COLO E SEMÁFOROS
Revezava hora nos ombros hora nos braços, feliz em seu pai.
Não fosse criança, revisse distante, cadenciando o soluçar das lágrimas substitutas do riso, olharia perdido. Numa ciranda, conduzindo a dança, perder-se nas mãos. A troca transforma, o tempo gira um ciclo completo de vinte e quatro horas.
No dia 24, puxando pela proximidade, elegantemente vestido, passo febril, a espera da noiva — uma semana — ciclo gerado.
Carros correm perdidos. Os motoristas se perdem.
Os viadutos sibilam.
Os olhares acompanham o parabrisas. O tiquetaquear do parabrisas em seu 2/4 de hora. Uma meia vida. Cinquenta anos. Cinzenta cidade. Cinzento tempo.
O peso nos ombros. Labirintite. Tendinite, gonorréia, cura, hospital... Busca de palavras: acidente, recuperação, crescimento, impotência, remédios, febre. Febril. Porcos.
As motos costuram o caminho. Tecido de festa, de feriado. A gala da noite. Uma sexta-feira. Vinte e quatro horas, 50 anos, 20 anos o filho.
Bandeiras tremulam. Buscar no âmago, o íntimo perdido. Glória do tempo, da vida gasta, do parabrisas relógio, tempo escorrendo água, vertendo o choro do menino que cresce e o colo em que não mais cabe e não mais quer.
Menino de colo olhando a solidão dos semáforos.
Brilho no escuro, faróis de felino. Selva/concreto. Setas. Caminhos e luzes e piscar de relâmpagos nas costas do germe nos ombros molhados.