COLO E SEMÁFOROS

Revezava hora nos ombros hora nos braços, feliz em seu pai.

Não fosse criança, revisse distante, cadenciando o soluçar das lágrimas substitutas do riso, olharia perdido. Numa ciranda, conduzindo a dança, perder-se nas mãos. A troca transforma, o tempo gira um ciclo completo de vinte e quatro horas.

No dia 24, puxando pela proximidade, elegantemente vestido, passo febril, a espera da noiva — uma semana — ciclo gerado.

Carros correm perdidos. Os motoristas se perdem.

Os viadutos sibilam.

Os olhares acompanham o parabrisas. O tiquetaquear do parabrisas em seu 2/4 de hora. Uma meia vida. Cinquenta anos. Cinzenta cidade. Cinzento tempo.

O peso nos ombros. Labirintite. Tendinite, gonorréia, cura, hospital... Busca de palavras: acidente, recuperação, crescimento, impotência, remédios, febre. Febril. Porcos.

As motos costuram o caminho. Tecido de festa, de feriado. A gala da noite. Uma sexta-feira. Vinte e quatro horas, 50 anos, 20 anos o filho.

Bandeiras tremulam. Buscar no âmago, o íntimo perdido. Glória do tempo, da vida gasta, do parabrisas relógio, tempo escorrendo água, vertendo o choro do menino que cresce e o colo em que não mais cabe e não mais quer.

Menino de colo olhando a solidão dos semáforos.

Brilho no escuro, faróis de felino. Selva/concreto. Setas. Caminhos e luzes e piscar de relâmpagos nas costas do germe nos ombros molhados.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 26/08/2009
Reeditado em 27/08/2009
Código do texto: T1775616
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