Incendiaram o Cabaré

Paulo 32 anos morador de Muribeca finalmente era bacharel em direito. Foram longos 12 anos de luta, seus professores o classificaram ironicamente como “insistência viva” ele até precisou fazer um vestibular a mais para terminar seu sonhado curso, afinal pela primeira vez alguém na faculdade havia sido jubilado.

Enfim, a notícia de que terminara o curso para quem o conhecia foi uma grande festa, até os faxineiros da faculdade se emocionaram em saber. Os seus professores sentiam-se aliviados já que o Paulinho era um dos filhos do único magistrado da cidade Dr.Bráulio.

O Dr.Bráulio viúvo nunca acompanhou de fato a educação de seus filhos e achava que o Paulinho era perseguido pelos professores e por isso procrastinava análises, despachos ou encaminhamentos quando percebia que um dos professores era o advogado de defesa ou de acusação de algum processo que chegasse em suas mãos.

O Paulinho era denominado pelos seus colegas como o único “aluno profissional”, muito habilidoso ele sempre era o primeiro a cortar cabelo dos “bichos”, e explorá-los em pedágios recolhendo a grana para a festinha, ele também orientava os calouros de como montar uma república, e conseguir atestado médico igualzinho aos verdadeiros.

Os professores cansaram de fazer revisões em suas provas, ele sempre dizia que podia até repetir, mas daria uma boa canseira no professor.

O Paulinho sabia de cabeça todas as datas das festinhas do Diretório Acadêmico, eles lhe confiavam até a chave da sala de sinuca.

Neste último dia de aula podia-se ver na faculdade uma mistura de alegria e comoção, alguns de seus amigos alunos tinham tristeza aparente, afinal era o Paulinho humorista, cantor, dançarino, palhaço, ator, e o mais criativo de todos que sempre estava pronto para animar as festinhas de última hora.

A Elza cozinheira da cantina estava bem abatida, ela sabia que se Paulinho não pagasse hoje ela jamais iria ver a cor do dinheiro que ele devia.

Já os professores todos com uma sensação de dever cumprido sorriam nos corredores e se confraternizavam.

Os representantes do diretório acadêmico conseguiram reunir 120 amigos numa festa de despedida no cabaré próximo a faculdade, e foi a melhor festa já vista até hoje naquele local, e em homenagem ao Paulinho foi criado uma festa anual pelos alunos da sua ex-faculdade “Vamos incendiar o Cabaré” a balada ficou tão famosa que hoje até alguns professores de outras faculdades também participam.