Pêndulo

Pêndulo

‘’um pequeno devaneio’’

Sonho, pesado e febril

Suspenso e mórbido

Confuso e sórdido

Realidade, desperta e febril

Há dia em que acordamos e duvidamos de nossa existência, todas nossas memórias e ambiente ao redor parecem um triste sonho cinza com um pequeno gosto de nostalgia. Duvidamos de nossas memórias e perguntamos se realmente algum dia estivemos vivos.

‘’um pequeno despertar’’

Queima a carne e alma

Ilude o tempo e espaço

Corrompe qualquer laço

Desfaz toda calma

Hoje estou aqui, desperto, e cociente da realidade e da destruição em minha volta. Não sei como aconteceu, mas sei que é real e cruel.

O odor pútrido dos cadáveres, o sangue em minha roupa e a dor em meu corpo são insignificantes comparadas ao cenário que o mundo se tornou. Calçadas e ruas infestadas de corpos mutilados, prédios e casa em ruínas e o estranho manto de poeira dos destroços são provas mortas de que alguma coisa imensamente terrível ocorreu. O que torna a situação mas desesperadora é o terrível silencio que se faz, que permite apenas o escutar de minha respiração e o fantasmagórico ruído do vento de encontro com o que resta das folhas das arvores..

Por mais que tento me lembrar de como tal desastre aconteceu, nenhuma imagem de bomba, guerra ou juízo final divino se forma em minha mente, me recordo apenas do ultimo passeio que fiz com minha família. Estávamos passeando por um lindo parque, eu carregava meu filho em meus ombros e minha mulher caminhava um pouco a frente, observava as belas flores que enfeitava o parque. Essas são minhas ultimas lembranças, agora me pergunto onde será que minha família está.

Caminhando por entre cinzas e destroços de prédios tenho procurado sinal de vida a quase uma semana.Caminhei talvez centenas de quilômetros gritando por nomes conhecidos,chamando pelos meus amigos e família,e depois de muita procura e gritos eu os encontrei,mas não da maneira que eu esperava.O primeiro que encontrei foi meu pai,seu corpo estava boiando sobre a superfície de um lago junto a outros corpos desconhecidos,depois de muito custo consegui resgatar seu corpo pálido,lhe faltava os olhos e em seu corpo havia marcas de pequenas mordidas.Será que os peixes sobreviveram?Enterrei seu corpo próximo a esse lago. Dias depois encontrei minha esposa, estendida sobre uma praça vestida com seu belo vestido verde. Parecia ter morrido dormindo, não havia nenhum dano em seu corpo e nem sinal de processo de decomposição, beijei sua testa e a enterrei em um lugar longe das ruínas. Por sorte ou azar no dia seguinte enquanto procurava comida encontrei meu bem mais precioso. Lá estava aquele pequeno corpo tão familiar que por tantas vezes abracei e que orgulhosamente eu chamava de filho,abracei seu corpo pela ultima vez e chorei,chorei como nunca chorei em minha vida, demorei algum tempo para ter coragem de enterrá-lo quando fiz derramei mais lagrimas. Lagrimas desnutridoras de almas.

Hoje me juntarei a eles, não posso ser um adão sem Eva, um pai sem filho ou um amigo solitário. Vou tornar a extinção completa.

Há alguns dias encontrei um revolver em perfeito estado e com munições, o guardei caso você preciso, e sinto que minha cabeça está precisando dela.

‘’um pequeno infinito’’

É como um avesso

Um dejavu do passado

Um espelho do futuro

Feito de desespero

É tão frio o cano da arma em minha boca, posso sentir o gosto da pólvora, meus dedos estão hesitando em puxar o gatilho, conto até três e... ''bang'‘. Abro os olhos, e vejo que continuo em meio as ruínas, vivo, não sei o porquê, mas não morri. Tentarei outro método. Consigo subir até um prédio quase intacto e lá em cima no terraço tomo coragem pra pular, e pulo. Sinto um frio na barriga e o vento em meu rosto, o chão parece cada vez mais próximo. ''ploft''

Abro os olhos, meu corpo está intacto, olho pra cima e vejo o prédio do qual me joguei, meu corpo deveria estar esmagado, com tripas para todos os lados, mas eu continuo respirando. Tentarei pela ultima vez dar cabo a minha vida.

‘’Ele caminha procurando uma corda e encontra uma resistente o suficiente pra sustentar seu corpo, escolhe uma arvore alta e sobe nela, amarra uma ponta da corda em um galho e na outra ponta faz um laço tipo forca e o passa em seu pescoço, ele pula do galho em direção ao chão.

Seus pés não chegam ao chão, ele fica ali, pendurado pelo pescoço, sem forças pra desfazer o laço ou subir pela corda, o ar não chegam a seus pulmões, seus olhos continuam piscando, o coração ainda bate e o cérebro ainda trabalha, mas agora sem escolha vai passar toda eternidade balançando pra lá e pra cá feito um pêndulo. ’’

Nando Paiva
Enviado por Nando Paiva em 18/09/2009
Código do texto: T1817495
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.