H1N1
Silêncio. Todos escreviam ritmicamente. Eu os olhava embevecida. Como eram lindos meus pré-adolescentes do 6º ano. Produziam uma narrativa surreal. Ao longe uma cigarra cantarolava, homenageando a manhã dourada e tépida.
De repente fixo meu olhar no último aluno da fileira da janela. Estava estranho, vermelho, suarento, agitado. Resfolegava. Interessante é que ninguém percebia nada! Chamei-o, mas ele virou a cabeça na minha direção e voltou a escrever, a tentar , pelo menos. Observei a sala toda. Silêncio. Não houve sequer um movimento. Continuavam escrevendo...
Não queria, mas meus olhos pousaram novamente no garoto. Agora parecia estar com o rosto inchado e inchando diante de mim. Suas narinas gotejavam excessivamente. Suava muito. Ele gemia e me chamava. Eu, estranhamente, não conseguia mais me mover ou imitir um som! A sala permanecia imóvel e muda como se fossem bonecos decorativos.
O dourado do dia foi substituído pelo negrume. Raios riscavam o céu. Credo, que mudança brusca e absurda, pensei!
Meu aluno agora encarava-me com olhos esbugalhados. As narinas liberavam um líquido cintilante e viscoso em proporções intrigantes. Não havia como impedir aquele fato. O chão começava a se molhar com aquilo. Desespero. Não conseguia me mexer, apenas observar aterrorizada. Pontículos brilhantes subiam do chão, como um despertar de estranhos micro-insetos; instalando-se sobre a cabeça de cada um de meus alunos. Paranóia. Parece que fui chumbada neste lugar! Cada criança tocada pelos pontos cintilantes, começava imediatamente a gotejar pelas narinas e a inchar.
Lá fora, a manhã se fizera noite. Aqui, o chão era uma imensa goma brilhante. Todos agitavam-se ferozmente. Tosse, gritos. Pânico geral! O que poderia fazer numa situação daquela? Sentada sobre a mesa, avaliava aquele caos.
Repentinamente corpos caiam inertes, ceifados por aquele monstro.
Chegou sorrateiramente e levou desapiedosamente meus amados meninos...
Maldito vírus H1N1....
(Thera Lobo -18/08/2009)