Menina e mulher
Menina e mulher I
O mundo tem mistérios que às vezes ninguém explica e estou certa que um dos mais absurdos aconteceu comigo.
Até os meus dez anos sempre levei uma vida normal e fazia tudo que as garotas da minha idade faziam: brincava de boneca, pulava corda e vivia me desentendendo com os meninos.
No dia vinte e quatro de outubro de mil novecentos e noventa e seis eu fui dormir da mesma maneira que vinha fazendo por toda a minha vida, mas por algum motivo que eu não saberia explicar, foi a noite mais estranha que já tive. Eu faria onze anos no dia seguinte, mas acordei com vinte e um. A primeira coisa que senti foi dor. A dor de ter todos os meus órgãos esticados e também a dor que eu sentia por estar usando uma calcinha apertada demais. Então veio a necessidade urgente de encontrar uma tesoura. Corri até o escritório da minha mãe (já que no meu estojo eu só tinha tesoura sem ponta para cortar papel) e cortei minha calcinha. Foi aí que eu conheci os meus pêlos pubianos. Corri de volta para o quarto e comecei a explorar as mudanças mais assustadoras. Além dos pêlos, haviam crescido também os meus seios e aparecido o meu primeiro desgosto de mulher: eu estava cheia de estrias.
Menina e mulher II
Outra coisa que me assustou no meu “novo corpo” foi o aumento da minha libido: de repente eu passei a sentir uns arrepios ao ver passar aqueles jovens saudáveis e cheios de vida...
Comecei a procurar namorados, mas logo me dei conta de que era algo muito mais difícil do que eu imaginava. Acho que as outras, que envelheceram antes de mim, foram mais espertas e pegaram logo todos que prestavam e eram heterossexuais. Primeiro eu pensei em “converter” um gay, mas depois vi que era mais fácil, lógico e saudável converter um não-gay, mesmo. Resolvi me contentar com os homens comuns e até que me renderam boas experiências, mas a vida útil dos relacionamentos era muito curta. Em menos de um ano o prazo de validade expirava e eu tinha que sair correndo. De vez em quando uma das mais experientes abria mão dos seus e eu conseguia fisgar, mas eu não era competente o suficiente para segurá-lo e em pouco tempo ele me escapava.
Desisti da pesca muito cedo, mas não virei vegetariana, ainda tenho a esperança de que um peixe vai sair da água e vir pulando até mim. Não que isso seja provável, mas até lá eu me faço de celibatária.