||||||||“Nascer de novo, no Ano Novo"
Ricardo e Carmem, moradores na vizinha cidade de Rio Grande, casados a mais de trinta anos, viviam em total harmonia e sempre que lhes era possível compartilhavam seus fins de semana, acampando e pescando nas praias da região. Cassino, Mar Grosso, Laranjal ou São Lourenço, eram seus locais preferidos . Não perdiam nenhuma festa de revellion na sua praia do coração: Cassino. Mas, naquele ano, seria diferente, pois seu único e adorado filho,o Marquinhos; como era chamado por todos, os haviam transformado em avós. Marquinhos ,logo após sua formatura na universidade, casou-se com a Esther. Uma menina bonita e prendada, que conhecera na turma de biologia. Foi um momento diferente nos corações de Ricardo e Carmem, um misto de alegria pelas conquistas do filho, somada a tristeza do seu afastamento e ao fato de terem ido morar tão longe deles. Aquele final de ano ficaria marcado para sempre em seus corações e lembranças. Revisaram o carro, as malas, os presentes e trataram de acertar os últimos detalhes para a longa viagem de 360 quilômetros, até a cidade de Santa Maria; no coração do Rio Grande do Sul. O mecânico havia entregue o carro um pouco antes das 14;00 ,e por esse motivo haviam atrasado um pouco a partida . O dia estava abafado, o ar úmido, junto com as nuvens carregadas ,não eram um bom presságio para o ultimo dia do ano, daquele 31 de dezembro, de 2006. Mas, para eles, isso eram apenas detalhes, que passaram despercebidos ,tal a euforia de poder passar o revellion junto ao neto. Seria a primeira vez que iriam entrar o Ano Novo fora do Cassino, mas isso também era irrelevante , perto do fato de rever o filho , a nora e conhecer o Ricardinho.
Estavam na metade do caminho, em uma estrada sinuosa e cheia de aclives e declives, quando o céu escureceu repentinamente e o vento começou a soprar com tanta força que o carro oscilava perigosamente e Ricardo, que mesmo estando em velocidade normal, tinha muita dificuldade para controlar o volante. A chuva se fez intensa, prejudicando a visibilidade e transformando a estrada num verdadeiro inferno. Carmem, que mal terminara de recomendar que estacionassem o carro, viu o vulto de um cavalo surgir à sua frente. Ricardo tentou desviar, saiu da estrada e,... o carro capotou!
Algum tempo depois, Carmem acordou , e ao chamar por Ricardo, ouviu-o dizer que estava tudo bem e que tinha só alguns arranhões. Beliscou-se para ver se estava viva, constatando que também ela não tivera um ferimento, ou arranhão sequer. Desceram do carro, um pouco tontos ainda e puderam constatar que por muito pouco, não haviam caindo em um enorme precipício. A chuva e o vento amainaram. O carro, tirando o susto e os amassados, parecia estar ainda em boas condições. Foi um milagre ,um verdadeiro milagre o que aconteceu com eles. Tornando-se maior ainda, ao surgirem dois jovens, fortes e sorridentes, que se ofereceram para colocar o carro na estrada novamente. Avisaram a concessionária da rodovia e um pouco depois, Ricardo e Carmem, puderam seguir até uma pequena cidadezinha próxima dali . Antes, tentaram agradecer aos jovens e não viram nem rastro deles, notaram apenas duas pequenas cruzes na beira da estrada, há poucos metros do acidente. Olharam para o céu, já limpo e rezaram a Deus agradecendo. Enquanto o guincho transportava seu carro deram um ultimo olhar no local Deixaram o carro na pequena concessionária da cidade e entraram em contato com seguradora, que lhes proporcionou um carro novo para poderem prosseguir a viagem.
Ao chegarem na casa de Marquinhos, os primeiros espocar de foguetes anunciavam a entrada do Ano Novo. Abraçados ao filho e a nora , contemplaram o sorriso brotado nos lábios do neto ,que parecia querer dizer-lhes:
-Parabéns, ao Ano Novo, à mim e a vocês meus queridos que... nascemos de novo!
Enquanto os foguetes e rojões espocavam lá fora , Ricardo e Carmem contavam tudo o que havia acontecido aos filhos , entre um gole de champanha , uma gargalhada e aquele sorriso maroto do Ricardinho.