Charles, Anjo 7.62 (final)

A fuzilaria já durava meia hora e em pânico, muitos motoristas haviam abandonado seus carros e fugido à pé. Outros deram marcha-a-ré e voltaram pela contramão. Felizmente, às onze da noite de uma segunda-feira, o tráfego naquela importante via expressa estava bastante reduzido.

Entrincheirados por trás das radiopatrulhas, os policiais respondiam ao fogo pesado que vinha da favela em frente.

Aparentemente alheias às balas de fuzil que cruzavam o espaço, duas mulheres aguardavam dentro de um Volvo preto estacionado bem na linha de tiro.

- Não vai dizer nada? - Perguntou Inga.

- Eu estou cansada - respondeu Helga, impassível. - Acho que estou ficando velha para esse tipo de serviço.

- Então esta é a minha vez de escolher - disse Inga, saboreando o momento.

- Faça as honras da casa - retrucou secamente Helga.

A porta do carona abriu-se e Inga saiu do carro, cabelos flutuando ao vento, enquanto as balas assobiavam inofensivamente ao seu redor e através dela.

Viu o pequeno grupo de traficantes entocaiados por trás de uma mureta de concreto, estendeu o braço direito e apontando para um deles, disse em voz firme:

- Eu escolho você.