Fábula Contemporânea 4
Fábulas Contemporâneas 4
Ovelhilde, lanzuda, escura e mansa era amiga virtual de Cabralda, uma jovem, elegante e despachada a fazer fé nas mensagens enviadas. Entendiam-se, divertiam-se e trocavam as confidências mais cabeludas. E-mail para cá, telefonema para lá, acabaram por decidir ser uma ocasião ideal para se conhecerem, ao vivo e a cores. Ambas estavam seguras da amizade que sentiam uma pela outra e, portanto, eliminados os riscos de decepção mútua, acertaram os pormenores e rumaram ao ponto de encontro.
Ovelhilde, com uma rosa vermelha, chegou cedo. Esperava poder apreciar a entrada de Cabralda com a última revista “Caras” bem visível. Sentou-se na mesa combinada e, aguardou confiada e calma. Viu muitas que bem poderiam ser a sua amiga, tão jovens, tão “up to date”, mas… nenhuma exibira a revista. A certa altura sentiu, por intuição, que estava a ser observada, classificada e ruborizou-se na expectativa da aprovação final. Em vez disso, Cabralda, desdenhosa, enrolou a revista e disse, alto e bom som: “ Era o que me faltava, além de ovelha e morena, é velha e mal vestida. Já conheço muita gente!”. E saiu muito cabra de si.