam velozmente por mim, eu não prestava muita atenção ate perceber que aquela era minha vida,que passava por mim, ou eu passava por ela? Questionei-me sobre isso mais tarde. Não percebi quando acabou, e agora estava novamente no infinito vazio, não tão vazio assim, existia uma mesa branca que se confundia com o ambiente defronte a mim, e uma longa poltrona da mesma cor, que se virou lentamente.

3-Não consigo descrever as feições da pessoa que estava em minha frente, só sei que eram neutras, mas de uma natureza incrível, unicamente esculpida, nunca cheguei a ver uma pessoa com alguma feição parecida com a dele.

Ele estava com as pernas cruzadas de forma elegante e as mãos ao queixo, vestia um terno cor cinza e me fitou bem nos olhos, o que me deixou um pouco desconfortável, o que mais tarde percebi que era vergonha, ele não estava olhando em meus olhos, e sim em minha alma.

Pegou calmamente um grande livro e jogou na mesa, abriu e começou a procura nas páginas que estavam todas em branco, até colocar o dedo em uma delas e um nome surgiu, me espantei com isso.

-Roberto Alves da Silva, 25 anos, morto por volta das 22:30 enquanto voltava pra casa com a namorada.- Isso não foi uma pergunta.

-Morto, como assim morto?- Ele não demonstrou nada ao ver a minha cara de espanto.

-Morto, Bateu as botas, sua vida chegou ao fim, cortaram seu fio da vida, aceite como melhor lhe cair bem.

- Mas como? Eu tinha ainda uma vida toda pela frente.- Ele sorriu e se levantou, sentando na mesa a olhar para mim.

- É o que todos dizem, a verdade é que você não estava fazendo bom uso da sua vida, de novo, então lhe trouxemos para cá, o começo e o fim.

-Começo e o fim?- Perguntei sem entender, tudo o que podia ver era um infinito branco e vazio.

-Saístes daqui e voltastes, simples não?- Se levantou e me mostrou o espaço vazio. –Bem, como posso denominar esse espaço para você? Bem alguns em seu mundo chamam de “purgatório”, é aqui que passam por mim as almas que vão voltar a terra e as que voltam da terra.

-Purgatório? Porque eu? Porque estou aqui?

-Bem..você já roubou, mentiu, traiu, adulterou, e cometeu vários pecados, mas o grande motivo de sua morte foi à falta de amor ao próximo, sim você causou sua própria morte, como é lindo o livre arbítrio não?- Disse isso soltando uma gargalhada que ecoou por todo aquele espaço vazio.

- Eu não posso ter errado tanto.- rebati.

- Sim você errou, mas seus erros não vêm somente dessa vida, você já reencarnou 7 vezes e em todas elas você foi fraco e se deixou levar pela vaidade, Inveja, Ira, preguiça, avareza, gula e luxuria, não necessariamente nessa ordem claro.- Ele sorriu de novo.

- Então você quer dizer eu morri porque errei? Cometi pecados? Quantos não cometeram pecados maiores que o meu? Porque eu estou aqui? Porque morri? Quem deveria morrer são os bandidos quem estão na cadeia, não eu.- Eu estava inconformado, não aceitava essa situação, ele parecia impassível a todos os meus questionamentos, enfim se levantou e me encarou nos olhos, e eu abaixei a cabeça.

-Mas você já cometeu atos semelhantes aos deles ou muito pior, veja.

Ele estendeu a mão e fez um gesto simples, e do nada diferentes mundos, épocas, e situações se passaram diante dos meus olhos.

Vi-me no Egito mentindo para fugir de chicotadas, Vi-me um grande cavaleiro, mas desonrado que matava um amigo pelas costas por moedas de ouro, me vi em vários lugares e fazendo certas coisas que me envergonham de ate citá-los aqui.

Abaixei minha cabeça, envergonhado, não tinha como questionar, sabia no fundo do meu coração que aquelas pessoas nas cenas eram eu, ele fez outro gesto e desapareceram as imagens.

- Vejamos agora os erros de sua ultima vida.

Fez outro gesto só que agora foi diferente, não surgiram às imagens e paisagens mais sim as pessoas, eu em diferentes épocas e as pessoas que estavam naquela situação, naquele determinado momento.

Observei eu ainda moleque cometendo atrocidades de um pentelho, me divertiram aquelas cenas, era um garoto danado, mas aí veio a parte que me envergonho, já na adolescência, estava eu lá, fumando escondido com amigos, observando os pais do vizinho transando pela janela de casa com o binóculo que meu avô me dera, me olhei ainda bebendo escondido, quebrando janelas, um pouco mais velho, me vi roubando por diversão, atacando garotos nas ruas, me vi traindo minha namorada, observei a sofrer, isso doeu meu coração, vi o desgosto dos meus pais perante a mim sem saber o que fazer, a felicidade deles em minha formatura, vi o sorriso em suas faces quando arrumei emprego com meu tio, vi-me roubando dinheiro do meu tio e calculando de maneira que ele nunca desconfiasse, e por ultimo, olhei minha namorada se ajoelhando, se humilhando aos meus pés, e eu me divertindo e me orgulhando disso.

Antes que acabasse eu já estava de joelhos chorando tudo que tinha que chorar, nunca tinha me avaliado e visto que estava errado e isso foi realmente muito doloroso, estava arrependido e o que me doía mais era que não podia voltar atrás, corrigir meus erros, ele pareceu comovido com as minhas lágrimas.

-Bem, eu disse que você causou sua própria morte, então lhe mostrarei o motivo, olhe.

Agora mostrava não minha vida, mas de um homem desconhecido, ele tinha problemas no emprego,e foi despedido. Meses depois estava vendendo tudo que tinha para pagar as contas, quando tinha apenas a casa, sua mulher o traiu e o largou, levando junto com ela os dois filhos que tinha, foi pedir esmola na rua, quando eu entrei na história passava pela calçada com alguns amigos, ele estendeu a mão e pediu ajuda, nos rimos e espancamo-lo, nos divertimos com isso, depois disso ele começou a roubar, juntou dinheiro e comprou uma arma, tempos depois aconteceu à cena descrita no começo da narração, este fora o motivo de minha morte.

Chorei muito, sempre olhei para meu próprio umbigo, e me divertia com o sofrimento dos outros, não enxergava os problemas dos outros na minha frente, depois de muito chorar me levantei decidido.

-Eu aceito minha morte, me leve para onde devo realmente ir.- Tentei me manter firme, ele sorriu.

-Tudo bem, pode voltar para casa.

-O quê?- Estava surpreso, não entendia aquilo.

-Bem você parece arrependido, não vai cometer os mesmo erros, digamos que esse foi seu puxão de orelha para seus erros, lamento mais teve quer ser assim, você não escutava ninguém, vá, aquela porta é a saída.- Me indicou o caminho e se sentou novamente na poltrona e deu as costas para mim.

Eu não precisava dizer nada, me virei e corri com todas as forças para a luz da porta aberta.

4- - olhem, ele esta acordando. – Reconheci a voz de meus pais e o choro de alegria de minha mãe, senti um beijo tocar meus lábios e um sussurro de amor em meu ouvido, abri os olhos e reconheci meus pais, irmãos, amigos e minha namorada no quarto, abri a boca para falar algo, mas apenas uma palavra saiu, juntamente com lágrimas que escorriam pelo meu rosto.

-Desculpe-me.