Charles, Anjo 7.62 (IV)
Era meia-noite e a ponte sobre a baía quase desaparecia em meio a bruma.
O rapaz não se surpreendeu ao perceber que não havia tráfego algum - indo ou vindo. E, na praça do pedágio, apenas uma das bilheterias estava aberta. Naturalmente, foi exatamente ao lado dela que o carro parou.
- Carne fresca chegando! - Saudou o operador, um homem grande num uniforme preto. - As damas vão pagar o pedágio?
- Põe na conta - disse Inga. - Estamos com pressa. E, por favor, não cante...
- "We're getting a bit short on heroes lately" - gargalhou o operador, levantando a cancela.
O carro acelerou e desapareceram num vasto banco de neblina.
Quando a bruma se ergueu, Charles percebeu que estavam entrando numa grande cidade que ele, com certeza, sabia que não ficava do outro lado da baía. Imensas torres de vidro e aço erguiam-se para as estrelas de uma noite límpida, com a maior parte de seus pavimentos ainda iluminados naquela hora tardia da madrugada.
E todo o trânsito, verificou, era composto de automóveis Volvo pretos, como aquele em que estava.
Finalmente, entraram na garagem subterrânea de uma das torres e o veículo parou numa das vagas. Inga e Helga desceram.
Charles tirou as chaves da ignição e as devolveu à dona.
- Preste atenção - disse Helga. - O que vamos dizer agora é muito importante.
- Estou ouvindo, tia.
- Tia é a PQP - disse Helga secamente. - Você foi recrutado como soldado do nosso Chefe. Ele precisa de gente valente como você para defender a cidade quando a Invasão começar.
- Invasão? Invasão? Quem vai invadir? - Perguntou Charles, nervoso. Ele entendia muito bem o que isso significava. "Bondes" de carros roubados. Ataques à traição no meio da noite. Fuzilaria. Mortes.
- "Quem" não interessa - prosseguiu Helga. - Você é meu e eu o escolhi. Mas, há um outro grupo aqui na cidade. É uma turma que se acredita muito segura e pensa que a Invasão nunca vai acontecer. Eles vão tentar te convencer disso. Não os escute!
- E se a égua no cio se interessar por ele? - Questionou Inga, abaixando rapidamente os óculos.
- Se ela fizer isso de novo... - sussurrou Helga.
Havia uma outra mulher na parada, avaliou Charles, abrindo um vasto sorriso de ironia.
E a durona Helga parecia disposta a sair na mão por causa dele.
{continua)